Eleições pós-Campos. De onde vem e para onde vai

Desde a trágica perda de Eduardo Campos passei a
divulgar algumas análises do cenário eleitoral. Minha ideia neste texto é
compilar um pouco de tudo que aconteceu até aqui e os traçar análises sobre o
que virá a partir de agora.

Desde o princípio não duvidei que Marina aceitasse o
posto de candidata. Ela pode ser imprevisível, mas não está fora de si. Deseja
muito ser Presidente da República e tudo se alinhou para que isto acontecesse.
A escolha do vice, que recaiu sobre o deputado gaúcho Beto Albuquerque, também
não me surpreendeu. O PSB precisa de Marina e Marina precisa do PSB. Alguns
mais apressados divulgaram que se falava no nome de Roberto Freire, do PPS, no
Palácio Campo das Princesas. Ora, o PSB não abriria mão de indicar o vice mantendo
pelo menos parte do controle da chapa. O nome escolhido poderia ainda ter sido
Maurício Rands, Renato Casagrande, Rodrigo Rollemberg ou até mesmo Júlio
Delgado. O nome de Beto surgiu como uma alternativa porque é conciliador,
antigo membro do partido e próximo de Eduardo. Sua habilidade política serve
tanto para a campanha quanto para um eventual governo.

Minha previsão era de que Marina chegasse na casa dos
27 , patamar atingido na última pesquisa em que foi testada. Já chegou a 20 ,
segundo o Datafolha. Mas irá além. Minha previsão é que alcance logo algo em
torno de 27 -30 do eleitorado. Portanto isso corrobora o que venho dizendo, ou
seja, quem pode empurrar Aécio para fora do segundo turno é Marina Silva. A
disputa do tucano pela segunda vaga é diretamente com ela. No caso de Dilma, a
tendência é que chegue ao segundo turno, pois estará sempre na média histórica
de votos do PT, na casa dos 30 . Se Aécio esperar demais pela acomodação do
cenário para reagir, poderá ser tarde demais. A campanha é curta.

Enquanto muitos desdenham da terceira-via, agora
representada por Marina, sugiro um pouco menos de soberba e mais atenção. Esta
alternativa pode não ter empolgado com Eduardo, mas com Marina toma um corpo
diferente. No passado fui um dos que alertou para o fato de que, como vice, ela
não transferiria votos para Eduardo, mas na cabeça de chapa teria chances
reais. Foi o que ocorreu. Sua chegada ao comando da candidatura torna viável a
idéia de Campos de criar uma terceira-via. Marina encarna este personagem,
demandado pelas manifestações de 2013. Ela carrega uma imagem de outsider, de
alguém fora do establishment. Não é preciso de pesquisas qualitativas para
deixar isto claro.

Por esta razão Marina não cresceu em cima dos votos de
Dilma ou de Aécio. Ela cresceu entre os indecisos, brancos e nulos, ou seja,
exatamente o eleitorado carente de uma voz que os representasse. Se Marina
realmente representa isso, é outra história, mas certamente o eleitorado a
identifica desta forma. Ela é forte entre mulheres, jovens e em cidades
maiores. Seu próximo salto de crescimento, agora para a casa dos 27 -30 , se
dará arrancando um pouco do eleitorado de seus dois adversários: Aécio e Dilma
e ela cresce mesmo com pouco tempo de TV ? vide 2010.

Logo, Aécio precisa se movimentar. Com a mudança de
cenário, ele precisa de uma mudança de estratégia. Apesar de disputar a vaga
com Marina, sua campanha não deve dividir espaço com ela. Abriu-se a
oportunidade para Aécio estabelecer um contraponto maior ao governo, assumindo
claramente um projeto oposicionista. Esta é sua única chance de vencer. O
discurso conciliador caiu no colo de Marina. Se Aécio continuar por este
caminho, tende a ficar de fora.

O segundo turno é outra história, mas colocado hoje,
tende para Marina também. Ela vence Dilma. Dilma vence Aécio. A possibilidade
de enfrentamento entre Aécio e Marina é quase nula e depende de uma reação
tucana e um grande desgaste petista, hoje vetores muito improváveis. Os
petistas sonham enfrentar Aécio, pois sabem que esta é praticamente sua única
chance de tentar alcançar a vitória.

Por fim, uma dica. Prestem atenção em Beto Albuquerque.
A História nos ensina que Presidentes ?outsiders? eleitos no embalo de uma nova
forma de fazer política geralmente não terminam mandatos. (Diário do Poder)

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