O neurocientista Miguel Nicolelis, ex-coordenador do comitê científico do Consórcio Nordeste, afirmou que as medidas restritivas para conter a disseminação de Covid-19 são ineficazes se não durarem até três semanas.
A avaliação do especialista foi feita na quinta-feira (25), logo após o governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciar o decreto para suspender de atividades não essenciais durante o fim de semana. A medida, que valerá entre as 17h desta sexta e as 5h de segunda (1º), foi tomada diante da explosão de pacientes graves à espera de vagas em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) – cuja taxa de ocupação atingiu pela primeira vez o patamar de 83% desde o início da pandemia.
O estado também supera uma marca inédita ao notificar 100 mortes num período de 24 horas, conforme o último boletim epidemiológico.
Ao mencionar o cenário de Salvador, onde a demanda nas UPAs tem batido recordes diários, Nicolelis disse ter alertado que o necessário para frear as contaminações seria a implementação de um lockdown – modelo mais rígido da quarentena, com bloqueio total de atividades econômicas.
“Não existe lockdown de final de semana que tenha funcionado em nenhum lugar. Ou faz direito – 2-3 semanas no mínimo ? ou não espere resultados reais e duradouros. Aviso está dado mais uma vez. Salvador deveria ter feito lockdown em julho do ano passado. Não fez e sofre com isso hoje”, escreveu o neourocientista em sua conta no Twitter.
Para Nicolelis, no Brasil, apenas o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), acertou ao endurecer a quarentena na capital mineira em ao menos duas ocasiões – a mais recente, em janeiro, durou quase um mês.
O prefeito de BH fez o correto e atuou de forma a priorizar a vida das pessoas. Teve a determinação e a coragem de fazer o que tinha que ser feito resistindo às pressões econômicas e políticas. Salvou muitas vidas com esta atitude”, afirmou Nicolelis.
Não é lockdown, diz governador
Na entrevista em que comunicou as novas medidas, o governador Rui Costa esclareceu que não se trata de um lockdown – modelo mais rígido da quarentena, com bloqueio total de atividades econômicas.
“A diferença para o lockdown é que, no lockdown, de fato, até a venda de alimentos é suspensa, e a pessoa é proibida de sair até uma distância ‘x’ metros de sua casa. Isso não será feito”, explicou, lembrando que a restrição valerá simultaneamente ao toque de recolher atualmente em vigor em 381 municípios – à exceção da região oeste.
De acordo com o chefe do Executivo estadual, caso a pressão na rede pública não diminua até o início da próxima semana, a proibição poderá ser estendida para os demais dias.
“Estamos recepcionando na rede pública muitos pacientes que têm plano de saúde que não estão conseguindo vaga nos hospitais privados. Eu diria que hoje a situação é muito próxima do colapso, inclusive de leitos privados”, afirmou Rui Costa. (Alexandre Santos – bahia.ba)
(Imagem: Reprodução/YouTube)