Escolhida pelo presidente Michel Temer (PMDB) para assumir o
Ministério do Trabalho, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) foi citada na
delação da Odebrecht. A parlamentar é filha do ex-deputado Roberto
Jefferson, condenado a sete anos e 14 dias de prisão no processo do Mensalão,
do qual foi o pivô.
As declarações que atingiram Cristiane
Brasil foram tornadas públicas em abril do ano passado. Na ocasião, a
deputada registrou que o Supremo Tribunal Federal não havia solicitado
investigação contra ela. [Não há nada a meu respeito senão um comentário sem
qualquer prova feito por um dos delatores da operação], afirmou.
Cristiane Brasil foi delatada pelo executivo Leandro
Andrade, um dos delatores da Odebrecht na Operação Lava Jato. O empreiteiro relatou
ao Ministério Público Federal um episódio que classificou como [pitoresco],
supostamente ligado à deputada.
Segundo o delator, a pedido do deputado Pedro Paulo
(PMDB-RJ) foram entregues R$ 200 mil à Cristiane Brasil em 2012. O
dinheiro foi repassado pelo próprio executivo, afirmou à Lava Jato. A
parlamentar nega enfaticamente ter recebido valores ilícitos.
Andrade narrou que os R$ 200 mil foram retirados
de um saldo supostamente acertado por outro executivo-delator da Odebrecht,
Benedicto Junior, o [BJ], no primeiro semestre de 2012, com Eduardo Paes
(PMDB), como contribuição eleitoral para a campanha do peemedebista à reeleição
para a prefeitura do Rio.
Segundo Leandro Andrade, do montante total, Pedro Paulo
[mandou] pagar [dois candidatos que faziam parte da base de apoio dele],
Brizola Neto e Cristiane.
[O da Cristiane Brasil, o que aconteceu foi que eu estava no
dia da programação de ela ir retirar esse dinheiro nesse escritório. Eu não
ficava direto lá, mas ia de vez em quando para reuniões. Ela mesma foi retirar
esse dinheiro. O que aconteceu foi que o portador nosso, o doleiro, não sei
exatamente como é que chama, demorou a chegar. Ela ficou na antessala do
escritório. Minha secretária que atendia lá veio dizer: [Tem uma deputada aí,
que está esperando há um tempão, já está ficando nervosa]. Fui e a chamei para
tentar fazer uma sala. Realmente nós conversamos, me apresentei, não conhecia.
Ela estava lá para pegar o dinheiro], relatou.
O executivo afirmou que Cristiane [estava sozinha]. [Teve um
fato também pitoresco. Nessa sala que eu tinha, existia uma câmera para fazer
conference call e Skype com minhas obras no interior. Ela ficou super
incomodada com aquilo, achando que eu estava gravando aquele momento. Ela
perguntou: [mas aquilo ali funciona?]. Eu percebi o constrangimento e falei: [não
se preocupe que aquilo não é?]. Eu mesmo fui lá, tirei a câmera e botei no
chão.]
De acordo com o delator, cerca de 20 minutos depois, [o
portador chegou]. Andrade declarou que [alguém] entrou na sala com uma mochila.
O executivo afirmou não lembrar se foi o próprio portador.
[De dentro da mochila, ele tirou o pacote de plástico onde
tinha um valor de R$ 250 mil anotado em cima, R$ 200
mil, desculpa, anotado em cima. Ela pegou esse valor, ela estava com uma mochila.
Pegou esse valor, botou dentro da mochila, agradeceu e saiu. Esse fato foi exatamente
eu entregando para ela], relatou.
O Ministério Público Federal quis saber se Leandro Andrade
tinha registro da entrada de Cristiane Brasil no escritório.
[Não tenho registro. No (escritório do) Le Monde não tem,
porque nós tentamos pegar e não existe], afirmou. [O pedido desse dinheiro foi
feito pela área de Operações Estruturadas através da Lucia Tavares.]
Quando a delação da Odebrecht foi tornada pública, em abril
de 2017, os citados se manifestaram desta forma:
[O STF não solicitou investigação contra mim e não há nada a
meu respeito senão um comentário sem qualquer prova feito por um dos delatores
da operação], declarou, na ocasião, Cristiane Brasil.
[Esclareço que os poucos contatos que já tive com
profissionais da companhia se limitaram a raros eventos institucionais. Estou,
como sempre estive, à disposição da justiça e da sociedade para esclarecer o
que for necessário.]
Também nessa mesma época, as assessorias do deputado Pedro
Paulo e do ex-prefeito Eduardo Paes declararam. [Conforme foi afirmado pelos
próprios delatores em nenhum momento a empresa recebeu qualquer tipo de
vantagem ou benefício em obras da Prefeitura do Rio. Além disso, Benedicto
Junior foi enfático ao afirmar em seu depoimento que nunca pagou propina a
Eduardo Paes.]
O vereador Brizola Neto disse, na ocasião. [Me causou
perplexidade e revolta a matéria veiculada na imprensa citando meu nome como
[possível destinatário] em esquema de corrupção. Baseada em uma simples
suposição, a matéria dá a entender que eu teria recebido dinheiro do
ex-prefeito Eduardo Paes para a minha campanha. Na ocasião estava no PDT e
rompi com o partido fundado por meu avô justamente por não concordar com a
aliança com Eduardo Paes. Inclusive fui processado por Paes e pelo então
secretário Pedro Paulo pelas inúmeras denúncias que fiz sobre seus desmandos
durante meu segundo mandato como vereador da cidade do Rio de Janeiro. Sempre
pautei minha atuação pelo exemplo de ética, honestidade e respeito ao povo
aprendido com meu avô Leonel Brizola. É lamentável que estejamos vivendo tempos
no Brasil em que reputações são enxovalhadas pela prática que se tornou comum
de denuncismos sem provas. Reitero que nunca me envolvi em nenhum tipo de
negociata e estou à disposição para prestar qualquer esclarecimento.] (AE)
Foto: Antonio Augusto ? Agencia Camara)