A segunda parte da programação do Parlamento Feminista da
Bahia, na tarde desta quinta-feira (5), priorizou a fala do público inscrito,
durante uma assembleia geral com o tema "Representação Democrática, Mulheres e
Diversidade". A discussão, que ocorreu no auditório da ALBA, apontou para a
necessidade urgente de ampliação da representatividade de mulheres nos espaços
políticos de poder, com candidaturas majoritárias e proporcionais nas próximas
eleições em outubro de 2020.
A vereadora do PT de Salvador, Marta Rodrigues, e a deputada
federal pelo PC do B, Alice Portugal, defenderam a criação de uma plataforma do
Parlamento Feminista da Bahia que possa compilar e reunir as propostas
legislativas e outras iniciativas que resultaram em políticas públicas, a fim
de inspirar e divulgar as ações para todas as pessoas.
Para Joilma Rios, vereadora de Várzea do Roça, a política
está perdendo a sua essência. Entre os pleitos apresentados, Joilma destacou a
necessidade de permitir que a mulher, na hora do parto, possa escolher onde ter
o seu bebê. Natália Veroneze levou ao Parlamento o tema da maternidade e fez
sua defesa do parto humanizado. "A maternidade deve ser desejada, não uma
imposição social". Ela lembrou que há, ainda, mutilação genital no Brasil.
A psicóloga, jornalista e assistente social Ana Rocha,
coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisa da União Brasileira de Mulheres
(UBM), afirmou que o Parlamento Feminista da Bahia é uma "resposta à onda
conservadora que se instalou no Brasil com a eleição de Jair Bolsonaro". A
gestora da entidade propôs o trabalho de capacitação política de mulheres para
que elas possam disputar o poder e exercer cargos públicos. Jussara Lopes,
coordenadora do movimento Mulheres de Axé do Brasil, falou sobre a necessidade
de capacitação política para as mulheres dos terreiros de candomblé. Bárbara
Alves, do Fórum Baiano LGBT, defendeu que as mulheres lancem e apoiem
candidaturas engajadas nas eleições do ano que vem. "É preciso qualificar quem
nos representa", frisou.
Ângela Guimarães, da União de Negras e Negros pela Igualdade
(Unegro), afirmou que a realização do Parlamento é um marco histórico na luta
por igualdade e por justiça social. Já a ativista LGBT Millena Passos, mulher
trans e secretária do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher,
invocou a sororidade como fundamental para garantir uma vitória nas urnas.
Cristina Gonçalves, integrante do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência,
também pediu que o discurso da sororidade seja adotado na prática. Ela, que é
deficiente visual, cobrou ainda que o movimento político de mulheres abrace a
causa da mulher deficiente.
A plateia do Parlamento Feminista pode conhecer a
experiência de um mandato colegiado, com assento na Assembleia Legislativa de
Pernambuco (Alepe). O grupo formado por cinco mulheres do Psol foi eleito no
ano passado e divide propostas, discussões e a remuneração. Formada pela
jornalista Carol Vergolino, pela estudante de letras Joelma Carla, pela
ambulante Jô Lima, pela professora Kátia Cunha e pela advogada Robeyoncé Lima,
a iniciativa é chamada por elas de mandata coletiva. Elas explicaram que, por
conta do regimento e da lei, apenas uma delas é tida como representante
oficial.
Maria Antônia Desidério, do Parlamento Jovem Brasileiro, uma
iniciativa da Câmara dos Deputados, falou da sua eleição para presidente deste
colegiado como uma conquista importante por ser mulher, nordestina e negra. A
líder indígena Candara Pataxó ? trazendo seu relato de vice-cacica e de sua mãe
cacica, que comanda um conselho de caciques com 22 comunidades indígenas ?
exaltou a representatividade do evento, com inúmeras mulheres 'aguerridas'.
Carolina Nunes, da União da Juventude Socialista em Salvador, levou ao encontro
a angústia de boa parte dos jovens: "Somos uma geração que não consegue se ver
representada. Que mais jovens mulheres possam se ver representadas nos espaços
de poder".
Ludmila Teixeira, do Movimento de Mulheres Unidas contra
Bolsonaro, afirmou que a luta feminista no Brasil é inviabilizada e sabotada
pelo sistema, e destacou a presença do movimento, esse ano, no Fórum
Internacional de Filmes e Direitos Humanos, em Genebra, na Suíça. O auditório
ouviu também a história de um grupo de 250 mães de crianças com microcefalia,
paralisia cerebral, entre outras doenças, que se organizou e passou a se chamar 'Mães Extraordinárias'; sua representante, Joseane Oliveira, relatou
dificuldades que vão desde a atendimento e serviços básicos até a aquisição de
cadeira de rodas.
