Mês passado (outubro de 2016) fui acordado por uma voz
dizendo-se jornalista Lauro Jardim. Por três vezes, em dias diferentes. Nas
duas primeiras desliguei. Atendi na terceira vez:
– Oi. Aqui é o Lauro Jardim. Notei que você cancelou sua
assinatura de O Globo……
Só aí ficou claro para mim a gravação e seu objetivo: vender
assinatura do jornal. É a primeira vez que vejo jornalista vendendo o jornal
que trabalha. É uma inovação, sem dúvida. Revela um anunciante atento mas
evidencia falhas na trajetória de venda do produto. Faz anos que sou
bombardeado por outras vozes, de funcionários ou não, do jornal, tentando
vender assinaturas.
É dramática a situação da mídia impressa no Brasil. Existem
informações de fechamentos de jornais impressos numa velocidade preocupante.
Estima-se em três por dia no país à fora. As causas são Internet, custos de
produção e infraestrutura cada vez mais altos, despreparo dos donos para lidar
com uma nova realidade e um modelo de negócio totalmente ultrapassado. Não é só
no Brasil. É no mundo inteiro. E no jornal O Globo não é diferente. Logo
teremos novidades por lá.
Assim como a veiculação encontrou fórmulas modernas para
tentar incrementar a circulação, provavelmente os outros colunistas do jornal
também gravaram mensagens de vendas, estes ventos criativos precisavam soprar
nas redações. Não só de O Globo, mas em todos os jornais do país.
Chama atenção que eles morrem dentro de velhas fórmulas. Não
ousam e não inovam atrelados a um modelo de redação superado que não consegue
atrair novos leitores e tampouco manter os velhos. Vão definhando aos poucos.
Permanecem atrelados ao modelo de redação dos anos 40 do século passado. Não
prestam a menor atenção nas novas gerações cujas formas de expressões e
linguagem sofreram alterações profundas. Até mesmo a maneira como se apresentam
as notícias mudou. Os jornais permanecem no mundo do passado. Não dá para competir
com a linguagem digital. Nesta, o que não é importante fica reduzido a
pouquíssimas palavras e é definido em poucos dígitos. O que é importante tem
uma incrível forma e trajetória que interessa e é lido e visto por milhões. Até
mesmo as notícias que saem nos jornais, na linguagem digital adquirem outro
formato. O jornal impresso ao invés de incluir-se nesse novo mundo afastou-se.
E pior: burramente criou barreiras de acesso para suas versões digitais. Se
isso não basta, trataram de levar para a tela do computador o mesmo modelo
impresso. É muita falta de criatividade mesmo.
O caso de O Globo é exemplar. Interessantes apenas as
manchetes. Colunas pesadas, com raciocínios tortuosos e longos. Matérias sem
objetividade e muitas vezes com textos escaldados e sem conteúdo
relevante. Na página de opinião e nos
artigos temáticos a maioria dos autores apenas justificam posições em busca de
seus caminhos. Textos inconsequentes, em sua maioria. Não defendem ideias e projetos.
Justificam posições em arrazoados desinteressantes e inócuos. Pior que o press
release. Fazem lob ou justificam-se perante seus nichos. Não há pautas que os
tornem atraentes. São poucos aqueles que
realmente atraem pela atualidade e textos objetivos. E estes é que seguram o
jornal.
Colunas diversas e todas tratando de frivolidades. Inclusive
na política. O retrato fiel da política brasileira são algumas colunas de O
Globo: piadas. Uma imensa estrutura de produção de conteúdo, com gente
talentosa, mas desinteressante. Em dez, doze notas, escapam duas ou três com
densidade. No caso das colunas até se entende, mas não justifica.
Causa espanto os
acontecimentos recentes em Brasília quando uma maré de jornalistas foi incapaz
de relatar com fidelidade o clima do impeachment. Todos se dizem bem
informados. Mas ninguém é capaz de explicar como um exército de profissionais
não foi capaz de antecipar aos seus leitores o segredo que mais da metade do
Congresso Nacional sabia: o fatiamento do processo de cassação da ex-presidente
Dilma. Esquecem que são bem relacionados apenas para servir ao leitor. Em plena
era da informação os jornais prestam cada vez menos serviços e informam menos.
A realidade se encarrega de informar melhor, de ser mais rápida e sem
barreiras. A internet que o diga.
Os leitores perdem o interesse, a publicidade foge. Para se
financiarem os grandes jornais partem para a publicidade de patrocínio. É
quando determinadas marcas aparecem junto aos textos de determinadas
coberturas. Mas o leitor imagina e sabe que este modelo não favorece a
independência e a isenção necessárias.
Governos e suas marcas também são generosos no financiamento
desta prática. Mas o que resulta daí vem mofado, insosso, suspeito, quando não
comprometido mesmo. (HILDEBERTO ALELUIA-DIÁRIO DO PODER)