Queda de 8% no PIB da agropecuária no 3º trimestre é a maior desde 2012

Se a retomada do consumo de serviços impulsionou o setor no
terceiro trimestre, choques de oferta na agropecuária e na indústria foram
decisivos para o desempenho negativo do Produto Interno Bruto (PIB)como um
todo. A seca histórica que atingiu o País no inverno leva boa parte da culpa.
Por causa da estiagem, a agropecuária registrou queda de 8% sobre o segundo
trimestre, pior resultado nessa base de comparação desde o primeiro trimestre
de 2012, quando a queda foi de 19,6%.

Além da seca, que golpeou em cheio a segunda safra de milho,
o inverno foi marcado por geadas que atingiram as plantações de café e
cana-de-açúcar. ?O terceiro trimestre nos lembrou de que a atividade
agropecuária é inerente aos efeitos do clima?, disse o coordenador do Núcleo
Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Renato
Conchon.

Ausência da soja

O terceiro trimestre, normalmente, é mais fraco para a
agropecuária. Isso ocorre porque a principal cultura do País, a soja, é
colhida, principalmente, no primeiro trimestre, gerando impactos econômicos
concentrados na primeira metade do ano. Tanto que o desempenho no ano como um
todo deverá apresentar crescimento, porque a soja passou mais ou menos ilesa
pela estiagem, lembrou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O tombo na atividade agrícola no terceiro trimestre foi
resultado da combinação da saída dos efeitos econômicos da safra de soja com o
fato de praticamente todas as principais culturas típicas do período terem sido
atingidas pelo clima. Segundo o IBGE, o mau desempenho da agropecuária foi
influenciado por perdas de café, algodão, milho e cana-de-açúcar, e na
pecuária, especialmente na criação de bovinos.

?Normalmente, para o setor agropecuário, todo o terceiro
trimestre de cada ano é, em média, pior do que o segundo, em virtude da
sazonalidade do setor. Neste ano, este resultado negativo foi agravado pelos
efeitos climáticos muito severos?, explicou Conchon.

Para 2022, as perspectivas são melhores, porque as chuvas
começaram no momento certo, em outubro, e têm vindo em volume positivo em
relação às médias históricas. Por outro lado, escassez e encarecimento de
insumos, agravados pelas elevadas cotações do dólar, que abalam a indústria
desde o início da pandemia, poderão atrapalhar também a safra de 2021/2022,
disse Conchon.

A crise hídrica também atrapalhou a indústria. O PIB
industrial teve variação nula no terceiro trimestre ante o segundo, puxado para
baixo pela atividade de produção e distribuição de eletricidade, gás e água,
que recuou 1,1%. Isso porque a geração de eletricidade encareceu. Segundo
Rebeca Palis, do IBGE, a crise de energia ajudou a puxar o PIB brasileiro para
baixo nos últimos dois trimestres.  (Daniela Amorim, Vinicius Neder e Isadora Duarte ? Estadão).

Foto: © DIDA SAMPAIO/ESTADAO

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