A alta recente do dólar e as
incertezas em torno da inflação e da economia global fizeram o Banco Central
(BC) aumentar o ritmo de alta dos juros. Por unanimidade, o Comitê de Política
Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5
ponto percentual, para 11,25% ao ano. A decisão era esperada pelo mercado
financeiro.
A alta consolida um ciclo de
contração na política monetária. Após passar um ano em 13,75% ao ano, entre
agosto de 2022 e agosto de 2023, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um
corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões
de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano, começando a
aumentar a Selic na reunião de setembro, quando a taxa subiu 0,25 ponto.
Em comunicado, o Copom informou
que a incerteza nos Estados Unidos se ampliou. Sem citar diretamente a eleição
do ex-presidente Donald Trump, o texto mencionou “a conjuntura econômica
incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da
desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed
[Federal Reserve, Banco Central norte-americano]”.
Em relação ao cenário doméstico,
o Copom informou que está acompanhando a política fiscal e cobrou ajustes dos
gastos públicos. “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e
comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de
medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das
expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos
financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, destacou o
comunicado.
Inflação
A Selic é o principal instrumento
do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em setembro, o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial,
subiu para 0,44%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), puxado pela bandeira vermelha nas contas de luz e pelo preço dos
alimentos, que subiu por causa da seca no início do semestre. O IPCA de outubro
só será divulgado na sexta-feira (8).
Com o resultado, o indicador
acumula alta de 4,42% em 12 meses, cada vez mais próximo do teto da meta deste
ano. Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de
3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não
podia superar 4,5% nem ficar abaixo de 1,5% neste ano.
No último Relatório de Inflação,
divulgado no fim de setembro pelo Banco Central, a autoridade monetária elevou
para 4,31% a previsão para o IPCA em 2024, mas a estimativa pode subir ainda
mais mudar por causa da alta do dólar e do impacto da seca prolongada sobre os
preços. O próximo relatório será divulgado no fim de dezembro.
As previsões do mercado estão
mais pessimistas. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com
instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o
ano em 4,59%, acima do teto da meta. Há um mês, as estimativas do mercado estavam
em 4,38%.
O comunicado do Copom trouxe as
expectativas atualizadas do Banco Central sobre a inflação. A autoridade
monetária prevê que o IPCA chegará a 4,6% em 2024 (acima do teto da meta), 3,9%
em 2025 e 3,6% no acumulado em 12 meses no fim do primeiro trimestre em 2026.
Isso porque o Banco Central trabalha com o que chama de “horizonte ampliado”,
considerando o cenário para a inflação em até 18 meses.
O Banco Central aumentou as
estimativas de inflação. Na reunião anterior, de setembro, o Copom previa IPCA
de 4,3% em 2024, de 3,7% em 2025 e de 3,5% no acumulado em 12 meses no fim do
primeiro trimestre em 2026
Crédito mais caro
O aumento da taxa Selic ajuda a
conter a inflação. Isso porque juros mais altos encarecem o crédito e
desestimulam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas maiores dificultam o
crescimento econômico. No último Relatório de Inflação, o Banco Central elevou
para 3,2% a projeção de crescimento para a economia em 2024. O número foi
revisado após o expansão de 3,1% do PIB em 2024.
A taxa básica de juros é usada
nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e
Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da
economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda
que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e
estimulam a poupança.
Ao reduzir os juros básicos, o
Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o
controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar
segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir. (Agencia Brasil).
(bahia.ba).
Foto: Marcelo Casal Jr/Agencia Brasil