Movimentos sociais ocupam sedes de três construtoras em São Paulo

Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST) e de outros movimentos socais fizeram passeatas e ocuparam sedes de
construtoras na capital paulista hoje (8). Eles são contra os gastos públicos
com a Copa do Mundo e consideram essas empresas símbolo desses gastos.

Os militantes do MST saíram em marcha junto com os
integrantes do coletivo Resistência Urbana, no Metrô Butantã e se dividiram em
grupos que protestaram em três empresas: a Odebrecht, na Marginal Pinheiros,
próximo à Ponte Eusébio Matoso, a AOS Empreendimentos, na Avenida Angélica,
centro, e a Andrade Gutierrez, na Rua Doutor Geraldo Campos Moreira, no
Brooklin.

A Odebrecht foi a responsável pela construção do
Itaquerão, estádio do Corinthians que vai sediar o jogo de abertura da Copa do
Mundo em São Paulo, no dia 12 de junho. Aproximadamente 100 militantes jogaram
tinta e utilizaram sprays, fizeram pichações e chegaram a entrar no saguão do
escritório da empresa. Na AOS Empreendimentos, cerca de 100 manifestantes
colaram cartazes e também entraram por alguns minutos no saguão. Já na Andrade
Gutierrez, 50 pessoas participaram do ato.

?Odebrecht ganha bilhões com a Copa em cima do sangue de
operários e do dinheiro de todos nós?, diz um das faixas do grupo. Em outro
cartaz, a foto do diretor-presidente da empresa é divulgada com a frase ?Fora,
Odebrecht?. Por volta das 11h, o movimento foi encerrado.

Para Kelly Maffort, integrante da direção nacional do
MST, um dos impeditivos para a reforma agrária no país é a designação de um
orçamento de apenas 0,15 para essa finalidade. ?Esse número é extremamente
baixo e cai a cada ano, mas o Estado brasileiro tem se dedicado a grandes
investimentos em grandes eventos, como a Copa?, declarou. Ela critica também o
fato de que os recursos públicos estejam sendo destinados para empresas.

Em relação à Odebrecht, Kelly destacou que a empresa,
embora seja mais conhecida pelos empreendimentos na área de construção civil,
também está ligada ao agronegócio por meio da empresa ETH, que atua no setor
sucroalcooleiro, como ocorre no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do
estado. A região é conhecida por conflitos agrários relacionados à grilagem de
terra.

Segundo Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST,
as ações fazem parte da abertura da campanha Copa sem Povo, Tô na Rua de Novo.
?Vai ter mobilizações semanais dos movimentos populares urbanos para denunciar
os abusos e as medidas impopulares feitas em relação à Copa?, disse ele.

Em nota, a Odebrecht lamentou a invasão e disse que a
fachada e a recepção foram pichadas e alvo de vandalismo. A empresa diz que
respeita qualquer manifestação pacífica, mas repudia esse tipo de ação. Para
preservar a integridade dos funcionários, a construtora reforçou a segurança e
pediu ajuda da polícia.

A Andrade Gutierrez informou que respeita toda e
qualquer manifestação pública pacífica e entende que isso representa o
exercício da democracia. ?No entanto, a companhia lamenta e repudia atos de
vandalismo e violência”, diz o comunicado.

Já a assessoria de imprensa da AOS Empreendimentos ainda
não se pronunciou sobre o assunto.

Estava previsto para hoje um ato no estádio, durante a
visita da presidenta Dilma Rousseff. A atividade, no entanto, foi suspensa,
porque, segundo o MTST, o governo federal se comprometeu a receber o movimento.
?A pauta são as mudanças no Programa Minha Casa, Minha Vida, medidas de
prevenção de despejo forçado no país e uma nova lei do inquilinato?, enumerou
Boulos.

Copa
do Povo

As mais de 2,8 mil famílias sem-teto que ocupam, desde o
último sábado (3) um terreno em Itaquera, zona leste paulistana, prometem
resistir à ação de reintegração de posse determinada ontem (7) pelo Tribunal de
Justiça de São Paulo. A liminar, concedida pelo juiz Celso Maziteli Neto,
autoriza a expedição de um mandado de despejo, caso eles não deixem o local
voluntariamente em 48 horas. O MTST disse, por meio de nota, que vai recorrer
da decisão em favor da Viver Incorporadora, ?por considerá-la injusta e
descriteriosa?.

Para o movimento, a medida desconsidera o fato de que a
área está abandona há anos e, portanto, não cumpre função social. O MTST
promete não sair da área até que haja negociação para uma solução habitacional
digna para as famílias. Em caso de despejo forçado, o movimento promete
resistir. ?Não queremos outro massacre do Pinheirinho. Nem que a imagem da Copa
do Mundo no Brasil seja definitivamente marcada por um conflito violento e
massacre de trabalhadores sem-teto?, diz a nota.

 

A ocupação foi batizada de Copa do Povo, porque fica a
apenas quatro quilômetros do estádio do Corinthians, o Itaquerão, que vai
sediar a abertura dos jogos. ?Escolhemos esse terreno justamente para dialogar
com esses contrastes da Copa do Mundo. Bilhões são gastos com o evento e do
outro lado temos milhares de pessoas sem moradia?, explicou Josué Rocha, integrante
do MTST. Ele destaca que o evento fez com que o preço dos aluguéis duplicasse,
aumentando ainda mais o déficit habitacional na região.

O prefeito Fernando Haddad disse, na segunda-feira (5),
que avalia a possibilidade de transformar o terreno em área de interesse social
por meio do Plano Diretor, que ainda vai ser votado em segunda discussão na
Câmara de Vereadores. A assessoria do vereador Nabil Bonduki, relator do plano,
informou que o atual zoneamento define a área como predominantemente industrial.
Disse ainda que essa alteração é possível por meio de emenda, mas que é
necessária uma análise técnica sobre a viabilidade de um projeto habitacional
no local.

A Viver Incorporadora informou, por meio de nota, que o
terreno em questão é de sua propriedade e que não existe inadimplência de
impostos em relação à área. (Rede Brasil Atual/RBR)

Tópicos