Independentemente do resultado final das eleições para
Presidência da República, qualquer dos eleitos deve enfrentar dificuldades para
aprovar propostas na Câmara dos Deputados, principalmente as relacionadas às
reformas e a direitos de segmentos mais vulneráveis da sociedade. Nas urnas, os
eleitores acabaram optando por renovar mais de 40 dos deputados federais.
Nesse universo, incluíram seis novos partidos na Casa. A partir de janeiro de
2015, as atuais 22 legendas representadas por parlamentares passarão a ser 28.
|Houve uma pulverização partidária e a governabilidade
ficará mais difícil|, explicou o analista político Antonio Augusto de Queiroz,
diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar
(Diap). |Os grandes partidos encolheram, especialmente PT e PMDB, e houve
crescimento de pequenas e médias legendas. Isso obrigará o futuro presidente da
República a negociar com eles, que não se pautam por questões programáticas ou
ideológicas|, alertou.
Com as votações nos estados, o PT continua tendo a maior
bancada na Câmara, com 70 deputados, mas perdeu assentos. Na atual legislatura,
o partido tem 88 parlamentares. O PMDB também teve a bancada reduzida, passando
dos atuais 71 para 66 deputados. Entretanto, permanece como o segundo mais
representado na Casa. O PSDB aumentou de 44 para 54 deputados o número de
parlamentares na Câmara.
A força das pequenas e médias legendas ocorrerá no caso
de alianças. Partidos novos, criados depois das eleições de 2010, como
Solidariedade, Pros e PEN, elegeram, respectivamente, 15, 11 e dois deputados
federais. Entre as pequenas bancadas, também estão incluídos PDT, com 19
parlamentares, e PRB, com 20. |Se formam uma aliança, superam os grandes com
facilidade. A consequência é que a possibilidade de reformas, principalmente a
reforma política, fica reduzida, porque esses partidos podem entender que serão
prejudicados, impedidos de se eleger nas próximas eleições|, avaliou Queiroz.
Na opinião do analista, outro aspecto, que pode ser avaliado como má notícia, é
o perfil de grande parte dos novos deputados.
|Alguns são pastores evangélicos, apresentadores de
televisão, especialmente de programas policialescos, ou parentes de políticos
famosos [mais de 70 deputados]. Isso tornará o próximo Congresso mais
conservador|, afirmou Antonio Augusto. Lembrou a eleição de nomes como o de
Celso Russomano (PRB-SP), deputado federal mais votado do Brasil, com mais de
1,5 milhão de votos, e Jair Bolsonaro (PR), defensor da ditadura militar, que
teve 461 mil votos e foi o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro.
Outro exemplo é o caso do pastor Marco Feliciano. Depois
do período polêmico à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, obteve
quase o dobro dos votos conquistados nas eleições de 2010, somando no pleito de
ontem (5) 392 mil votos.
Queiroz salientou que, caso as previsões sejam
confirmadas, propostas sensíveis como aborto, maioridade penal e direitos de
lésbicas, gays, bissexuais e travestis (LGBT) correm o risco de paralisação. |Houve
esse expressivo crescimento de setores mais conservadores e uma redução da
bancada ligada aos movimentos sociais. Partidos de esquerda perderam mais
deputados desses setores sociais. Embora representativa, a renovação não é,
necessariamente, qualitativa|, assinalou.
Os resultados divulgados ontem pela Justiça Eleitoral
ainda podem ter modificações. A conclusão depende do julgamento de candidaturas
analisadas pela Lei da Ficha Suja, como é o caso do deputado federal Paulo
Maluf (PP-SP). (Rede Brasil Atual)