O índio pede socorro

Esta data poderia ser comemorada com entusiasmo se
os indígenas fossem respeitados e essa população deixasse de ser dizimada pelo
poder econômico que fere, espanta, amedronta e mata. A história do dia 19 de
abril é muito interessante, mas mostra que já em 1940 quando foi realizado, no
México, um congresso interamericano exatamente para discutir a situação dos
índios, apenas compareceram autoridades governamentais de países da América. Os
líderes indígenas também foram convidados para as discussões, mas como estavam
desconfiados, resolveram não aparecer nos primeiros dias.

 

O tempo passou e depois de reuniões acaloradas, os
índios aceitaram o convite porque entenderam a preocupação dos organizadores do
congresso que se aliaram a luta pela sobrevivência dos [caras pintadas], dando
uma prova que não comungavam com o terror promovido pelos [homens brancos]. A
participação dos líderes indígenas no evento ocorreu no dia 19 de abril e o
então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, criou em 1943 a data para comemorar
o Dia do Índio, através do decreto 5.540.

 

O que me chama atenção é que tudo isso aconteceu no
século passado e as aberrações, mesmo com o esforço do governo, ainda ocorrem.
Hoje no Brasil, é grande o número de índios que vivem em situação de pobreza,
sem direito a escola, sem casa e sem segurança. Os conflitos ocorrem envolvendo
madeireiros, posseiros, sem terra e [donos] de terra que promovem o desrespeito
e a diminuição das populações indígenas. Parece até que essas pessoas
esqueceram que em 1500, quando os portugueses chegaram ao Brasil, só
encontraram índios e uma natureza exuberante que encantou a todos.

 

O problema foi justamente o encanto. Os olhos
dos colonizadores cresceram e os índios começaram a ser humilhados, presos e
escravizados por se tratar de mão-de-obra barata. Com o passar do tempo, os
conflitos por terra ocorreram com frequência e em 1961 foi criada uma reserva como
forma de preservar a cultura, os povos indígenas e a natureza. O Parque
Indígena do Xingu foi o primeiro lugar demarcado visando à preservação dos
pré-coloniais.

 

A defesa dos primeiros moradores da terra chamada
Brasil, se fortaleceu com a criação da Fundação Nacional do Índio-Funai. O
órgão passou a definir políticas de proteção às comunidades indígenas
brasileiras. Mas infelizmente, vira e mexe a imprensa divulga conflitos e mais
conflitos envolvendo índios e fazendeiros. O quadro é triste. No Extremo Sul da
Bahia, os conflitos ocorrem entre fazendeiros, sem terra e índios.

 

Para garantir seus direitos, quarta-feira (15), cerca
de dois mil índios representando 12 etnias fizeram protesto na Assembleia
Legislativa, em Salvador. Já em Brasília, um dia depois, centenas deles
participaram da sessão na Câmara em homenagem ao Dia do índio. Na pauta de
reivindicações, o avanço da reforma agrária e a revogação da PEC 215 que tira
do Executivo o poder de demarcar terras indígenas e passa para o Legislativo.
Quando vejo esse tipo de manifestação fico inquieta por não entender como o
homem ainda é capaz de colocar interesses pessoais à frente de qualquer
discussão.

 

Diante desses fatos, fica a reflexão para que toda
questão indígena seja analisada com mais atenção. Os historiadores dizem que
antes da chegada dos europeus, havia cerca de 5 milhões de índios no Brasil e
100 milhões no continente americano. A minha preocupação é para evitar que no
amanhã o índio deixe de existir e esses povos sejam apenas representados nas
escolas, por exemplo, através de figuras e fotos ou pelos cânticos de Baby do
Brasil ao afirmar que [todo dia era dia de índio e agora
ele só tem o 19 de abril].

 

Tia Eron é deputada federal e presidente do PRB na
Bahia.

Foto: Agência Câmara

 

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