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Data de Publicação: 03/07/2021

Tarde de Chuva: Crônica do Cotidiano Interior

São paisagens quase sempre áridas. Quando não pela inclemência do sol canicular, pela marca natural de seus homens. Homens calados, macambúzios, sofrendo no silêncio a própria dor de existir. "Daí por que o sertanejo fala pouco: / as palavras de pedra ulceram na boca / e no idioma pedra se fala doloroso", ensina João Cabral de Melo Neto, certamente um dos mais perfeitos desses tantos cronistas que tomam para si a árdua tarefa de desvendar o povo do silêncio.

No livro Tarde de Chuva, Luiz Eudes toma-se do ofício de escrevinhador para botar mais uma colher neste vasto e espesso angu que é a alma do sertanejo. Ele fala do Junco, e não de Sátiro Dias, como pode pensar um leitor desavisado. Sua prosa vem de tempos pretéritos, onde a maior das tecnologias escudava-se numa câmera fotográfica que ainda carecia de filmes a serem rebobinados. Montados em cavalos ou caminhando a pé, homens e mulheres preservam medos e sentimentos que herdaram de avós longínquos, e guardam estas tradições como tesouros, botijas que desenterram de um chão muito antigo.

A persistência em falar de antigas crenças e tradições imemoriais transforma a prosa de Luiz Eudes num cantar moderno, contemporâneo. Ele diz de coisas passadas, é certo, mas igualmente acontecências que continuam a existir, não como depoimento de um passado, e sim como sentimento profundo do hoje. Os presépios, os amores infantis, as assombrações, tudo ainda está nas paredes do Junco e na alma dolorida de quem lá ficou.

Algo se destaca nessas narrativas, o riso discreto, o humor suave, sem gargalhadas, tão sertão. Toda e qualquer sociedade tem seus loucos, seus desvairados, seus místicos, seus desastrados, seus oportunistas. E Luiz poderia falar de qualquer cidade, enfim. No entanto prefere permanecer com os pés no sertão, onde toda essa gente deita um tanto de alegria na fortaleza natural dos dias.

São contos de saudade, sim, mas o autor fala de um cotidiano que acontece, que continua impregnado em sua pele, e resvala nele todas as horas do presente. E diz isso de maneira poética, com o lirismo que o sol quente e luminoso não conseguiu apagar. Enfim, um texto que se lê como quem prova de todos os sabores da terra, algo amargo, mas que pacifica todos os rudes sentimentos.

Quem nasceu e viveu numa cidadezinha perdida no meio da poeira nordestina, sabe bem do que fala Luiz Eudes. Ele fala de almas que embalam sonhos, desejos de seguir em frente. (Mauricio Melo Junior-jornalista)

Foto: Divulgação

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