Corruptos dominaram politicamente o TJ-BA com apoio de colegas coniventes, diz Eliana Calmon

A ministra aposentada do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Eliana Calmon afirmou nesta quarta-feira (16) que a devassa da Operação Faroeste contra membros do TJ-BA (Tribunal de Justiça da Bahia) era algo previsto diante da atuação de magistrados corruptos que, em sua avaliação, encontram apoio político de colegas coniventes com suas práticas ilegais.

Para Calmon, o corporativismo da categoria impede que houvesse uma “correção de rumo” que poderia ter sido feita sem extrapolar o âmbito administrativo. Ao mencionar o caso das desembargadoras Lígia Maria Ramos Cunha Lima e Ilona Márcia Reis, presas temporariamente na segunda-feira (14) a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), ela disse que o suposto esquema de vendas de decisões judiciais  favoráveis a grilagem de terras no oeste baiano decorre de um processo que se arrasta há quase 30 anos no tribunal.

“Em um ‘zum-zum-zum’ que corre pela cidade, está acontecendo aquilo que nós já prevíamos: que há realmente um problema muito sério e que [a investigação] precisava ir a fundo para dessa forma ver se a gente consegue algum sucesso na forma de proceder do Poder Judiciário baiano. Eu conheço um pouco a história toda pelo fato de ser magistrada, pelo fato de ser baiana e ter estado na Corregedoria Nacional de Justiça, onde eu tentei melhorar a situação. Eu entendi que não dava para eu corrigir o tribunal como um todo, mas dava para melhorar um pouco fazendo certas correções de rumo”, declarou em entrevista à rádio Metrópole.

“Lamentavelmente, isso terminou não acontecendo pelas dificuldades naturais que existem de se fazer apuração no Poder Judiciário. Então, nós estamos hoje fazendo a correção da forma mais violenta possível, que é com a polícia, com afastamento, com prisão de magistrados, quando isso poderia ter sido evitado, se isso fosse feito administrativamente”, disse.

Segundo Calmon, quando esteve à frente da Corregedoria do CNJ, ela enfrentou resistência dos próprios pares. “Como corregedora eu vivi as entranhas do poder do Judiciário. Isso não acontece por um acaso, nem acontece de repente são coisas que estão se acumulando. Todos são coniventes? Não”, continuou.

“O que acontece é que nós não acreditamos na possibilidade de fazer a correção de rumo. E, por não acreditar que possa haver correção, aqueles magistrados mais moderados não se metem, para não se comprometer. E um grupo faz o seguinte: se apossa justamente desses magistrados que estão desviados para, com eles, formar uma maioria política e dominar politicamente o tribunal. É isso que acontece”, disse.

“Por que que isso acontece? Acontece exatamente por essa cultura do Judiciário de esconder, de apaziguar, de não ir a fundo. O Poder Judiciário resiste muito a essas apurações. E é exatamente a partir daí que as coisas começam a acontecer. Se não se deixa transparecer o que está por trás das cortinas, naturalmente que vai ficando mais difícil.”

A ex-ministra afirma que toda a magistratura hoje está sofrendo, uma vez que foi escancarada uma série de desmandos. (Alexandre Santos – bahia.ba). 

Foto: Elza Fiúza/Agencia Brasil