Da existência de dois Brasís, o dos ricos e o dos
pobres, ninguém duvida desde Pedro Álvares Cabral. O inusitado, agora, é reconhecermos também a realidade de
duas Dilmas. Não deixam dúvidas seus pronunciamentos no Congresso e
no parlatório do palácio do Planalto, ao
tomar posse pela segunda vez. A presidente declarou: |nenhum direito a menos!
Nenhum passo atrás!| Referia-se à
legislação trabalhista.
Ora bolas! Dois
dias antes ela havia enviado Medida
Provisória ao Legislativo, cortando pela metade o abono salarial, o seguro-desemprego, o auxílio-doença, as
pensões por morte do cônjuge e até os benefícios aos pescadores impedidos de
pescar. Qual das duas Dilmas será a verdadeira?
O processo de redução das prerrogativas sociais foi
iniciado faz muito, nos idos de 1964, prolongando-se até o momento em que,
imaginávamos, seria estancado, com a ascensão do governo dos trabalhadores.
Presumia-se, até, o restabelecimento de alguns direitos trabalhistas, como a
estabilidade no emprego.
Adianta pouco ou nada constatar que as supressões acima
citadas estão longe de significar meros
ajustes e eliminação de excessos, como quer o governo. Foi supressão mesmo, ou seja, abre-se outra
vez o saco de maldades. Só que Dilma, depois de suprimir, tripudia: |Nenhum direito
a menos!| |Nenhum passo atrás!| Quem
garante?
O grotesco nessa farsa está no silêncio da CUT e do
PT. Nenhuma voz sindical ou partidária
foi ouvida daqueles que tinham por obrigação defender o trabalhador. Por
ironia, foram os tucanos a protestar, eles que nos tempos de Fernando Henrique Cardoso
fartaram-se de reduzir direitos sociais. A conclusão é de estar abandonada a
classe operária, precisamente pelos que deveriam guardá-la.
Múltiplas contradições podem ser pinçadas no discurso da
presidente da República, ficando a impressão de ser outro o país que ela
governa. O que será, na concepção dela,
o |menor sacrifício possível| a ser exigido pelo ajuste fiscal que vem por ai?
O VELHO E O NOVO
Apenas a partir de segunda-feira os agora ex-ministros transmitirão os cargos aos
novos, já empossados mas ainda sem
coragem para assumir. Seguindo o exemplo
da presidente Dilma, os integrantes do governo do segundo mandato ampliaram
desde ontem o fim de semana. Poucos
permaneceram em Brasília. (Diário do Poder)