PALOCCI E ODEBRECHT SE REUNIRAM 27 VEZES, DIZ LAVA JATO

A força-tarefa da Operação Lava Jato constatou que o
ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma)
reuniu-se 27 vezes com o empreiteiro Marcelo Odebrecht. A informação consta da
denúncia criminal da Procuradoria da República contra Palocci, Odebrecht e mais
13 investigados na Operação Omertà, 35.º desdobramento da Lava Jato.

Os investigadores descobriram a rotina de encontros entre
Palocci e Odebrecht analisando a agenda pessoal do empreiteiro. [Tais reuniões
ocorreram em datas próximas aos períodos em que observada a solicitação de
interferência de Antonio Palocci em altas decisões do Governo Federal],
assinala a Procuradoria.

Palocci foi preso na Omertà em 26 de setembro. Odebrecht
está preso desde 19 de junho de 2015 – condenado a 19 anos de reclusão no
esquema de propinas na Petrobras, o empreiteiro tenta encurtar sua permanência
no cárcere da Lava Jato oferecendo delação premiada.

Os investigadores da Omertà sustentam que Palocci captou
pelo menos R$ 128 milhões da Odebrecht e destinou parte desse valor ao PT, seu
partido. O ex-ministro foi denunciado formalmente por corrupção e lavagem de
dinheiro.

Para o Ministério Público Federal, a constatação sobre os
encontros sucessivos entre Palocci e Odebrecht reforça o vínculo entre o
ex-ministro e o empresário.

[Relevante ainda referir que tais reuniões ocorreram, em sua
maioria, ou no escritório de Antonio Palocci ou nas residências dele ou de
Marcelo Odebrecht, deixando evidente o intuito de que os encontros ocorressem
em ambiente privado, com controle de acesso e sem o conhecimento de terceiros],
assinalam os procuradores que subscrevem a denúncia criminal.

A investigação mostra que outros executivos ligados à
Odebrecht participavam das reuniões de Palocci e o empreiteiro. Os procuradores
que acusam Palocci, Odebrecht e mais treze alvos da Omertà analisaram
correspondências eletrônicas.

[Já não fosse esse número de reuniões bastante significativo
a demonstrar o vínculo espúrio entre o ex-ministro e os empresários, cabe ainda
destacar que as reuniões com Antonio Palocci, também com propósitos ilícitos,
eram, em algumas vezes, realizadas por outros executivos do grupo, como por
exemplo, Alexandrino Alencar, conforme elucidado em um e-mail, o que revela que
os encontros foram ainda mais intensos do que o documentado na agenda de
Marcelo Odebrecht.]

Os procuradores anotam que o próprio Palocci admitiu não ter
firmado, [em tempo algum, contrato de consultoria com a Odebrecht ou com sua
empresa, a Projeto Consultoria].

[Desta forma, não há qualquer razão minimamente lícita para
que Antonio Palocci atuasse em favor dos interesses da Odebrecht e para que
fossem realizadas as tratativas e acertos de contrapartidas efetivamente
estabelecidas entre ele e os executivos do Grupo], ressaltam os procuradores da
força-tarefa.

Os acusadores argumentam, ainda. [Da mesma forma, se não
havia qualquer relação comercial lícita, não há qualquer motivo regular para
que fossem realizados tantos encontros e discutidos temas tão intimamente
ligados às decisões da alta administração federal.]

Os procuradores cravam a [atuação ilícita] do ex-ministro de
Lula e Dilma. [Neste cenário, tendo em vista que a atuação ilícita de Antonio
Palocci em favor dos interesses da Odebrecht se deu de forma reiterada e
duradoura e que o ex-parlamentar, durante o período de 2006 a 2015, se colocou
efetivamente à disposição da empreiteira para solucionar as mais diversas
questões de interesse da empresa, os valores de contrapartida ilícita
contabilizados em seu favor se acumularam e se avolumaram com o passar do
tempo.]

Segundo a denúncia no âmbito da Operação Omertà, entregue ao
juiz federal Sérgio Moro, valores ilícitos eram destinados ao PT.

Os procuradores atribuem a Palocci o papel de [gestor de
conta paralela] da propina da empreiteira. [Conforme os créditos ilícitos
decorrentes da atuação ilícita de Antonio Palocci fossem sendo reconhecidos e
gerados no âmbito da Odebrecht, Marcelo Odebrecht determinava que os valores
fossem contabilizados internamente (na empreiteira), a fim de que fossem
futuramente empregados para o pagamento de despesas do Partido dos
Trabalhadores, conforme orientação de Antonio Palocci, o gestor de tal conta
paralela. Da mesma forma, conforme os valores fossem sendo entregues, o saldo
era deduzido, atualizando-se a planilha.]

Reação da defesa

O advogado José Roberto Batochio, que defende Antonio
Palocci, reagiu com indignação à denúncia do Ministério Público Federal. [É uma
acusação monstruosa, absolutamente divorciada de qualquer elemento indiciário
arrecadado nos autos.]

De acordo com ele, o único elemento considerado pela denúncia
é um [papelucho tratado como [planilha] sob a rubrica de [Italiano]. [Os
acusadores já apontaram esse [Italiano] como sendo Fernando Migliáccio, depois
Guido Mantega, depois um engenheiro italiano e, agora, na quarta tentativa,
querem atribuir este apelido a Palocci], destacou. [Puro artificialismo. O que
temos é um apelido em busca de um personagem. Demonstrado que [Italiano] não é
Palocci, quem será a quinta vítima?], indagou.

Batochio afirmou que nem tomou conhecimento da denúncia, mas
que esperava que, diante da [anemia do inquérito (da Polícia Federal), o
Ministério Público Federal o arquivasse]. [Aliás, a Polícia Federal não
encontrou sequer suspeita de lavagem de dinheiro, conforme o seu relatório, mas
o Ministério Público Federal, mais realista que o rei, resolveu criar mais esta
acusação], salientou. (AE)

(FOTO: MONTAGEM/ ABR E WORLD ECONOMIC FORUM)

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