O presidente Jair Bolsonaro escolheu o general Paulo Sérgio
Nogueira de Oliveira como novo comandante do Exército. Ele substitui o general
Edson Pujol, demitido ontem com os comandantes da Aeronáutica e da Marinha,
após rejeitarem tentativas do presidente de politizar as Forças Armadas. Foi a
primeira vez na história que um presidente trocou a cúpula militar do País no
meio do mandato.
Ao escolher o general Paulo Sérgio no Exército, Bolsonaro
repete a ex-presidente Dilma Rousseff ao quebrar a tradição de optar pelo
oficial mais antigo para comandar a tropa. O nomeado era o terceiro pelo
critério de antiguidade e seria o quinto caso dois outros generais não tivessem
passado para a reserva nesta quarta-feira.
Logo após o anúncio, Bolsonaro postou uma foto com o
ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e os três novos comandantes.
Além de ser o terceiro na lista de antiguidade, o general
Paulo Sérgio não era a primeira opção de Bolsonaro e nem mesmo o preferido
dentro do Exército. Antes de ser alçado ao comando da tropa, ele chefiava o
Departamento-Geral do Pessoal, um cargo administrativo, considerado de menor
importância internamente. O general também contrariou o presidente em recente
entrevista ao jornal Correio Braziliense em que apontou a possibilidade de uma
3.ª onda da covid-19 no País e defendeu isolamento social. Bolsonaro é crítico
às restrições impostas por governadores e prefeitos como forma de conter a
propagação da doença.
Pesou a favor de Paulo Sérgio, porém, o fato de ter um perfil
apaziguador, hábil no trato com subordinados, e um estilo “um manda, outro
obedece”, como definiu certa vez o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da
Saúde que teve a gestão marcada por apenas cumprir as ordens do presidente.
Nos bastidores, o ex-comandante do Exército e atual assessor
especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Eduardo Villas Bôas, é
apontado como avalista da nomeação. O oficial da reserva, de quem Bolsonaro é
próximo, foi decisivo para a promoção de Paulo Sérgio a general quatro
estrelas, o topo da carreira militar.
O novo comandante do Exército também é próximo ao
ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, amigo do presidente, mas que
foi demitido nesta semana por resistir a ofensivas de Bolsonaro.
Azevedo deixou o cargo por algumas razões: 1) ter mandado o
general Eduardo Pazuello de volta para o quartel, quando Bolsonaro queria
alocar o ex-ministro da Saúde na Esplanada; 2) se recusou a confrontar decisões
do Supremo Tribunal Federal, como queria o presidente; 3) se recusou a trocar o
comandante do Exército, Edson Pujol, com quem Bolsonaro nunca teve boas
relações.
Com a escolha de Paulo Sérgio, porém, Bolsonaro tenta
apaziguar os ânimos e passar a mensagem para a tropa de que vai manter a
continuidade.
Ao anunciar os novos comandantes, o general Braga Netto,
novo ministro da Defesa, destacou o papel dos militares no enfrentamento da
covid-19 e disse que as Forças Armadas “não faltaram no passado e não faltarão
sempre que o País precisar”. “O Exército, a Marinha e a Aeronáutica se mantêm fiéis
a suas missões constitucionais de defender a pátria e garantir as liberdades
democráticas. O maior patrimônio de uma nação é a liberdade de seu povo”,
afirmou. Ao se referir ao presidente, Braga Netto disse que o Comandante
Supremo escolheu os comandantes.
Preterido na escolha, o general mais antigo na cúpula do
Exército, general José Luiz Freitas, elogiou a indicação pelas redes sociais. “Escolhido o novo Comandante do Exército, Gen Paulo Sérgio, excepcional figura
humana e profissional exemplar. Como não poderia deixar de ser, continuaremos
unidos e coesos, trabalhando incansavelmente pelo Exército de Caxias e pelo
Brasil!”, postou o general, que deve ir para a reserva em três meses.
O segundo na lista de antiguidade era o general Marcos
Antonio Amaro dos Santos, chefe do Estado-Maior do Exército, que cuidou da
segurança da ex-presidente Dilma e foi chefe da Casa Militar no governo da
petista.
À frente deles estavam ainda os generais Décio Luís Schons e
César Augusto Nardi de Souza, que passaram oficialmente à reserva a partir
desta quarta-feira, 31, e já foram substituídos no Alto Comando.
Marinha e Aeronáutica
Na Marinha, o escolhido por Bolsonaro foi o almirante de
esquadra Almir Garnier, atual secretário-geral do Ministério da defesa. Neste
caso, o presidente também ignorou a tradição e optou pelo segundo da lista de
antiguidade. O primeiro era o almirante de esquadra Alípio Jorge Rodrigues da
Silva, comandante de Operações Navais.
No Ministério da Defesa, Garnier atuou como assessor
especial militar dos ministros Celso Amorim, Jaques Wagner, Aldo Rebelo e Raul
Jungmann.
Na Aeronáutica, assumirá o brigadeiro Carlos Almeida
Baptista Junior, que demonstra nas redes sociais ser afinado ao governo,
compartilhando mensagens ligadas a grupos de direita. Ele era o primeiro no
critério de antiguidade.
Baptista Junior assume o cargo que já foi do pai dele no
governo de Fernando Henrique Cardoso. Na época, Carlos de Almeida Baptista foi
deslocado do Superior Tribunal Militar para o comando da Aeronáutica também num
momento de crise com os militares, após a Corte reabrir a investigação do caso
do atentado no Riocentro. Ele exerceu a função de 1999 a 2003.
Antiguidade
Mais cedo, antes das escolhas serem anunciadas, o
vice-presidente Hamilton Mourão defendeu o respeito ao critério de antiguidade
na escolha da nova cúpula militar.
“Eu julgo que a escolha tem que ser feita dentro do
princípio da antiguidade, até porque foi uma substituição que não era prevista.
Quando é uma substituição prevista, é distinto. Então, se escolhe dentro da
antiguidade e segue o baile”, afirmou o vice, que é general da reserva.
O presidente também havia sido aconselhado a seguir a lista
para não criar atritos com generais mais experientes.
Isso porque os oficiais mais antigos passam à reserva se um
militar mais “moderno”, com menos tempo de Exército, for alçado ao comando. A
aposentadoria não é uma regra compulsória, mas costuma ter força de norma não
escrita nos quartéis.
Os oficiais costumam pedir para deixar a ativa como forma de
não serem comandados por um antigo subordinado, uma inversão na hierarquia. (Felipe Frazão e Eliane Cantanhêde – Estadão);
Foto: Dida Sampaio/Estadão