Em 1º debate, Dilma busca desconstruir imagem de |bom gestor| de Aécio, que chama a petista de leviana

Parecia um debate entre candidatos ao governo de Minas. E
não à toa. No primeiro duelo entre Dilma Rousseff e Aécio Neves neste segundo
turno, organizado pela TV Bandeirantes, o caráter plebiscitário predominante
entre dois projetos de governo deu lugar, em diversos momentos, a uma espécie
de balanço da administração do tucano em Minas Gerais. A estratégia do estafe
petista era desconstruir a imagem de gestor do tucano apresentada em sua
propaganda.

Acuada pelas suspeitas de suborno na Petrobras, que marcaram
o noticiário na última semana, e pelos índices da atividade econômica, a
presidenta optou por elencar uma série de números negativos a respeito da
administração de Aécio no estado. Dilma questionou a construção de um aeroporto
com dinheiro público na fazenda de um tio do candidato, o desvio de R$ 7,6
bilhões dos recursos mínimos previstos em lei para a Saúde citado pelo TCE-MG,
os gastos em publicidade oficial em veículos da família Neves, o endividamento
e a contratação de funcionários sem concurso do estado. Esta última referência,
que resultou em uma condenação no STF, foi levantada após o candidato defender
a meritocracia na administração pública.

A tática colocou na defensiva o candidato, que iniciou o
debate fazendo elogios a Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele só citou a neoaliada Marina Silva, candidata derrotada do PSB à
Presidência, em suas considerações finais.

Em tom irônico, ele tentou logo no início dissociar a imagem
da presidenta à de seu antecessor ao dizer que os problemas na economia eram o
resultado de decisões equivocadas dos últimos quatro anos. Ele ironizou, por
exemplo, a declaração do secretário de Política Econômica da Fazenda, Márcio
Holland, segundo quem a população deveria substituir carne bovina por ovo e
frango diante da alta dos preços. ?É essa a sua política de combate à
inflação??, perguntou. Ele ironizou também o fato de Guido Mantega ter sido
demitido em plena campanha e continuar a exercer o cargo de ministro da
Fazenda. E citou os investimentos do BNDES para a construção de um porto em
Cuba, ponto comum na crítica de eleitores que rejeitam o projeto petista. Para
Aécio, faltava transparência às ações do banco de fomento, uma crítica usual,
também, de lideranças do mercado e do setor produtivo.

O desafio era se apresentar como o candidato das mudanças
sem colocar em risco a vigência de programas sociais. Mais de uma vez, os
candidatos debateram a paternidade de programas sociais como o Bolsa Família. A
briga levou o candidato a dizer que o Plano Real era o grande projeto de
inclusão social do País. E que, se alguém deveria ser lembrado como pai do
Bolsa Família, esse alguém era FHC. Dilma se irritou com a fala. ?Agora o
senhor foi longe demais. Entrou no perigoso terreno da fábula?, respondeu a
petista.

No momento mais tenso do debate, Dilma acusou o tucano de
improbidade administrativa e de nepotismo. Disse que Aécio empregava em seu
governo a sua irmã, tios e primos. O adversário a desafiou a dizer qual era o
cargo da sua irmã, mas não havia tempo para tréplica. O sorriso de ironia que
marcara o início do embate começava a se desmanchar.

O tema da corrupção foi levada ao debate por Aécio, que
citou as declarações à Justiça do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
sobre desvios na companhia. As informações constam da delação premiada do
ex-dirigente à Justiça. Dizia não ter visto indignação, por parte da
adversária, com o caso. Ela respondeu que sua indignação era a mesma de todos
os brasileiros. E voltou a afirmar que em seu governo suspeitas como as da
estatal são investigadas. Em seguida, listou uma série de escândalos dos
governos tucanos, do caso Sivam ao mensalão mineiro, passando pelo cartel do
metrô, a compra da emenda da reeleição e o aeroporto na fazenda da família. ?Os
acusados estão todos soltos?, disse.

Quando tinha chance de fazer perguntas a Aécio, Dilma
tentava levar o tucano a dizer o que pensava dos programas de seu governo. O
tema preferencial era o Pronatec (que o rival elogiou, mas prometeu
aperfeiçoar), mas passou também por questões como a ?violência contra a
mulher?.

Mais de uma vez Aécio disse que a candidata mentia e a
acusou de leviana. Ele defendeu a construção do aeroporto na fazenda do tio e
fez referências aos altos índices de popularidade de seu governo no estado.
Dilma contra-argumentou lembrando ter tido mais votos que ele entre os
mineiros.

As provocações entre os candidatos levavam o eleitor a se
indagar se sobraria artilharia para a maratona de debates até o fim da próxima
semana: no SBT, na Record e na Globo. Neste primeiro, prevaleceu a lógica de
mostrar que as acusações de sujeira partem de rivais mal-lavados. Se o eleitor
se sensibilizará com a estratégia, as próximas pesquisas é que dirão.

Blog do Matheus Pichonelli

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