No inquérito devolvido nesta segunda-feira, 19, ao Supremo
Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal concluiu que há indícios de
materialidade da prática de crime de corrupção passiva pelo presidente Michel
Temer e seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures. Embora tenha concluído essa parte
da apuração, os delegados federais pediram mais cinco dias de prazo para
encerrar a investigação sobre os crimes de organização criminosa e obstrução da
Justiça.
O pedido de dilatação do prazo pela PF tem como objetivo
aguardar o término do laudo final da perícia no áudio da conversa gravada pelo
empresário Joesley Batista, do grupo J&F, com Temer. A demora na produção
do laudo se daria pela má qualidade da gravação.
No caso do crime de corrupção passiva, a reportagem apurou
que a conclusão baseou-se na análise das ações controladas – uma delas que
flagrou Rocha Loures correndo com uma mala de R$ 500 mil – e em dois laudos
produzidos a partir da análise das conversas gravadas entre Loures e o lobista
do grupo J&F, Ricardo Saud.
Saud filmou e gravou, no dia 28 de abril deste ano,
encontros nos quais acertou e repassou a Rocha Loures a mala dos R$ 500 mil, em
um restaurante em São Paulo. Hesitante em pegar o dinheiro naquela ocasião, o
peemedebista chegou a sugerir um tal [Edgar] para buscar os valores, já que [todos
os outros caminhos estavam congestionados].
Na conversa, Saud ainda questiona se o interposto sugerido
por Loures para supostamente receber valores é [o Edgar que trabalha para o
presidente]. [Bom, se é da confiança do chefe, não tem problema nenhum].
Apesar de tentar indicar outra pessoa para receber os
valores, o então deputado federal acabou combinando, no mesmo dia, de pegar a
mala de propinas em uma pizzaria indicada por ele, em São Paulo, na rua
Pamplona. Saud também filmou o diálogo, em um estacionamento.
O valor seria entregue semanalmente pela JBS ao
peemedebista, em benefício de Temer, como foi informado, nas gravações, pelo
diretor de Relações Institucionais da holding. [Eu já tenho 500 mil. E dessa
semana tem mais 500. Então você tem um milhão aí. Isso é toda semana. Vê com
ele Michel Temer], afirmou Saud a Loures.
Rocha Loures é acusado de exercer influência sobre o preço
do gás fornecido pela Petrobras à termelétrica EPE – o valor da propina,
supostamente [em benefício de Temer], como relataram executivos da JBS, é
correspondente a 5 do lucro que o grupo teria com a manobra.
Em notas anteriores, o Palácio do Planalto negou
irregularidades envolvendo o presidente. (Diário do Poder)
(FOTO: JBATISTA/AG CÂMARA)