No começo da tarde deste
sábado (16), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do
encerramento da Cúpula do G20 Social, evento paralelo que antecede o encontro
entre os chefes de Estado, na segunda-feira (18) e na terça-feira (19). Foi a
1ª vez que houve a participação do público nas discussões que buscam soluções
para os desafios globais.
"O G20 tem que acontecer todo
santo dia, porque tem 733 milhões de habitantes passando fome", disse Lula.
A Declaração Final da Cúpula
Social do G20 (G20 Social) foi lida e aprovada simbolicamente por
representantes de movimentos sindicais horas antes. Confira aqui a íntegra do
documento. "O que vocês me entregaram é o início de um processo", destacou
Lula.
A proposta também foi
endereçada ao presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa ? a nação africana
assumirá a liderança do G20 para 2025.
O texto reúne sugestões
debatidas nos últimos dias para os chefes de Estado que virão ao Rio de Janeiro
? não necessariamente serão acatadas.
O documento defendeu a
"taxação progressiva dos super-ricos", destacou que a democracia "está em risco
quando forças da extrema direita promovem desinformação" e cobrou uma reforma
do Conselho de Segurança da ONU, com maior participação de países do Sul Global.
O que Lula disse
Lula destacou que o objetivo
do G20 Social, iniciativa inédita do Brasil, era que a sociedade civil
"assumisse o papel de reforçar para que as coisas aconteçam de verdade para o
povo", e disse ainda que "a economia e a política internacional não são monopólio
de especialistas e de burocratas".
Lula não citou diretamente o
fim da escala 6x1, proposta que esquentou o debate sobre redução da jornada de
trabalho no país com a ideia de garantir aos trabalhadores mais de um dia de
descanso semanal. Mas, cobrou discussões sobre "jornadas de trabalho mais
equilibradas", pauta que vem mobilizado a Câmara dos Deputados.
"Governos precisam romper com
a dissonância cada vez maior entre a voz dos mercados e a voz das ruas. O G20
precisa discutir uma série de medidas para discutir o custo de vida e promover
jornadas de trabalho mais equilibradas. Para que o extremismo não gere
retrocessos e ameace direitos."
Lula afirmou esperar que o
G20 Social não repita equívocos do Fórum Social Mundial, evento realizado pela
primeira vez em 2001.
De acordo com Lula, o fórum
"fazia muita discussão, mas a gente voltava para casa sem saber o que fazer no
dia seguinte".
O presidente argumentou que
existe a necessidade de que governos e entidades internacionais destinem
recursos para o combate à fome, em vez de disponibilizar para guerras.
"São 733 milhões de
pessoas que vão dormir toda noite sem ter o que comer. O mundo gastou no último
ano US$ 2,4 trilhões em armamento e não gastou quase nada para dar comida para
as pessoas", criticou.
Lula também argumentou que a
mobilização da sociedade civil é necessária para levar adiante metas de
"avançar no uso de energia renovável e antecipar a neutralidade de emissões" de
carbono.
Ao lembrar que o Brasil
sediará a próxima edição da Conferência do Clima (COP), em 2025, ele cobrou
países ricos a contribuírem financeiramente com a preservação da floresta.
Outros palestrantes
Tawakkol Karman, ativista dos
direitos humanos iemenita, Nobel da Paz de 2011, afirmou que "o povo unido
jamais será vencido".
Representando ONGs internacionais e mulheres, Karman afirmou que a "Cúpula Social do G20 tem poder de mudança" e lembrou que, com a presença dos principais líderes globais, "era preciso impedir e parar as guerras" e afirmou que o Conselho de Segurança da ONU e o Fundo Monetário Internacional (FMI) precisam de uma reforma urgente.
"Esse é o momento de discutir
e proteger a paz global. Não podemos permitir as ocupações. Devemos defender e
proteger a democracia. Temos que proteger as mulheres, jovens e os povos
indígenas. E isso cabe aos líderes. A igualdade da humanidade é a chave para a
construção da paz, e por isso é preciso diminuir a diferença entre ricos e
pobres. Precisamos reformar as instituições internacionais se quisermos uma paz
global", salientou.
"Lula, seja forte e continue
com seu compromisso com a justiça social. Obrigada por condenar o genocídio
cometido por Israel na Palestina. Obrigada por lutar contra o apartheid de
Israel contra a Palestina", finalizou.
O presidente da África do
Sul, Cyril Ramaphosa, não virá ao Brasil para o G20. No lugar dele, esteve no
Armazém 1, junto com Lula, Ronald Lamola, ministro das Relações Internacionais
e Cooperação da África do Sul.
Lamola representou o
presidente sul-africano, que não conseguiu comparecer por "motivos
pessoais e políticos na África do Sul", de acordo com Lula.
Diante do representante
sul-africano, Lula afirmou ter "certeza de que o presidente Ramaphosa vai
fazer o fórum social" em 2025, e disse que estará presente no evento.
"A África do Sul quer
usar sua presidência [no G20] para criar o futuro. Quando o mundo está tão
dividido, queremos fortalecer nossos compromissos com os grupos de engajamento
para ter o "G20 do Povo". A crença de garantir a participação da
sociedade civil na rede do G20 é crucial", sentenciou.
Encontros bilaterais
Além do G20 Social, Lula
participou de duas reuniões bilaterais. A primeira delas, pela manhã, foi com o
secretário-geral da ONU, António Guterres.
Segundo a assessoria do
governo, o presidente e o secretário-geral conversaram sobre o G20 Social, a
programação da Cúpula do G20, o andamento da COP29 e as negociação sobre clima
e meio ambiente que acontecem em Baku (Azerbaijão), em paralelo às atividades
do G20.
Após o encerramento do G20
Social, Lula recebeu, no Forte de Copacabana, a prefeita de Paris, Anne
Hidalgo, que veio ao Brasil para o Urban 20 - maior encontro de cidades do
mundo. Os dois conversaram sobre a situação política na Europa e no Brasil e a
reconstrução do papel internacional do Brasil no mundo, segundo a assessoria.
Também participaram do
encontro o prefeito do Rio, Eduardo Paes; os ministros das Relações Exteriores,
Mauro Vieira; e da Fazenda, Fernando Haddad; e o assessor especial do
presidente da República, Celso Amorim. (Por Rafael Nascimento, g1 Rio).
Foto: Tatiana Nahuz/MDHC