A hipótese de que o “vírus do
beijo” [Vírus Epstein-Barr – EBV], causador da mononucleose, pode ser uma das
causas da esclerose múltipla (EM) ganhou força. O estudo de uma equipe da
Universidade de Harvard analisou amostras de 10 milhões de jovens adultos nos
Estados Unidos e apontou que o EBV pode aumentar em 32 vezes o risco de
desenvolvimento da EM. A doença acomete 15 a cada 100 mil habitantes no
Brasil, cerca de 40 mil brasileiros, segundo o Ministério da Saúde, que
sinaliza para mais de 2,8 milhões de pessoas com EM no mundo. Instrumento de
alerta e conscientização, 30 de maio é o Dia Mundial da Esclerose
Múltipla.
Embora não seja prova de causa, o
achado é a evidência mais forte até o momento, implicando nessa relação do EBV
com a Esclerose Múltipla, que é a doença desmielinizante inflamatória autoimune
mais comum do sistema nervoso central. “Entre os distúrbios do sistema nervoso
central, a EM é a causa mais frequente de incapacidade permanente em adultos
jovens, atrás apenas do trauma”, como explica o coordenador do Capítulo de
Neurologia da Clínica AMO, André Muniz.
“A esclerose múltipla afeta mais
mulheres do que homens e a idade média do início da doença está entre 28 e 31
anos. Dormência e sensação de alfinetadas no corpo, fraqueza muscular, perda de
visão ou visão dupla estão entre os principais sintomas”, enumera o médico,
acrescentando que o paciente também pode sentir-se tonto ou desequilibrado, ter
problemas para andar ou falar e apresentar falta de controle no intestino ou
bexiga, entre outros.
Está entre as causas da doença a
predisposição genética (com alguns genes já identificados que regulam o sistema
imunológico), combinada com fatores ambientais, como as infecções virais (caso
do Vírus Epstein-Barr), baixos níveis de vitamina D, tabagismo ativo ou passivo
e obesidade na adolescência entre outras.
O neurologista André Muniz
explica ainda que o termo esclerose refere-se à cicatriz que surge no lugar das
células quando elas sofrem inflamação e perdem o revestimento esbranquiçado de
mielina, o que provoca a má condução dos sinais nervosos. O termo “múltipla” se
dá porque as cicatrizes se apresentam em diversos pontos do encéfalo e da
medula espinhal.
A depender de como progride, a EM
pode ser classificada em três tipos:
Recorrente-remitente – Os sintomas (chamados de ataques, recaídas ou surtos) vêm e vão, podendo durar
dias a semanas e geralmente melhoram lentamente. Entre os ataques, as pessoas
geralmente sentem-se normais. O padrão Recorrente-remitente é o tipo mais comum
de EM, com 85% dos casos.
Secundária progressiva – Algumas pessoas que começam com EM recorrente-remitente atingem um estágio em
que os sintomas começam a piorar constantemente, mesmo quando não estão tendo
ataques.
Primária progressiva – Os sintomas pioram constantemente desde o
início com acúmulo de incapacidade.
Diagnóstico e tratamento
Além de uma abordagem ampla, com
recomendações sobre estilo de vida, nutrição, atividade física e controle de
aspectos emocionais, no tratamento do paciente com EM são utilizados os
imunomoduladores, medicamentos que atuam no desarranjo existente no sistema
imune. O protocolo farmacológico envolve medicações orais, subcutâneas e
aplicações endovenosas com intervalos específicos e definidos pelo
neurologista.
“Quanto mais cedo for feito o
diagnóstico, com início do tratamento precoce, menores os riscos de progressão
da doença”, alerta o neurologista André Muniz. Basicamente, o tratamento busca
abreviar a fase aguda, aumentar o intervalo entre um surto e outro e diminuir a
progressão.
Em caso de suspeita de EM, que
começa com avaliação clínica, o médico deve solicitar ressonância magnética do
cérebro e da medula espinhal. O estudo do líquor também pode indicar a
doença com marcadores biológicos importantes e há um teste chamado “potenciais evocados” ou “respostas evocadas”, quando,
através de eletrodos, observam-se os sinais elétricos no cérebro e na medula
espinhal.
Outro exame utilizado é a
tomografia de coerência óptica, que usa uma luz especial para observar o
interior dos olhos em busca de sinais de comprometimento da doença, conforme
esclarece o neurologista André Muniz. (Ascom).
Foto: Divulgação/Ascom