O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
esquivou-se de responder diretamente se vai permanecer no cargo caso o Supremo
Tribunal Federal (STF) receba uma denúncia que o acusa de peculato, falsidade
ideológica e uso de documento falso. No final da manhã desta quarta-feira (3)
foi divulgado que o STF terá de decidir em breve se Renan – quarto na linha da
sucessão da presidência – deve se tornar réu. Na noite de terça, o relator do
caso, ministro Luiz Edson Fachin, liberou a decisão sobre o recebimento da
denúncia para julgamento pelo plenário. A investigação sobre Renan é feita no
âmbito da apuração sobre suposto recebimento de propina da construtora Mendes
Júnior para apresentar emendas que beneficiariam a empreiteira, em 2007. O
escândalo levou-o a renunciar à presidência do Senado na ocasião para não ter o
mandato o cassado. Na chegada nesta quarta a seu gabinete, o peemedebista não
respondeu se continuará à frente da presidência do Senado e do Congresso se o
Supremo torná-lo réu. [Nós já demos todas as explicações, eu não posso tratar
de detalhes porque isso está tramitando lá em segredo de Justiça. Duas outras
denúncias já foram arquivadas], disse Renan, sem detalhar o que teria sido
rejeitado. Questionado pela primeira vez se fica no cargo, Renan não respondeu
diretamente: [Ninguém mais do que eu tem interesse no esclarecimento desses
fatos. Vocês lembram, eu é que pedi a investigação para que essas coisas todas
definitivamente se esclarecessem]. Perguntado se novamente permanece, ele disse
apenas um [obrigado] e encerrou a entrevista. Logo depois disso, a assessoria
de imprensa de Renan divulgou a seguinte nota: [Em respeito ao Poder Judiciário
e às Leis do País, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), informa
que já prestou todos os esclarecimentos solicitados]. Pelos mesmos fatos, o
senador já é alvo de ação por improbidade administrativa movida pelo Ministério
Público Federal, conforme revelou o Broadcast Político (serviço de notícias em
tempo real da Agência Estado), e já virou réu. O processo corre na 14ª Vara
Federal do Distrito Federal. Renan é acusado de enriquecer ilicitamente e de
forjar documentos para comprovar a legalidade dos recursos. O processo por
improbidade é uma ação civil e não precisa tramitar no STF, foro para ações
penais de autoridades. A Procuradoria da República no Distrito Federal diz que
a Mendes Júnior pagou pelo menos R$ 246 mil para Mônica Veloso, com quem Renan
teve um filho. Renan já é alvo, no STF, de outros seis inquéritos abertos para
apurar suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, investigado
no âmbito da Operação Lava Jato.
Ricardo Brito e Beatriz Bulla | Estadão Conteúdo
Foto: Marcelo Camargo/ ABr