Anos atrás havia um pouco mais de pudor, se quiserem,
menos matreirice, quando no segundo semestre de anos eleitorais o Congresso
funcionava pela metade, dando às folgas para as campanhas o nome de recesso
remunerado. Agora chama-se esforço concentrado, exatamente a mesma coisa.
Pois no esforço concentrado desta semana o que
produziram deputados e senadores, já de volta hoje a seus estados, para só
retornarem a Brasília por uma semana, em setembro?
Dizer que nada será exagero, mas não erra quem
acrescentar ?muito pouca coisa?. O Senado perdeu-se na discussão interminável
de ter havido ou não maracutaia na CPI da Petrobras. Longas tertúlias entre as
bancadas do governo e da oposição para acusação e defesa de ter o palácio do
Planalto instruído seus parlamentares e seus depoentes para perguntas e
respostas adredemente preparadas. E mais a votação do projeto que cria 200
novos municípios. Não serão os 400 antes intentados, que Dilma Rousseff vetou,
mas fizeram pela metade, agora de acordo com a presidente. Mais despesas,
câmaras de vereadores, prefeitos, secretários, rombo no Fundo de Participação
dos Municípios e gastos de toda ordem. Tudo com sentido político-eleitoral e
com mínimas vantagens para o interior do país, porque nem a proposta de
adequação das dívidas dos estados entrou em pauta.
Só que na Câmara, se não foi pior, deu empate. Os
deputados empurraram com a barriga e não votaram a emenda constitucional que
viabiliza os direitos trabalhistas das empregadas domésticas. Também não
votaram o decreto legislativo que anula o decreto executivo das consultas
populares, antes objeto da sagrada ira parlamentar diante do governo. Jogaram
para o futuro a aprovação da PEC 170 que beneficiaria os aposentados por
invalidez. Não houve acordo, da mesma forma, para o projeto que flexibiliza o
horário da Voz do Brasil. Deixaram de apreciar a emenda que extingue o fator
previdenciário. Nada de modificar a jornada de trabalho dos motoristas
profissionais. Para as calendas também ficou a discussão da responsabilidade
fiscal dos clubes de futebol, apesar dessas e outras iniciativas estarem na
ordem do dia.
Em suma, não houve esforço, apesar de a concentração ter
excedido as expectativas, pois Câmara e Senado funcionaram apenas na terça e na
quarta-feira. Ontem, vale repetir, escafederam-se todos para seus estados,
visando empenhar-se nas campanhas pela própria reeleição e nas disputas pelos
governos estaduais e a presidência da República. Encenou-se mais um capítulo
desse longo recesso remunerado, porque deixar de receber seus proventos, Suas
Excelências não cogitaram? (Carlos Chagas/Diário do Poder)