Pedro Simon caracterizou-se, desde os tempos do velho
MDB, como depois, no Senado durante trinta anos, por dizer o que sempre
precisou ser dito, mesmo incomodando adversários e aliados. São dele os
discursos mais críticos, candentes e incisivos diante das grandes questões
nacionais, atropelando governos e oposição, ditadura e democracia.
Pois superou-se esta semana, num apelo feito da tribuna
do Senado para que o bom senso volte a pairar sobre o país.
Diante da possibilidade de grupos de pressão conturbarem
a copa do mundo, hipótese a ser confirmada ou não a partir de amanhã, Simon
começou vergastando o que chamou de vaidade doentia do ex-presidente Lula.
Disse que a copa do mundo jamais foi prioridade para nós, especialmente com a
construção de suntuosos palácios que são os estádios. Até denunciou a profunda
megalomania do primeiro-companheiro, que pretendia jogos da copa em todas as
capitais, quer dizer, um novo estádio em cada estado, implantados todos à custa
de centenas de bilhões de reais, recursos capazes de ser utilizados em
hospitais, escolas e obras de infraestrutura. Foi a Fifa que limitou as
partidas a doze sedes: ?Por ser corintiano, o Lula impôs o Itaquerão, do
Corintians, quando o Morumbi serviria muito bem, com um ou outro melhoramento?.
A seguir analisou as razões para a metade do país
haver-se insurgido desde junho do ano passado contra as omissões do poder
público. Nada mais natural e justo do que as manifestações de protesto
verificadas desde então, de Norte a Sul, ainda que ninguém possa concordar com
os excessos, as depredações e as invasões. Até por conta disso muitos jovens
tem refluído, mas o fundamental é registrar a indignação nacional frente a
governos desorganizados e omissos.
No entanto, apesar da importância dos movimentos
populares de protesto e da orgia praticada pelo governo do PT ao trazer a copa
do mundo para o Brasil, a verdade é que ela vai começar. O planeta tem seus
olhos voltados para o Brasil. Contestar a nação organizada, perturbando a
realização do certame significará imperdoável ação, capaz de nos mostrar como
país de última categoria. As greves são até necessárias, em nome dos direitos
do trabalhador. Mas multiplicá-las nessa hora, fazendo-as coincidir com a copa,
com que objetivo?
A obrigação maior da sociedade é para com o país, disse
ainda Pedro Simon. E o interesse nacional não aceita a perturbação que nos
envergonhará, nesse momento. O Lula e a presidente Dilma passarão, apesar de
seus erros. O Brasil ficará. Não pode, assim, dar ao mundo uma demonstração de
intolerância e radicalismo. Pelo período em que a copa acontece, suspender as
hostilidades é dever de todos. Se a competição não der certo, se for
obstaculada, o prejuízo para nossa nação será muito maior e definitivo.
O senador lembrou, por fim, que nos tempos da ditadura
foi chamado até de covarde, quando se insurgiu contra a luta armada. Enfrentou
quantos pretendiam mudar o regime pelas armas. Pregou a volta à democracia pela
firmeza da resistência. Deu certo. Agora, seu apelo é para que durante a copa
se interrompam as manifestações sociais mais do que justas, em benefício de
causa mais importante, a nossa imagem a ser preservada interna e externamente.
A lamentar dessa verdadeira aula de coragem, ética e
democracia está o fato de que breve deixaremos de ouvir da tribuna do Senado
lições como mais essa, magistral e necessária. Simon decidiu não se candidatar
a mais um mandato, entendendo ser preciso dar a vez a outros. Uma pena? (Diário do Poder)