MACACOS, BANANAS E PRIVADAS NA CABEÇA- MALU FONTES

Na semana em que a banana entrou na moda pela porta dos
fundos, a do preconceito, o Brasil e parte do mundo fizeram uma súbita
descoberta: #somostodosmacacos. Foi um #deusnosacuda no universo paralelo das
hashtags e dos trendtopics. A turma dos hypes uniu forças e posts com a dos
modernetes, que, por sua vez, passou, num clicar de teclas, a compartilhar toda
a pauta do movimento negro. Tudo ia muito bem até que, estimulado pela presença
de espírito de Daniel Alves no campo espanhol, ao degustar a banana-fruta
atirada por um banana-gente preconceituoso, Luciano Huck com sua máquina de
fazer dinheiro entrou em outro campo, o da web, para ganhar dinheiro com o
episódio.

A metade da laranja do casal louro mais famoso e rico do
show bizz tupiniquim acionou seu lado aperfeiçoadíssimo de mascate e camelô da
indústria do bem e, em segundos, sua caixa registradora já tilintava com as
vendas de uma camiseta logomarcada com #somostodosmacacos. Ao preço módico de
70 reais, diga-se. Ou umas tantas parcelas constrangedoras de 11 reais e alguns
centavos. Mas, uma vez digerida a banana de Daniel, o bom senso começou a dar o
ar da graça aqui e ali. Os ânimos da macacada de primeira hora começaram a
arrefecer e começaram os murmúrios de que a banda não deveria ser tocada bem
assim. Do ponto de vista genético é mais do que razoável e sensato
lembrarmo-nos todinhos da nossa herança símia, mas, por outro lado, houve quem
lembrasse que repetir o coro dos preconceituosos de que ser macaco é normal e
legal pode, sim, reforçar os estereótipos.

Assim, o disco foi mudando de letra e começou a dar
lugar a um tímido #somostodoshumanos. Sim, pode-se dizer que foi a fome de
marketing e de dinheiro de Neymar e Huck que começou a amarelar o orgulho de
ser macaco. Umas tecladas e pronto: descobriu-se que o mantra que virou hashtag
e trendtopic, bem como uma campanha publicitária mais ampla com esse mote,
havia sido encomendada por Neymar e já estava prontinha da silva antes mesmo de
Daniel Alves comer a banana. Esse,
  sim,
até que se prove o contrário, autor de um gesto espontâneo.

Sim, claro, até aí celebridades do primeiro ao quinto
escalão, passando por aquelas que há muito já habitam o subsolo da decadência e
do esquecimento público, acorreram todas às suas redes sociais em poses de
engolidores de bananas. Enquanto isso, a turba sem fama, mas com algum senso
crítico, começou logo a perceber que assumir a condição de macaco estava mais
para assumir-se como banana. E, na falta de alguém melhor para bater, desceu o
verbo em Huck. A enxurrada de críticas foi tão pesada que o bom rapaz do
narigão logo mexeu os pauzinhos para, como sempre, ficar bem na fita: anunciou
que não embolsaria um centavos da camiseta dos macacos. Doaria tostão por
tostão a entidades do bem. Nem por isso parou de apanhar. Assim, com alguma
perversão, e aproveitando para atirar uma casquinha de banana podre na Globo, o
Fantástico da Record, que atende pelo nome de Domingo Espetacular, anunciou em
tom solene que o marido de Angélica entregou os pontos: desistiu de vender, a
esta altura, a maldita camisa símia.

Diante desse barulho todo, os compradores certamente se
sentirão meio bananas usando a camisa por aí, pois comer a fruta permanece uma
boa ideia, mas autocharmar-se de macaco já não tá soando tão bem na fita. E,
aqui entre nós, é fácil faturar com a relação macacos versus bananas. Em tempos
de Copa quero ver é neguinho vender graça usando outros bichos que atiram
privadas na cabeça de torcedores, matando-os, como aconteceu na última
sexta-feira no estádio do Arruda, em Recife. (Malu Fontes)
http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/malu-fonte

 

 

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