Em algum momento do ano, a Veja tinha que publicar
alguma coisa verdadeira, pela lei das estatísticas jornalísticas.
Isso aconteceu em sua última edição do ano, numa lista
com o desempenho dos parlamentares brasileiros em 2014.
É um levantamento que a revista faz desde 2011, e que
leva o pomposo nome de |Ranking do Progresso|.
Segundo a Veja, |critérios objetivos| são usados para a
classificação: não se trata apenas de assiduidade, mas da qualidade dos
projetos apresentados.
Na lista de 2014, entre os senadores, Aécio apareceu na
última colocação. A nota que ele mereceu da revista foi, simplesmente, zero. A
escala ia até dez.
Ainda ontem, quando a informação viralizou na internet,
alguns tentaram explicar a posição de Aécio.
Um colunista do Globo, no Twitter, sugeriu que a posição
de Aécio podia dever-se à campanha presidencial.
Os internautas não engoliram a justificativa. Alguém
lembrou que o senador Lindbergh Farias também esteve em campanha em 2014, e
ficou na segunda colocação.
Diante do clamor da internet, a Veja decidiu, no
domingo, o impossível: justificar a posição de Aécio.
O caminho foi exatamente o do colunista do Globo: a
campanha.
Era melhor a revista ficar em silêncio fúnebre. Ou será
que a campanha explica também a nota 3,8 ? de zero a dez ? que Aécio levou em
2013?
Na primeira lista, a de 2011, Aécio sequer foi citado.
Apenas 22 senadores apareceram nela, e entre eles não figurava Aécio.
Há, como se vê, uma coerência no Ranking do Progresso,
pelo menos no que diz respeito a Aécio Neves.
Jornalisticamente, ficam algumas perguntas.
A primeira é: por que a Veja não utilizou seu |Ranking
do Progresso| em nenhum perfil que fez sobre Aécio?
A seus leitores foi subtraída uma informação essencial.
Nenhum dos blogueiros também jamais mencionou uma lista
destinada, segundo a Veja, a empurrar o país |rumo ao futuro|.
A Veja tratou seu próprio material como trata as
notícias de um modo geral: se são desfavoráveis aos amigos, esconde-as. Mostrou
assim a natureza do jornalismo que pratica.
Você pode perguntar: mas por que então ela deu a relação
em que Aécio aparece em último lugar?
Boa questão.
Minha desconfiança é que, se não desse, ela vazaria de
qualquer forma da internet, e o embaraço seria não só de Aécio mas da Veja.
Um instituto, mediante as diretrizes da Veja, avalia os
parlamentares e os enumera. O |Ranking do Progresso| de 2014 fatalmente
apareceria em algum site, e de lá viralizaria.
Na internet, é bem mais difícil você manipular as
informações.
Por fim, fora as gargalhadas inevitáveis no
reconhecimento involuntário que a Veja fez do trabalho de Aécio em Brasília,
fica a constatação: a revista se bateu furiosamente para eleger o pior senador
do Brasil.
Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo/