“A política mudou, mas ainda há muito a ser revisto”, diz Roberto Santos em sua última entrevista

Ex-governador da Bahia, professor e médico, Roberto Santos concedeu sua última entrevista ao Soterópolis Notícias. O conteúdo, gravado antes de seu falecimento em 9 de fevereiro de 2021, foi recuperado recentemente e publicado pela primeira vez.

Soterópolis Notícias (SN) – Como o senhor vê a política na atual conjuntura em relação ao tempo em que foi governador do Estado?

Roberto Santos (RS) – As diferenças são muitas, sem dúvida. O Brasil evoluiu, o Brasil cresceu, tem crescido. Claro que há modificações em relação ao período em que fui governador. Hoje acompanho os acontecimentos como alguém que já deu sua contribuição, que já esteve na linha de frente. Mas continuo observando, e percebo que a Bahia e o Brasil têm avançado bastante em relação ao que já foram.


SN – O senhor, como professor e cientista político, como avalia a criação de tantos partidos no país?

RS – Houve um tempo em que vivíamos as limitações do bipartidarismo, e havia uma reclamação muito grande a esse respeito, o que se justificava. Talvez por termos passado tanto tempo nesse regime, quando veio a abertura partidária, buscou-se corrigir os excessos do passado, mas fomos um pouco longe demais. As limitações para a criação de partidos, que antes eram tão rigorosas, acabaram ficando extremamente flexíveis. Depois disso, é muito difícil estabelecer qualquer restrição mínima.


SN – O resultado é que hoje estamos com aproximadamente 28 partidos. Isso atrapalha?

RS – Vinte e oito partidos, de fato. E isso dificulta tanto a atividade legislativa quanto o trabalho do Executivo, que precisa dialogar com muitos interlocutores. Essa dispersão acaba atrasando decisões e compromete a agilidade da política. Creio que já seria tempo de rever os critérios para a criação de partidos. Uma reformulação seria benéfica tanto para o Legislativo quanto para o Executivo.


SN – Há muito tempo se fala em reforma partidária. Na sua visão, quando ela poderá acontecer?

RS – A reforma já deveria ter ocorrido. Quando houve a liberação total para a criação de partidos, faltou estabelecer critérios mais equilibrados. Essa falta de limites trouxe problemas que poderiam ter sido evitados. Se tivesse sido feita uma reforma ainda naquele momento, com regras menos liberais, muitas dificuldades teriam sido superadas. Ela está atrasada, sem dúvida. Seria essencial para facilitar decisões do Executivo, entendimentos no Legislativo e, de forma geral, o funcionamento da política em nível federal e estadual.


SN – Recordando a história política da Bahia, como o senhor avalia a transição do período do carlismo para o atual momento, sob a gestão do governador Jaques Wagner?

RS – “O período ao qual você se refere faz parte do passado.” Sem dúvida, o governador Wagner é um político muito hábil, com ideias e projetos favoráveis ao futuro da Bahia. Sua forma de conduzir o Estado tem trazido resultados importantes e, seguramente, continuará trazendo cada vez mais sucesso.


Assim encerra-se a última entrevista concedida por Roberto Santos, ex-governador da Bahia, professor, médico e político, lembrado por seus correligionários como “professor Roberto Santos”. (SN).

Foto: Pedro Moraes/GOVBA