Presidente defende o multilateralismo, a Amazônia e critica os “negacionistas” que negam a ciência e atrasam o combate às mudanças climáticas
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30) foi aberta na manhã desta segunda-feira (10) em Belém do Pará, reunindo chefes de Estado, governadores, cientistas, representantes de organizações internacionais e movimentos da sociedade civil.
O evento, que se estende até o dia 21 de novembro, marca a primeira vez que uma COP é sediada no coração da Amazônia, reforçando o protagonismo do Brasil nas discussões globais sobre o clima.
A ciência, a educação e a cultura são o caminho”
A cerimônia de abertura foi conduzida pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente da 30ª edição do evento. Em seu discurso, ele enfatizou o papel da cooperação internacional:
A ciência, a educação e a cultura são o caminho que nós temos que seguir e, para o combate à mudança do clima, o multilateralismo é definitivamente o caminho.”
Logo após, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu seu pronunciamento homenageando o povo paraense e destacando a hospitalidade da região.
É muito difícil falar sem antes homenagear o povo do Pará. Vocês que vieram de outros países, prestem atenção: vão participar de um evento em um estado com um povo maravilhoso.”
O presidente agradeceu ao governador Helder Barbalho e ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, pela organização do evento, e brincou com os convidados ao recomendar a culinária local:
Aqui vocês vão comer comida que não comeram em nenhum lugar do mundo. E não se esqueçam de provar a maniçoba.”
“Fazer a COP aqui é um desafio tão grande quanto acabar com a poluição”
Lula afirmou que sediar o evento na Amazônia é um ato de coragem política e um símbolo do compromisso do Brasil com o planeta:
Fazer a COP aqui é um desafio tão grande quanto acabar com a poluição do planeta. Seria mais fácil ter feito em uma cidade pronta, mas escolhemos Belém para provar que, quando há vontade política e compromisso com a verdade, nada é impossível.”
E completou com emoção:
O impossível é a gente não ter coragem de enfrentar desafios. Portanto, meus parabéns a vocês, delegados e delegadas, representantes de governos e ao povo do Pará. Parabéns por darem a todos nós essa lição de civilidade, essa lição de grandeza humana.
Em seguida, Lula fez uma crítica contundente à lógica bélica mundial:
Se os homens que fazem guerra estivessem aqui nesta COP, perceberiam que é muito mais barato colocar 1 trilhão e 300 bilhões de dólares para acabar com o problema que mata, do que investir 2 trilhões e 700 bilhões em guerras, como vimos no ano passado.
O presidente destacou que o evento deixará um legado de infraestrutura e investimento para a capital paraense:
Quando vocês deixarem Belém, o povo da cidade permanecerá com os investimentos de infraestrutura que foram feitos aqui para receber vocês.”
A COP-30 será a COP da Verdade”
Em um dos trechos mais contundentes, Lula chamou esta edição de “a COP da Verdade”, e atacou o negacionismo climático e a disseminação de desinformação.
Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio, espalham o medo e atacam as instituições, a ciência e as universidades.”
O presidente afirmou que o mundo caminha “na direção certa, mas na velocidade errada” e alertou para o risco de ultrapassar o limite de 1,5°C de aquecimento global, previsto no Acordo de Paris.
Romper essa barreira é um risco que não podemos correr.
Amazônia no centro do debate
Lula lembrou que a Amazônia abriga cerca de 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas, espalhados por nove países. Ele criticou a visão limitada que reduz o bioma a um território abstrato.
Quem só vê a floresta de cima desconhece o que se passa à sua sombra.
Durante seu discurso, o presidente anunciou o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, que mobilizou US$ 5,5 bilhões em investimentos, além de compromissos sobre manejo do fogo, posse de terra para povos tradicionais e combate ao racismo ambiental.
“A emergência climática é uma crise de desigualdade”
Em tom de apelo, Lula dividiu sua fala em três eixos: cumprir compromissos, acelerar a ação climática e colocar as pessoas no centro da agenda ambiental.
Precisamos de um mapa do caminho para que a humanidade supere a dependência dos combustíveis fósseis, reverta o desmatamento e mobilize recursos para esses fins.
O presidente também propôs a criação de um Conselho do Clima vinculado à Assembleia Geral da ONU, para fortalecer a governança global.
A emergência climática é uma crise de desigualdade. Ela aprofunda a lógica perversa que define quem é digno de viver e quem é digno de morrer.
Encerrando esse trecho, Lula afirmou:
Devemos aos nossos filhos e netos a oportunidade de viver em uma terra onde ainda seja possível sonhar.
A inspiração da floresta
Ao final, o presidente citou o xamã Yanomami David Kopenawa, referência mundial em defesa dos povos indígenas:
O pensamento na cidade é obscuro e esfumaçado, obstruído pelo ruído das máquinas. Espero que a serenidade da floresta inspire em todos nós a clareza de pensamento necessária para ver o que precisa ser feito.”
Sob aplausos, Lula concluiu:
Uma boa COP e muito obrigado.
ENTENDA: O que é a COP
A Conferência das Partes (COP) é o principal encontro internacional sobre mudanças climáticas, organizada pela ONU desde 1995. Reúne representantes de quase 200 países para discutir medidas de combate ao aquecimento global.
- COP-21 (Paris, 2015): firmou o Acordo de Paris, marco global de metas de redução de emissões.
- COP-27 (Egito, 2022): criou o fundo para perdas e danos climáticos.
- COP-30 (Belém, 2025): primeira edição realizada na Amazônia.
Belém (PA) – 10 de novembro de 2025

Fonte: Soterópolis Noticias
Fotos: Reprodução/TV

