A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) marca, mais uma
vez, presença na Feira Literária de Mucugê (Fligê), cuja quarta edição começa
hoje (dia 15) e vai até domingo no município da Chamada Diamantina. Neste ano,
a ALBA lançará, durante o evento, dois livros: a segunda edição do Auto da
Gamela, de autoria de Carlos Jehovah e Esechias Araújo Lima, e o clássico
Sinhazinha, de Afrânio Peixoto (1876-1947), publicado originalmente em 1929.
Além dos lançamentos, a Assembleia terá um estande, onde distribuirá livros do
seu amplo catálogo, como tem feito desde a primeira Fligê.
Com mais esses dois livros lançados especialmente para a
Fligê, a Assembleia consolida a parceria com a feira literária, considerada o
terceiro maior evento do tipo realizado no estado e que tem atraído pessoas de
dentro e fora do país. A feira tem uma vasta programação, com lançamento de
livros, mesas de conversa, conferências, oficinas, peças teatrais e shows. O
evento, que tem a ALBA como parceria, é uma realização do Instituto Incluso,
Coletivo Lavra e governo do Estado, com patrocínio do governo federal.
Um dos objetivos desta quarta edição da feira é colocar a
literatura em diálogo com outras artes, potencializando a formação de leitores
de todas as idades. Em cada edição, a Fligê elege um homenageado. Este ano, é o
poeta Castro Alves, com seu grito "Sê livre, és Gigante". De acordo com os
coordenadores, a homenagem a Castro Alves justifica-se por encontrar em sua
obra, além do apelo de sua escrita de vida breve e longa existência literária,
as diásporas dos navios negreiros da atualidade e as distopias a serem
reveladas para que a literatura seja ainda mais necessária para interpretar a
realidade social.
Apesar de não tratar diretamente sobre Castro Alves, o livro
Sinhazinha tem relação com o poeta. Afinal, a obra do escritor baiano Afrânio
Peixoto retrata a vida nos sertões baianos de Caetité, palco, no século XIX, de
feroz luta travada entre os familiares de Castro Alves e as famílias Moura e
Pinheiro Canguçu. Luta essa ocorrida no então município de Bom Jesus dos
Meiras, atual cidade de Brumado, localizada no sudoeste baiano.
Ouvindo descendentes dos dois lados, cada qual narrando a
sua versão, Afrânio Peixoto concebeu Sinhazinha, a seu modo, baseado na vindita
entre Mouras e Canguçus, situando sua condição de autor à de ouvinte dos dramas
que se sucederam entre as margens do Paraguaçu e do Rio de Contas. "Aqui
sobrevivem amor e ódio, num mundo onde os donos de vastas terras dominam os
sentimentos e fazem jorrar o sangue da vingança; é a luta na defesa dos valores
do sertão brasileiro, onde a beleza da mulher traz a paixão súbita e a vingança
que se arrasta por gerações", explicou Afrânio Peixoto, neste que foi o seu
último romance.
Sinhazinha começa numa festa de São João que transcorre no
terreiro da casa-grande da Fazenda Campinho, pertencente a João Pinheiro
Canguçu, quando ali chega o jovem Juliano que, estudante na capital baiana, se
vê obrigado a abandonar os estudos em razão da morte do pai, o que o força a
buscar o sustento da família, tornando-se mascate. Apaixonado por Sinhazinha, a
filha do proprietário que está prometida por alianças familiares a um
descendente dos Mouras, Juliano ouve do capataz Tomé a história das lutas
familiares, sendo ele mesmo oriundo de uma das famílias inimigas de sua amada,
forçando-o a vencer os obstáculos para que ambos fiquem juntos.
Nascido em 1876, na cidade de Lençóis (também na Chapada),
Júlio Afrânio Peixoto diplomou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1897.
Chegou ao Rio de Janeiro em 1902, onde foi aprovado em concurso para cátedra de
Medicina Legal na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Exerceu outros
cargos, entre eles o de professor de Medicina Pública, e lá iniciou sua
carreira literária. Entre os livros escritos por ele estão A Esfinge (1911), Maria
Bonita (1914), Fruta do Mato (1920), Bugrinha (1922), As Razões do Coração
(1925), Uma Mulher como as Outras (1928) e Sinhazinha (1929). Foi eleito para
Academia Brasileira de Letras (ABL) e chegou a ocupar sua presidência.
O outro livro que será lançado pela ALBA na Fligê,
Auto da Gamela, foi escrito por Carlos Jehovah e Esechias Araújo Lima, o
primeiro de Vitória da Conquista e o segundo de Brumado, e teve a primeira
edição publicada em 1980. Em versos extremamente inspirados, a obra conta o
nascimento, a curta e sofredora vida e morte de uma criança nordestina e foi
elogiado por Jorge Amado e Rachel de Queiroz. Essa nova versão, muito
bem-acabada de 219 páginas, tem ilustrações de Silvio Jessé. (Agencia Alba).
Foto: DIvulgação/Alba