A Nação ainda não se recuperou e provavelmente sempre será
lembrada por décadas e décadas da enorme tragédia ocorrida no município de Brumadinho
em Minas Gerais, pelo rompimento da barragem da Vale. Centenas de vidas foram
ceifadas, os danos materiais a serem contabilizados se mostrarão milionários e
os estragos ambientais irreparáveis.
Esta tragédia se soma ao rompimento das barragens da mesma
empresa no município de Mariana, que igualmente causaram um dos maiores danos
ambientais registrados no planeta, há três anos atrás.
As discussões sobre o assunto não tem fim. Engenheiros,
políticos, administradores, jornalistas, técnicos em segurança, ambientalistas
e sobretudo os cidadãos, entre tantos outros procuram encontrar
justificativas e explicações sobre o ocorrido. Mas a triste
realidade é, que esta nova tragédia assim como a de Mariana, espelham a
situação caótica em que se encontra a estrutura administrativa e regulatória tanto
na esfera pública quanto privada em nosso País. Tão desorganizada o todo é, que
até hoje após três anos do ocorrido em Mariana, ninguém foi punido, as
reparações não foram feitas e assim por diante. Que descaso com a coisa, com o
ser humano e com a natureza!
Buscamos culpados e eles existem. Não estamos falando de um
acidente que foge totalmente do controle de qualquer um, mas de uma tragédia
anunciada, como tantas outras que poderão ocorrer se nada for feito a curto
prazo. Uma grande cadeia que se estende desde nosso Congresso, poder executivo,
agências regulatórias, etc. passando com igual ou maior intensidade pela esfera
privada tem culpa no acontecido.
Logo após o ocorrido correram notícias de que toda a
Diretoria da Empresa deveria ser imediatamente presa, por ordem do governo
federal, o que de fato não ocorreu. Alguns engenheiros, justamente o
injustamente foram colocados atrás das grades, suspeitos de serem culpados. Mas
temos que analisar a questão do ponto de vista da responsabilidade. Esta recai
sobre a administração da empresa, englobando sua gestão e sua governança.
Queira ou não, o presidente, os diretores, o conselho de administração como
responsáveis últimos da Vale deverão ser afastados de seus cargos
definitivamente ou temporariamente até que os fatos sejam esclarecidos.
O conselho de administração, representa os tantos milhares
de sócios, devendo zelar pela correta condução administrativa e estratégica da
organização. São algumas poucas pessoas que formam o conselho e que precisam se
envolver com inúmeras questões táticas e estratégicas de uma empresa. Pelo volume
dos assuntos a serem tratados, são criados comitês para discutir, avaliar,
auxiliar e assessorar o Conselho de Administração, os Diretores e sobretudo a
presidência nas inúmeras questões colocadas em pauta. E dentro dos comitês que
foram criados sob a égide da Boa Governança Corporativa estão entre outros o
comitê de Sustentabilidade e o comitê de Governança, Conformidade e Risco.
Vejam só. A empresa, pelo menos em sua estrutura de governança está mais que
aparelhada para lidar e zelar com os diversos aspectos que levaram ao
rompimento das barragens e suas trágicas consequências. Agora cabe aos órgãos
competentes analisar o histórico da atuação dos comitês, do conselho e de toda
a gestão da Vale.
Os membros do Conselho, dos Comitês e da própria gestão
incluindo o presidente da empresa, deveriam colocar de imediato seus cargos à
disposição para que uma varredura que levaram aos acontecimentos pudesse ser
feita. A disponibilização dos cargos seria ao meu ver um gesto ético e
condizente com a boa governança corporativa da empresa, mesmo sabendo que
poderão ser julgados e criminalizados.
Somente o tempo dirá se estamos diante de uma nova Mariana,
onde imperou a impunidade ou se de fato as coisas estão mudando. Temos que
julgar a apontar os culpados que terão que pagar pelos seus erros ou sua
negligencia, sejam eles da empresa, prestadores de serviços ou membros do
governo.
*Thomas Lanz é fundador da Thomas Lanz Consultores
Associados, empresa especializada em governança corporativa, gestão de empresas
médias e grandes no Brasil.
(Colaborador)