O senador Sérgio Moro (União-PR)
tentou se consolidar como a terceira via na disputa presidencial de 2022.
Queria enfrentar a polarização que domina o país entre o atual presidente, Luiz
Inácio Lula da Silva, e o antecessor, Jair Bolsonaro. Os dois lados acabaram se
voltando contra o ex-herói do país, considerado, durante muito tempo, o algoz
dos corruptos brasileiros.
Na sessão de 1º de abril - que
deve se estender por mais dois dias - o ex-juiz da Operação Lava-Jato vai
responder no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná, por condutas graves:
abuso de poder econômico, caixa dois e uso indevido dos meios de comunicação na
campanha eleitoral de 2022. A pena pode ser inelegibilidade por oito anos e a
perda do mandato de senador, conquistado nas urnas, com 1.953.159 votos (33,5%
dos votos válidos), para permanecer no Congresso até fevereiro de 2031.
Foi justamente a enorme
estratégia do Podemos, primeiro partido escolhido por Moro para ingressar na
política, de lançamento de sua pré-candidatura à presidência o motivo dos
atuais infortúnios do senador. Moro vai responder por supostos gastos excessivos,
como o evento de filiação à legenda, em novembro de 2021, ao custo de R$ 200
mil, a contratação do pré-candidato para o cargo de diretor do Núcleo de
Políticas Públicas do partido, com remuneração de R$ 22 mil mensais; além da
contratação de diversos profissionais que se envolveram no projeto. Com duas
empresas de comunicação, a despesa teria chegado a R$ 16,8 milhões.
Segundo os autores da ação, a
campanha de Moro também praticou outros crimes. Os investimentos no período
pré-eleitoral teriam sido maculados por outras práticas repelidas pelo
ordenamento jurídico, notadamente, a constituição de caixa-dois, a extrapolação
do limite de gastos, a triangulação de recursos, o desvio de finalidade de
verbas partidárias e a compra de apoio político.
Por envolver também os dois
suplentes de Moro, Luís Felipe Cunha e Ricardo Augusto Guerra, se a ação for
considerada procedente, o Paraná deverá promover uma nova eleição ao Senado. No
parecer, o Ministério Público Eleitoral apontou: "A responsabilidade
pessoal dos Srs. Sergio Fernando Moro e Luís Felipe Cunha encontra-se
solidamente comprovada através da participação direta de ambos nas viagens,
eventos e demais atos de pré-campanha, frisando-se que, ainda que apenas o
primeiro investigado tenha figurado em destaque e apresentando-se ao público
como pré-candidato, o segundo investigado o acompanhou por toda trajetória
política, inclusive na condição de advogado".
No caso de Ricardo Guerra, o
Ministério Público não verificou participação nos atos considerados
irregulares. Por isso, o parecer é contra a inelegibilidade do suplente. Mesmo
assim, toda a chapa deve ser cassada, no entendimento da Procuradoria Regional
Eleitoral do Paraná, por abuso de poder econômico. A manifestação é assinada
pelo procurador regional, Marcelo Godoy, e pela sua substituta, Eloisa Helena
Machado. O processo está sob a relatoria do desembargador Luciano Carrasco
Falavinha Souza, primeiro a apresentar o voto.
Para que Moro perca o mandato,
uma eventual condenação deverá ser confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral
(TSE). Em entrevistas e manifestações nas redes sociais, Moro diz que é vítima
de vingança, perseguição política e oportunismos dos adversários. (Ana Maria
Campos ? Correio Brasiliense).
Foto: Ed Alves/CB/DA.Press