O empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS preso pela
Lava Jato em Curitiba, disse ter autorizado o pagamento de R$ 1 milhão em
espécie a Rodrigo Garcia (DEM) para acelerar liberação de verba para obra da
linha 4-amarela do Metrô de São Paulo, segundo reportagem da Folha de S. Paulo
em parceria com o site The Intercept Brasil.
Segundo a publicação, posteriormente, Garcia se tornou
deputado federal, secretário dos governos tucanos de José Serra e Geraldo
Alckmin e, em 2018, elegeu-se vice-governador na chapa de João Doria (PSDB).
Esse episódio, segundo Léo Pinheiro afirmou a autoridades,
ocorreu em 2007, quando Garcia era deputado estadual. De acordo com a Folha e o
The Intercept, o relato consta em proposta da delação do empresário
compartilhada entre procuradores do Ministério Público Federal da Lava Jato no
aplicativo Telegram.
De acordo com a reportagem, Léo Pinheiro relatou que o
pagamento a Garcia foi determinado após um pedido do então secretário da Casa
Civil do governo José Serra, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB).
À época, a OAS integrava um consórcio com Odebrecht, Andrade
Gutierrez, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa para a execução dos lotes 1, 2 e 3
da linha 4-amarela, que liga o centro à zona oeste de São Paulo.
Ainda de acordo com a Folha e o The Intercept, no fim de
2007, a equipe técnica responsável pela avaliação de litígios da linha apontou
que seria necessária uma atualização do contrato (formalmente um ?reequilíbrio
econômico-financeiro?) no valor de R$ 180 milhões (R$ 347 milhões em valores
atualizados) em favor do consórcio executor da obra.
Esse valor teria de ser desembolsado pelo governo paulista.
Em seu relato, Léo Pinheiro afirma que a propina foi
acertada em uma reunião na qual estavam presentes representantes da OAS e de
outras empresas do consórcio.
O ex-presidente da OAS aponta que o encontro aconteceu na
casa de José Amaro Pinto Ramos, um "conhecido interlocutor do PSDB" e suspeito
de ser operador de tucanos, em um bairro fechado da zona sul da cidade.
"Para que fosse agilizado o pagamento dessa quantia [R$ 180
milhões], tomei conhecimento através do diretor da OAS de que o então
secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes, exigiu do consórcio o pagamento da
quantia de R$ 5 milhões, sendo que cabia a cada empresa o pagamento do valor de
R$ 1 milhão", disse Léo Pinheiro.
"Autorizei que a parte da OAS fosse paga em espécie
diretamente para o então deputado estadual Rodrigo Garcia", apontou.
A forma de pagamento, de acordo com ele, foi uma instrução
de Aloysio Nunes, que anos mais tarde seria senador e ministro das Relações
Exteriores no governo Michel Temer. Em fevereiro passado, ele pediu demissão de
seu cargo na gestão Doria após ter sido alvo de fase da Lava Jato. Ele era
presidente da Investe SP, agência de estímulo a investimentos no estado.
Além do vice-governador Rodrigo Garcia, são citados nessa
delação outros políticos e até ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Léo Pinheiro está preso desde 2016 no Paraná. Ele é o
empreiteiro que incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no
caso do tríplex de Guarujá que o levou à prisão no ano passado.
Outro lado
Procurado pela Folha e pelo The Intercept, o vice-governador
Rodrigo Garcia se manifestou por meio de nota.
"Não tenho tempo para comentar uma história sem pé nem
cabeça. Em passado recente, fui vítima deste mesmo tipo de acusação e provei
minha inocência", afirmou, segundo as publicações.
Aloysio Nunes afirmou que a delação de Léo Pinheiro foi "extorquida de um homem idoso, com saúde abalada, que acaba por dizer qualquer
coisa que seus algozes desejem para livrar-se do tormento de uma prisão por
tempo indeterminado".
José Amaro Pinto Ramos nega ser interlocutor de partidos.
Por meio do seu advogado, Eduardo Carnelós, afirma que nunca manteve negócios
com a OAS e não se lembra de ter encontrado nenhuma vez com Léo Pinheiro.
A OAS afirma, por meio de nota, que conta com uma nova
gestão, "que tem contribuído com as autoridades competentes e com a Justiça,
prestando todos os esclarecimentos que se façam necessários".
A Odebrecht disse que tem colaborado com as autoridades e "são fatos do passado". A Andrade Gutierrez informou que "tem total interesse
em esclarecer os fatos que abrangem as obras do metrô e já se coloca à
disposição das autoridades competentes".
A Camargo Corrêa disse em nota que "foi a primeira empresa
do setor a firmar acordo de leniência e está comprometida a colaborar
continuamente com as autoridades para o esclarecimento de denúncias que
envolvam a empresa". A Queiroz Galvão afirmou que não irá comentar.
A defesa de Léo Pinheiro disse que não irá se manifestar.
Foto: PSD-SP