O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter boas e
muito animadas conversas em particular com a presidente Dilma Rousseff. Mas
quando está longe dela, o anjo vira um diabo de tanta maledicência.
Lula, pela influência que ainda exerce, deveria refletir
melhor sobre o que fala, abstendo-se de, em público, criticar ou ficar a toda
hora chamando a atenção da presidente Dilma Rousseff.
Tudo parece desandar, é verdade, para onde se olhe na
atuação do governo federal, não se identifica nenhum setor que justifique o
otimismo. Temos um ministro atuando como
o cavaleiro solitário, o Lone Ranger das historias em quadrinho, chamado para
ordem na bagunça. Mas do outro lado temos nada menos de 38 ministros que não
querem saber de recursos escassos.
Mas exatamente por estar o
Brasil atravessando momento delicado, não é o melhor momento para
criador ficar espicaçando sua criatura, retirando-lhe autoridade.
Ontem, em desarrumada participação em cerimônia organizada
na Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
pela CUT e a Federação Única dos Petroleiros, Lula insinuou que a
Presidente estivesse adotando a postura de ema (que em momentos difíceis
enterra a cabeça no chão): tem de mudar essa postura, disse Lula referindo-se a
Dilma, tem de levantar a cabeça e dizer [eu ganhei as eleições]!
Há dias, Lula reclamou que Dilma havia destruído seu legado
na esfera a política externa. Segundo relato da imprensa, não desmentido, no
ano passado Lula convidou o ministro Luiz Alberto Figueiredo para uma conversa
em São Paulo. Para saber o que tinha desandado na área, Lula insistia,
Figueiredo desconversava, até que o ex-presidente foi a ponto: [É a Dilma, não
é?].
Desde o ano passado, Lula vem sistematicamente dando trancos
em Dilma. Em março, em almoço promovido
pela Merril Lynch, disse, ferinamente, que já havia advertido a Presidente para
que ela deixasse de atuar como uma ministra e assumisse de vez a Presidência da
República: | Tem de delegar, tem de ser mais líder e menos general|.
Em junho, em Porto Alegre, em evento patrocinado pelo jornal
espanhol El País, Lula foi abundante em críticas contra a política econômica de
nossa governanta-mor. No final do mesmo dia, o Instituto Lula desculpou-se
pelos ataques do ex-presidente, alegando que eles haviam sido feitos em tom de
brincadeira.
Em outubro, na reta final da campanha presidencial, foi a
vez de uma meia-irmã de Lula, Lindinalva Silva, dar sua bordoada: [Dilma já
teve a chance dela. Em quatro anos não fez o que prometeu.]
Mais tarde no ano, Dilma foi apunhalada nas costas pelo
secretário-geral da Presidência e pessoa da intimidade de Lula, Gilberto
Carvalho. Em novembro, em entrevista à BBC, Carvalho disse sem qualquer
constrangimento que comparativamente ao governo anterior, o de Dilma não
conseguira avançar grande coisa.
Críticas à Presidente não são exclusividade de Lula. Não são
poucos os dirigentes tradicionais do PT
a têm em baixa conta. Em setembro de 2013, o ex- -ministro da Casa Civil do
governo Lula e mais influente dirigente do PT depois do ex-presidente, José
Dirceu chamou Dilma de“incompetente” e desastrada, misso diante
de uma dezena de convidados para um almoço, em Brasília.
Mas Dilma é a presidente do Brasil e esses ataques que lhe
fazem do PT ? gerados pela vocação original da agremiação, que é ser oposição
– só fazem comprometer ainda mais a
governabilidade do País. (Pedro Luiz Rodrigues-Diário do Poder)