Daniela Borges, presidente da Comissão Nacional da Mulher
Advogada, disse que é preciso combater as tentativas de retrocesso que tramitam
atualmente no Congresso, como a anistia da multa aplicada aos partidos que não
destinaram os 30% das verbas para as candidaturas femininas. Professora do
programa de pós-graduação do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a
Mulher (Neim) na Universidade Federal da Bahia (Ufba), Teresa Sacchet falou do
estudo que faz há 20 anos a respeito da presença da mulher na política. A
pesquisadora lembrou que o Congresso Nacional é conservador, o que requer luta
para manter os direitos já obtidos. "Se algo conquistado está ameaçado, temos
que lutar pela manutenção", afirmou, frisando que o dinheiro é fator principal
para eleger uma pessoa. Por isso, defendeu a docente, as parlamentares devem
lutar para garantir 30% dos recursos financeiros nos partidos.
Andrea Castro, coordenadora do Território do Litoral Norte,
chamou a atenção para o fato de que homens estão se apropriando da luta das
mulheres por conta da grande visibilidade que o movimento tem conseguido. Ana
Cláudia Pacheco, representando o Fórum Marielles de Salvador, colocou a
entidade à disposição da luta para fortalecer a todas as mulheres negras da
capital que queiram ocupar os espaços de poder.
Terezinha Tavares, voluntária do Hospital Aristides Maltez,
levou a voz do subúrbio para o Parlamento Feminista. Candidata à vereadora, ela
solicitou que cada mulher ali presente lute por um lugar de representatividade
no poder. Tânia Palmeira pediu unidade entre as mulheres na luta por espaço no
poder. "A briga não é entre nós. É importante a diversidade. A retomada de
poder requer estratégia para enfrentar as eleições de 2020", disse.
Naira Gomes, uma das idealizadoras do Marcha do
Empoderamento Crespo em Salvador, lamentou o fato de as mulheres negras serem
minoria nos parlamentos, embora sejam maioria na sociedade. Para a jovem
militante, é necessário fortalecer a luta contra o racismo e o machismo. Laura
Astrolábio, militante do movimento Mulheres Negras Decidem, também falou sobre
a desproporcionalidade entre o número de mulheres no país e a
representatividade nos legislativos. "É preciso ressaltar que mulheres negras
representam 27% da população do país. Na Câmara, de 77 deputadas, apenas 13 são
negras. Houve o aumento de mulheres, mas não de mulheres negras. É preciso
romper com o domínio masculino e branco no Brasil".
A participante Daiana Alcântara reforçou a necessidade de
políticas públicas que auxiliem mães estudantes, como a implantação de creches. "Sabemos os esforços e dificuldades de uma mulher acadêmica. Proponho que a
Comissão de Educação desta Casa acolha essa discussão de creches para mães
universitárias". Presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos das
Mulheres de Juazeiro, Katussia Almeida defendeu a unificação da política de
saúde entre governo federal, Estados e municípios. Pré-candidata a vereadora de
Juazeiro, Katussia também lamentou o preconceito que existe com mulheres
vítimas de câncer de mama.
Marizete Pires, integrante do coletivo Mullher por Mulher,
lamentou o aumento dos casos de feminicídio no Brasil e citou a morte de três
mulheres no subúrbio de Salvador nesta semana. A militante manifestou sua
indignação também com casos em que algumas mulheres possuem medidas protetivas,
mas, mesmo assim, acabam sendo mortas. A pedagoga Tiffany Odara levou ao
Parlamento seu apelo por mais formação política nas periferias. Maria França,
integrante do coletivo Vai Ter Gorda, usou seu espaço para reforçar a
necessidade de apoio na luta contra a gordofobia. Cleide Coutinho, da executiva
estadual do Psol, manifestou preocupação com os crescentes casos de
feminicídio.
Moradora do bairro de Mussurunga, em Salvador, Cristiane
Santos externou seu desejo, após ouvir diversos discursos no evento, de ver a
teoria se aliando à prática. Ela citou casos em que a violência tem ceifado a
vida de filhos de moradoras da sua comunidade e pediu respeito ao povo da
periferia. Ao fim do encontro, foi aprovada uma moção de apoio à vereadora de
Salvador, Aladilce Souza (PC do B), que está sendo acionada pelo prefeito ACM
Neto na Justiça.(Agencia Alba).
Foto: CarlosAmilton/AgênciaALBA