Temos observado o engajamento cada vez maior de
lideranças cristãs em prol de alguns candidatos, também é possível notar que
muitos preferem o silêncio ou um tipo de manifestação bem mais discreta, ou
dúbia, deixando para os seguidores a possibilidade de interpretar o que bem
entenderem.
É perfeitamente compreensível a postura cautelosa e mais
[neutra] de alguns líderes. Quando se trata de pastores, muitos se preocupam
com a consciência das suas ovelhas, pois julgam correr o risco de prejudicá-las
caso manifestem um posicionamento em desacordo com sua visão. Mas, até que
ponto essa
postura de isenção contribui muito mais para beneficiar a igreja,
e não prejudicar?
Líderes do seu tempo
Na história da igreja vemos o quanto a postura de homens
determinados em servir a Deus fizeram a diferença em seu meio. Muitas vezes
através de pequenas atitudes, o exemplo dado por eles contribuiu não só para
proclamar o Deus de Israel, como orientar a população em prol da certeza da sua
existência. No livro de Daniel, por exemplo, vemos como o jovem israelita
assumiu a postura de não se deixar contaminar com os manjares do Rei
Nabucodonosor.
O Rei ordenou que fosse servido o melhor da sua comida e
bebida para Daniel, Hananias, Misael e Azarias, mas a Bíblia diz no capítulo 1,
verso 8, que Daniel, contudo, recusou o alimento especial do rei, pedindo para
comer apenas vegetais e água. Naquele momento Daniel foi um líder, porque sua
postura falou também pelos demais, como sugerem os versos 12, 13, e 15. O
resultado disso foi que Deus os abençoou com tamanha inteligência que se
tornaram admirados pelo rei.
Já no capítulo 3 também de Daniel, o rei Nabucodonosor
baixou um decreto ordenando que todos do seu reinado se prostrassem e adorassem
uma imagem de ouro feita por ele. [Quem não se prostrar em terra e não adorá-la
será imediatamente atirado numa fornalha em chamas], diz o verso 6. [Mas há
alguns judeus que nomeaste para administrar a província da Babilônia, Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego, que não te dão ouvidos, ó rei. Não prestam culto aos teus
deuses nem adoram a imagem de ouro que mandaste erguer], disseram alguns
astrólogos para Nabucodonosor no verso 12, denunciando a postura de Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego, homens que participavam da vida pública, pois haviam sido
nomeados pelo rei.
Eles decidiram se posicionar contra a idolatria de
Nabucodonosor, apesar de fazerem parte do seu Governo. O resultado disso foi
que após serem lançados na fornalha ardente de fogo, Deus se fez presente e
eles foram salvos. O testemunho dessa atitude repercutiu sobre todo o reino da
Babilônia. [Louvado seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o
seu anjo e livrou os seus servos! Eles confiaram nele, desafiaram a ordem do rei,
preferindo abrir mão de suas vidas a que prestar culto e adorar a outro deus,
que não fosse o seu próprio], reconheceu Nabucodonosor no verso 38.
A Bíblia está repleta de exemplos similares, onde homens e
mulheres de Deus, em outras palavras, [desafiaram a ordem do rei] para cumprir
o que suas consciências mandaram em nome da fé, afetando consequentemente sua
comunidade, seu povo, suas famílias. Há singularidades em cada caso, pois
vivemos em contextos diferentes, mas a diferença não é tão grande. Por exemplo:
Será que a noção de [Estado laico] não tem atrapalhado alguns cristãos de se
posicionarem em prol dos ensinamentos bíblicos, confundindo o serviço a Deus e
ao Estado? Será que tal conceito não é a versão moderna do ídolo de ouro criado
por Nabucodonosor em seu tempo, fazendo com que muitos se prostrem diante dele,
ao invés de declarar sua fé no Deus de Israel, mediante o que defendem na vida
pública?
Uma posição que reflete os valores de Cristo
Muitos líderes têm receio de se posicionar politicamente
porque associam tal postura aos candidatos e partidos. Eles não querem se
comprometer, porque imaginam que tal comprometimento é com pessoas, mas
acontece que não é necessariamente assim. Como já escrevi em outra ocasião, a
postura do cristão diante do mundo político deve, antes de mais nada, apontar
para os valores de Cristo, não de homens. Neste sentido, nos posicionamos em
prol do que acreditamos se
aproximar mais do que Deus deseja para a vida comum em sociedade. Esse é nosso
compromisso! Não com candidatos e suas siglas, mas com o que eles representam
aos olhos da fé.
Pensando por essa perspectiva e lançando olhar sobre a
vontade de Deus para o seu povo, especialmente através das suas advertências ao
povo de Israel através dos profetas no passado, será que a omissão da nossa
posição reflete a atitude que Deus deseja dos líderes em nossa geração? Ou será
que o receio de se ?comprometer? é o que, de fato, termina contribuindo muito
mais para o avanço do mal que temos visto atualmente na esfera pública,
afetando toda a sociedade?
Por fim, quero acreditar que o comprometimento sempre nos
trás riscos e consequências, mas que no final das contas ele é sempre melhor e
mais honrado do que o não se comprometer. Se assumirmos postura tendo Cristo
como referencial, sabendo que não são [cristos] que apoiamos na vida política,
mas apenas valores que podem ser mais próximos ou não do verdadeiro e único
Senhor certamente não erramos em nossas escolhas. Os homens sim podem errar e
nos decepcionar (e certamente vão, cedo ou tarde), mas os valores que
defendemos a luz da Bíblia jamais serão motivos de vergonha, pois afinal,
importa mais agradar a Deus do que aos homens. (Marisa Lobo) -
Foto: Divulgação
http://gospelmais.com.br/perfil/marisalobo/
Marisa
Lobo é psicóloga clínica, escritora, pós-graduada em saúde mental,
conferencista realiza palestras pelo Brasil sobre prevenção e enfrentamento ás
drogas, e toda forma de bullying, transtornos psicológicos, sexualidade da
familia, entre outros assuntos. Teóloga, ela é promoter e organizadora da
ExpoCristo realizada no Paraná. Marisa é casada, tem dois filhos e congrega na
IBB em Curitiba.