Ceplac e os desafios do nosso tempo: sustentabilidade e inovação

A economia cacaueira no
Território do Litoral Sul da Bahia sempre enfrentou desafios típicos das
monoculturas, como deficiências em infraestrutura, tecnologia e financiamento.
Para enfrentar esses problemas, o governo federal criou, em 1957, a Comissão Executiva
do Plano de Recuperação Econômico-Rural da Lavoura Cacaueira (Ceplac), que
visava retomar o controle da produção de cacau e expandir a comercialização.

Com a criação da Ceplac, a
arrecadação de recursos por meio da taxa de retenção cambial foi fundamental
para a implementação de infraestrutura, assistência técnica e educação,
contribuindo para a recuperação da economia cacaueira, consolidando, ao longo dos
anos, a instituição como um vetor de desenvolvimento regional, com destaque
para a criação da Fespi, hoje Universidade Estadual Santa Cruz – Uesc.

A atuação da instituição aumentou
a produção e a qualidade do cacau. Contudo, a crise do setor, provocada pela
vassoura-de-bruxa, resultou na queda da produção nos anos 1990. A safra de
1999/2000 chegou a apenas 36% da média anterior.

A partir da década de 1980, a
Ceplac perdeu autonomia financeira, com a extinção da taxa de retenção cambial,
em 1989, e a transferência da gestão para o orçamento federal. A falta de
recursos e um modelo institucional desatualizado contribuíram para o enfraquecimento
da instituição, gradualmente reduzida a uma sigla no Ministério da Agricultura
e Pecuária. Apesar de diversas tentativas de revitalização, a Ceplac está
morrendo por inanição.

A recuperação da Ceplac e do
setor cacaueiro depende de um novo modelo de atuação, focado na
sustentabilidade. A Ceplac possui acúmulo técnico e científico e, com um novo
redimensionamento institucional, pode fortalecer a produção sustentável de
cacau, promovendo ganhos sociais e ambientais. A instituição tem se
reinventado, aprimorando o sistema cabruca, realizando pesquisas sobre novas
variedades e monitorando doenças que afetam a lavoura. Além disso, apóia o
desenvolvimento de chocolate tipo exportação, produzido por pequenas e médias
empresas, e colabora com universidades e centros de pesquisa em todo o país.

Com a 30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas ? COP 30, programada para 2025, em Belém do
Pará, a sustentabilidade estará no centro das atenções globais. O modelo de
produção de cacau-cabruca, aliado ao trabalho da Ceplac, é um exemplo de
sucesso que o Brasil deve compartilhar com o mundo. Para que a Ceplac cumpra
seu papel, é essencial o apoio das autoridades estaduais e federais para
estabilizar e fortalecer a instituição, garantindo que continue a contribuir
para o desenvolvimento sustentável do Sul da Bahia e do Brasil.

Davidson Magalhães (*)
Olival Freire Júnior (**)

(*) Professor da Uneb e
secretario do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia.

**) Professor da UFBa e
diretor científico do CNPq

Publicado na edição deste domingo
(29) do jornal A Tarde

(bahia.ba).

Foto: Assessoria Faeb/Senar

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