Com pandemia, PIB do Brasil encolhe 1,5% no 1º trimestre e regride ao patamar de 2012

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 1,5% no 1º
trimestre, na comparação com os 3 últimos meses de 2019, segundo divulgou nesta
sexta-feira (29) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado
reflete apenas os primeiros impactos da pandemia de coronavírus e coloca o país
à beira de uma nova recessão, uma vez que a expectativa é de um tombo ainda
maior no 2º trimestre.

A retração nos 3 primeiros meses de 2020 interrompe
uma trajetória de 3 anos de lenta recuperação da economia brasileira
, que
já mostrava perda
de ritmo na virada do ano
, e ainda se encontrava distante do patamar
anterior ao do início da recessão
de 2014-2016
.

Na comparação com o 1º trimestre de 2019, a queda foi de
0,3%
. Em valores correntes, o PIB no primeiro trimestre totalizou R$ 1,803
trilhão.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no
país e serve para medir a evolução da economia.

Após despencar 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016, a economia
brasileira registrou taxa de crescimento de 1,3% em 2017 e em 2018,
desacelerando para um ritmo de 1,1%
em 2019
. Os resultados dos últimos 3 anos permitiram o PIB do Brasil
recuperar apenas o patamar
de 2013
. Agora, com o choque provocado pela pandemia, a retomada deverá
demorar mais para ser alcançada.

O IBGE revisou os dados do PIB de 2019. No
primeiro trimestre, cresceu 0,2%, ao invés do resultado nulo divulgado
anteriormente. No 2º trimestre, a alta foi mantida em 0,5%. Já nos dois últimos
trimestres a revisão foi para baixo: no 3º trimestre, a alta foi de 0,5%, e não
0,6%, e a do 4º trimestre foi de 0,4%, ante 0,5% da divulgação anterior.

A queda no 1º trimestre foi o primeiro resultado negativo
para o PIB desde o final de 2018, uma vez que o IBGE revisou os dados do 4º
trimestre de 2018 para um recuo de 0,1% ante leitura anterior de estabilidade.

O que mais pesou na queda do PIB

De acordo o IBGE, a retração da economia neste começo de
2020 foi causada, principalmente, pelo recuo de 1,6% nos serviços,
setor que representa 74% do PIB. A indústria também caiu (-1,4%),
enquanto a agropecuária cresceu (0,6%)
.

Veja os principais destaques do PIB no 1º trimestre:

  • Serviços:
    -1,6% (1ª queda desde o 4º trimestre de 2016)
  • Agropecuária:
    0,6%
  • Indústria:
    -1,4% (1ª queda desde o 4º trimestre de 2018), quando foi -0,4%
  • Indústria
    extrativa: -3,2%
  • Construção
    civil: -2,4%
  • Consumo
    das famílias: -2% (1ª queda desde o 4º trimestre de 2016)
  • Consumo
    do governo: 0,2%
  • Investimentos:
    3,1%
  • Exportação:
    -0,9%
  • Importação:
    2,8%

Consumo das famílias tem maior queda desde 2001

Pela ótica da demanda, o consumo das famílias desabou 2%,
interrompendo uma sequência de 12 trimestres seguidos de alta.

?Foi o maior recuo desde a crise de energia elétrica em
2001?, destacou a pesquisadora do IBGE, acrescentando que o consumo das famílias
pesa 65% do PIB.

Por outro lado, os investimentos tiveram alta de 3,1% no 1º
trimestre, revertendo a queda registrada no trimestre anterior, puxados pela
importação líquida de máquinas e equipamentos pelo setor de petróleo e gás. Já
o consumo do Governo ficou praticamente estável (0,2%).

No setor exterior, as exportações de bens e serviços tiveram
contração de 0,9%, enquanto as importações cresceram 2,8% em relação ao quarto
trimestre de 2019.

As exportações foram bastante prejudicadas pela demanda internacional.
Um dos países muito importantes para a gente que tem afetado nossas exportações
é a Argentina. E a China também, que no primeiro trimestre foi o primeiro país
a fechar as fronteiras. Então as nossas exportações foram bastante afetadas?,
avaliou Rebeca.

Perspectivas para 2020

Como o resultado do PIB do 1º trimestre refletiu apenas as
primeiras semanas de isolamento social e das medidas de restrições para conter
o avanço da Covid-19, que começaram em meados de março, a expectativa é de uma
retração ainda mais profunda da economia entre os meses de abril e junho, uma
vez que indicadores já divulgados mostraram abalos ainda mais profundos, tanto
na produção e no consumo como no mercado de trabalho e na renda.

mercado
passou a projetar um tombo de 5,89% para o PIB neste ano
, segundo o
relatório “Focus” do Banco Central, e a maior parte dos analistas já
dá como certa a entrada no país em uma nova recessão, definida tecnicamente por
2 trimestres seguidos de retração da atividade. Caso a expectativa se
confirme, será
o pior desempenho anual desde 1901, pelo menos
.

Os economistas do mercado financeiro baixaram a previsão
para o PIB de 2020 nesta semana pela 15ª vez seguida. A nova redução da
expectativa para o nível de atividade foi feita em meio ao avanço da pandemia,
que tem derrubado a economia mundial e colocado o mundo no caminho de uma
recessão.

Nesta semana, o Brasil se tornou o novo epicentro mundial da
Covid. Já são mais
de 26 mil mortos e quase 442 mil casos confirmados
. O Brasil é o
segundo país no mundo com o maior número de casos confirmados da doença, atrás
dos Estados Unidos. (Darlan Alvarenga e Daniel Silveira, G1).

Foto: Fonte IBGE