Lucas 12, Lava-Jato e Arca de Noé: como são escolhidos os nomes das operações policiais?

A criatividade dos órgãos público e federal em batizar as operações de investigações criminais levantou um grande questionamento nas redes sociais: quem é o responsável por um dos trabalhos mais cobiçados pelas mentes criativas da internet?

Ora ora, parece que temos um Sherlock Holmes por aqui? O bahia.ba entrou em modo de investigação, alô CSI Miami, New York, Las Vegas, White Collar, Altered Carbon, Fargo, Criminal Minds, The Blacklist, Mindhunter, Law & Order e The Mentalist (tirando a parte do sangue é claro), para trazer a resposta pedida pelos internautas.

A curiosidade pelo tema surgiu após a operação da deputada federal Flordelis, acusada de matar o marido, Anderson do Carmo, que foi batizada de Lucas 12.

O nome é uma referência bíblica ao décimo-segundo capítulo do Evangelho de Lucas no Novo Testamento da Bíblia, que diz ?Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido?.

Ao bahia.ba, o investigador da Polícia Civil da Bahia, Horatio Caine*, contou que a escolha do nome é feita em conjunto, mas há casos em que a “criança” já vem batizada de uma outra família, o Ministério Público. “Normalmente quem preside o inquérito policial daquela ação que está é o delegado de polícia, e juntamente com ele tem as equipes de investigação. Então é um conjunto, ou pode ser o próprio delegado junto a unidade policial, ou o Ministério Público”.

Diferente de um bebê, que em muitos casos os pais dão o nome antes mesmo de ver o rosto seus traços, com as operações, as características do crime ou do suposto acusado são essenciais para o batismo. “Quando a gente descobre que o suposto autor é ligado uma denominação religiosa, por exemplo, nós usamos um termo bíblico ou algo que faça essa referência, até mesmo de uma forma lúdica, que vá levar a gente ao nosso objetivo, que é prender o criminoso ou as várias pessoas envolvidas nesse delito”, afirma Horatio.

Alguns dos exemplos usados pelo investigador foram as recentes operações que estão sendo realizadas na Bahia, como a Estroinas, que investiga a fraude em licitações para compra de equipamentos de combate ao Covid-19 e a palavra quer dizer “quem se comporta de maneira leviana e irresponsável e quem gasta dinheiro inconsequentemente ou acaba com os bens que possui”, e a Operação Silere, ação em combate à poluição sonora, nomeada da palavra em latim que quer dizer silêncio.

Foto: Reprodução / Instagram
Batizado de Lucas 12, a operação investiga o assassinato do pastor Anderson do Carmo, morto em 2019. A policia concluiu que deputada federal foi a mandante do crime (Foto: Reprodução / Instagram)

 

“Elas são escolhidas pelos policiais que estão coordenando a operação, muitas vezes ela tem relação com o alvo, ou com o assunto e algumas vezes tem relação com o propósito, digamos, se é para fechar o cerco com relação a uma quadrilha, pode ser o nome ‘Tolerância Zero’, por exemplo”, afirmou a assessoria da Secretaria de Segurança Pública.

Um artigo da Revista Piauí creditou o ex-diretor executivo da Polícia Federal, o delegado Zulmar Pimentel, como o primeiro a batizar uma operação, a Arca de Noé em 2002, que investigou organizações criminosas que realizavam jogo do bicho no Mato Grosso. Pimentel deixou o cargo ao ser um dos alvos da Operação Navalha, sob suspeitas de que estaria repassando informações sigilosas a colegas.

A tradição dos nomes diferenciados se manteve mesmo com a saída do oficial e segue colocando em prova a criatividade dos policiais e divertindo as pessoas, além é claro de cumprir com a função de solucionar os crimes. Confira algumas das operações com nomes curiosos:

Operação Highlander: referência ao guerreiro escocês imortal do século XVI, desvendou quadrilha que desviou durante mais de 30 anos R$ 120 milhões da Previdência Social.
Operação Lava-Jato: surgiu após a descoberta do uso de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas.
Operação Deus Tá Vendo: responsável pela prisão de pastores evangélicos envolvidos em fraudes na venda de veículos.
Operação Ctrl + Alt + Del: investigou uma quadrilha de hackers especializados na violação de sigilo bancário.
Operação Cana Brava: investigou a sonegação de impostos no setor sucroalcooleiro.
Operação Firula: prendeu empresários suspeitos de realizar crimes financeiros a partir de transferências de jogadores de futebol.
Operação Ratatouille: prendeu o empresário Marco Antônio de Lucca, acusado de subornar agentes públicos para garantir favorecimento em licitações de serviços de alimentação para escolas e presídios.
Operação Salve Jorge: uma referência a novela de Glória Perez e investigou o tráfico de pessoas.
Operação Timóteo: o pastor Silas Malafaia foi investigado na ação, que fazia referência a uma passagem do livro Timóteo na bíblia ?Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição?. (Bianca Andrade – bahia.ba).

Foto: Divulgação/bahia.ba

*O nome fictício foi usado para preservar a identidade da fonte, que optou por não ser identificada*