O Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) foi homenageado, na manhã desta quarta-feira (17), em
sessão especial na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) em alusão ao Massacre
de Eldorado dos Carajás e ao Dia Mundial da Luta pela Reforma Agrária. Proposto
e presidido pela deputada Fátima Nunes (PT), o evento, que lotou o Plenário da
Casa, aconteceu um dia após o final da Marcha Estadual pela Reforma Agrária,
ocorrida de 9 a 16 deste mês, quando cerca de três mil trabalhadores caminharam
de Feira de Santana a Salvador marcando o Abril Vermelho, tradicional mês de
lutas realizado anualmente pela organização.
Sob o som de tambores da Banda de
Todos os Cantos do MST, hinos e cânticos da luta pela causa da reforma agrária
foram entoados pelos presentes à sessão especial, que foi iniciada com a
Mística do MST, uma performance teatral com trabalhadores rurais carregando
seus mortos com cruzes nas mãos.
Secretários do Estado e outras
autoridades, além de diversas lideranças de movimentos populares, prestigiaram
o evento, que contou ainda com a presença dos deputados Rosemberg Pinto (PT),
líder da Maioria na ALBA, Robinson Almeida (PT), Marcelino Galo (PT), Matheus
Ferreira (MDB) e também da deputada Maria del Carmen (PT).
Entre os que compuseram a Mesa
estavam as secretárias estaduais de Assistência e Desenvolvimento Social, Fabya
Reis, e de Educação, Rowenna dos Santos Brito; o secretário estadual de Justiça
e Direitos Humanos, Felipe Freitas; o superintendente do Instituto Nacional da
Reforma Agrária (Incra), Carlos Borges; o vice-reitor da Universidade Federal
da Bahia (Ufba), Penildon Silva Filho; a vice-reitora da Universidade Estadual
da Bahia (Uneb), Deise Lago; a defensora pública Mônica Aragão; o presidente da
Comissão Especial da Reforma Agrária e do Direito à Terra e ao Território da
Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB-BA), Jeferson Braga e a diretora do
MST-BA, Eliane Oliveira.
A deputada Fátima Nunes abriu seu
discurso conclamando palavras de ordem, como "reforma agrária já!". "Este dia é
muito valioso porque o MST prossegue, caminha, porque sabe o que quer e como
quer, porque orienta os seus seguidores nessa marcha constante por partilha da
terra, e partilhar a terra é partilhar o pão", disse a parlamentar.
Ela lembrou o Massacre de
Eldorado dos Carajás, em 17 abril de 1996, quando soldados da Polícia Militar
abriram fogo contra trabalhadores rurais, deixando 21 mortos. "Hoje, a gente
sente uma dor no coração por aqueles e aquelas que naquele dia tombaram. Mas a
gente lembra também quantos outros que também tombaram na luta pela terra",
recordou a legisladora.
Ela ressaltou o quão emblemática
era a presença do MST no Plenário da Casa, espaço onde as leis são debatidas e
aprovadas, e disse que era preciso lutar para que o governo destinasse mais
orçamento para a reforma agrária.
O Massacre de Eldorado dos
Carajás foi destacado ainda pelo deputado Marcelino Galo (PT). "É preciso
rememorar, para que nunca mais aconteça. Viva a reforma agrária!", declarou.
O líder da maioria na ALBA,
deputado Rosemberg Pinto, destacou a simbologia de o movimento popular MST
tomar o Plenário da Casa do Povo. "Essa instituição (MST) nos orgulha. Ela é
para que a gente não esqueça que a reforma agrária é necessária", discursou o
parlamentar, que ainda afirmou ser necessário mandar um recado à justiça
brasileira, para que os crimes contra indígenas e os sem-terra não fiquem
impunes e caiam no esquecimento.
Da parte do Governo Federal, o
superintendente do Incra, Carlos Borges, disse que pegou a pasta completamente
arrasada pela gestão anterior, sem qualquer verba e com contratos engavetados.
No ano de 2023, segundo ele, o
orçamento foi de R$ 260 milhões, com 6 mil assentamentos realizados. Para 2024,
haverá, segundo o superintendente, um aumento de verba para R$ 600 milhões, com
a previsão de dobrar o número de assentados no ano.
A secretária Fabya Reis, que
iniciou a vida pública atuando no MST, aos 17anos, disse que o governador está
trabalhando para assumir os compromissos da pauta do MST trazidas durante a
Marcha Estadual pela Reforma Agrária. O governador Jerônimo Rodrigues visitou a
marcha no seu primeiro dia.
O ato do chefe do Executivo
baiano, pelo comprometimento com a causa, foi visto pelo movimento como
valioso, segundo Eliane Oliveira, diretora do MST-BA. "Receber o nosso
governador Jerônimo Rodrigues no 1º dia da nossa marcha foi um gesto muito
importante para nós, ainda mais porque ele disse ao secretariado que a nossa
pauta teria que ser atendida até o final da nossa marcha. E durante estes dias,
estamos de prova, os nossos telefones não pararam de tocar", informou.
Em seu discurso, ela afirmou que os trabalhadores do MST, cansados e até adoecidos por conta da longa marcha, a fizeram porque é a única forma de luta pela reforma agrária. "Eles achavam que assassinando 21 trabalhadores rurais (em Eldorado dos Carajás) iriam nos calar. Há 28 anos, prossegue a injustiça? Nós não iremos parar a nossa luta", afirmou, sob aplausos.
A militante lembrou que, na terça-feira (16), o governo Lula anunciou o Programa Terra da Gente, para ampliar e dar agilidade à reforma agrária, e disse que há uma grande demanda reprimida por conta da inação de governos anteriores. "São mais de 60 mil acampados no Brasil. Queremos ouvir que, em 2024, serão assentadas 20 mil famílias", afirmou.
A sessão especial terminou com os
integrantes da Mesa sendo presenteados com produtos produzidos em assentamentos
do MST. (Agencia Alba).
Foto: Juliana Andrade/Agencia Alba