As pesquisas mentem?

Daqui até domingo deveremos ter a divulgação do lote
final de pesquisas, que por ora apontam uma disputa cheia de reviravoltas entre
Dilma e Aécio, ao mesmo tempo que ajudam a |adivinhar| o humor do eleitor.
Dilma subiu consistentemente nos últimos dias; já o tucano segue melhor no
sudeste. A divulgação desses números, que transformam muitas vezes a campanha
em uma espécie de corrida maluca, ganha uma dramaticidade maior nas horas
finais. Seu efeito imediato sobre o eleitor é o de produzir o favoritismo (no
momento, de Dilma) de um ou outro candidato. Via de regra, quem está na frente
comemora e quem vem atrás |acusa| as pesquisas (as mesmas pesquisas que seu
staff  político usa com grande
intensidade, diga-se).

 Favoritismo conta
pois muita gente gosta de votar em quem está ganhando para não |desperdiçar| o
voto, por exemplo. Mas dá para confiar em pesquisas?

 Como não sou fã
de teorias conspiratórias e faltam elementos concretos de acusação, prefiro
acreditar nas pesquisas, considerando, em primeiro lugar, que elas não são
bolas de cristal, mas antes retratam o sentimento do eleitorado em momentos
específicos. São retratos de um determinado dia, até de uma determinada hora.
Colados juntos ao longo do tempo esses retratos podem nos dar um filme das
tendências de opinião. Pesquisas medem, afinal, essa coisa volúvel que é a
|opinião|. Opinião sobre o governo (cuja avaliação vem melhorando desde o
inicio do programa de TV), sobre o que pensam segmentos específicos do
eleitorado e tudo o mais.

 A velocidade com
que esta opinião mudou ao longo dos últimos meses ? e pode mudar nas próximas
48 horas ? surpreendeu os institutos de pesquisa. Talvez este seja um fato novo
em 2014. Uma hipótese viável é que com acesso maciço às redes sociais ?
facebook e whatsapp ? o eleitor manejou um volume de informações maior do que
no passado, vindas de fontes diversas. Oscilações grandes de opinião podem
estar acontecendo em ?tempo real?, e as pesquisas podem ficar |velhas| em um
piscar de olhos.

 Seja como for,
arrisco dizer que, na verdade, as pesquisas, ao menos na esfera presidencial,
não erraram tanto assim em 2014. No primeiro turno as votações de Dilma e
Marina |bateram| com o que os institutos vinham divulgando, dentro da chamada
margem de erro. Está certo, as pesquisas apontaram uma votação menor em Aécio,
mas por outro lado ?captaram? o seu movimento de ascenção alguns dias antes da
votação. Também é verdade que houve uma distância enorme em alguns resultados
estaduais, como na Bahia (que |prejudicou| o PT), mas na maioria das disputas
regionais os números mais se aproximaram dos resultados das urnas do que se
afastaram, ao menos na captação de tendências.

 Mas sobretudo, se
as pesquisas são fajutas, como explicar que as campanhas políticas as usem com
tanta intensidade? Os números que vêm a público ? em geral de levantamentos
encomendados por órgãos de imprensa ou associações empresariais ? são apenas
uma pequena amostra do que é produzido internamente para as campanhas, ao menos
essas que têm dinheiro, pois a brincadeira é cara. A partir delas se definem
estratégias e mensagens-chave que saem da boca dos candidatos.

 Que o eleitor
tenha acesso a uma ínfima parte deste universo é, na verdade, um fator de
democratização de um tipo de informação, que do contrário ficaria restrita
apenas às campanhas. O resultado da corrida maluca saberemos em breve. Afinal,
como diz o velho chavão político, importa mesmo é o que sai das urnas. (Blog do
Rogério Jordão)

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