O interesse
pelas participações em concessões arrematadas pelo grupo de empreiteiras
envolvidas na operação Lava Jato, que investiga contratos superfaturados com a
Petrobras, está levando empresas e fundos, principalmente os estrangeiros, a se
estruturarem para estarem prontos para o momento em que os ativos forem
colocados à venda oficialmente. As empreiteiras, conforme apurou o Broadcast,
serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, estão sendo cortejadas e
alguns fundos já captaram e aguardam o sinal para entregarem suas ofertas.
|No Brasil
realmente seria mais difícil achar uma empresa com fôlego para comprar esses
ativos, mas há estrangeiros interessados em entrar em infraestrutura no Brasil e
eles já estão se movimentando|, diz uma fonte com conhecimento no assunto, que
falou sob condição de anonimato. Além dessas concessões, afirma a fonte, há
interessadas em algumas companhias com contratos com a Petrobras.
Uma segunda
fonte conta que um fundo estrangeiro já captou cerca de US$ 1 bilhão com foco
nas concessões das empresas envolvidas na Lava Jato. O maior interesse, diz o
interlocutor, está em aeroportos, hidrelétricas e rodovias.
A venda
desses ativos é vista como uma das principais alternativas para garantir fôlego
financeiro para as empresas com os nomes citados em esquemas de corrupção em
contratos com a Petrobras, diante de portas fechadas dos bancos para novas
linhas de crédito e sem oportunidade à vista para emissão de dívida.
No caso dos
fundos de private equity (que compram participações em empresas) e os
soberanos, que são aqueles constituídos com recursos das reservas de governos,
o momento pode ser oportuno para aquisições devido à possibilidade de desconto
nos preços. Segundo uma fonte, esses fundos são antigos interessados em
ingressar no mercado de infraestrutura no Brasil, mas, até aqui, não tinham
encontrado uma boa oportunidade de entrada.
Na OAS, que
entre as investigadas tem a situação financeira mais frágil e já deixou de
pagar os juros de uma emissão externa e uma debênture que venceu neste início
de ano, por exemplo, estariam à venda os negócios de saneamento e três estádios
de futebol, dois deles construídos para a Copa do Mundo, além da participação
na Invepar. Esta empresa possui 12 concessões nas áreas de rodovias, aeroportos
e mobilidade urbana, incluindo uma participação da empresa que administra o
aeroporto de Guarulhos, e em rodovias na Bahia, Pernambuco, São Paulo, Rio de
Janeiro, e Minas Gerais/Goiás/Distrito Federal.
Em
teleconferência realizada com investidores, em dezembro, a OAS havia antecipado
que estudava a venda de ativos para honrar seus compromissos financeiros.
Procurada, a empresa informou apenas que ?está analisando todas as
oportunidades de investidores em seus ativos, em linha com seu processo de
desinvestimento anunciado?.
Outra
companhia que publicamente já admitiu que analisa a venda de ativos é a
Engevix. Ela está negociando se desfazer de sua participação na empresa de
energia Desenvix, e estaria estudando a possibilidade de vender também
participação nos aeroportos de Brasília e São Gonçalo do Amarante (RN), além de
buscar um comprador para o seu estaleiro Ecovix.
O negócio
mais adiantado é a venda da fatia na Desenvix para sua sócia Statkraft (ex-SN
Power), operação que já vinha sendo negociada antes mesmo da Operação Lava Jato
e que pode ser fechada até o fim do mês, segundo fonte próxima à empreiteira.
Em 12 de dezembro de 2014 a Statkraft Investimentos já adquiriu 4.460.722 ações
do Caixa FIP-Cevix (Engevix), aumentando sua participação na Desenvix de 40,65
para 44,47 .
De acordo
com a mesma fonte, a conclusão do negócio para a venda dos restantes 36,84 da
participação da Engevix na empresa, que pode render R$ 500 milhões, daria o
fôlego financeiro necessário para o grupo enfrentar seu pior momento. Com isso,
a companhia não estaria considerando, neste momento, vender o negócio de
aeroportos devido às receitas que gera e ao potencial de crescimento.
Mesmo assim,
afirma a fonte, o grupo tem sido contatado por potenciais interessados nos
ativos aeroportuários. A companhia possui 50 da Inframerica, uma parceria com
o grupo argentino Corporación America.
A
Inframerica possui a concessão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, que
substituiu o antigo aeroporto de Natal, por 28 anos, até 2040 e detém 51 da
concessão do Aeroporto Internacional de Brasília. De acordo com a
concessionária de Brasília, somente no primeiro semestre do ano passado, o
terminal registrou expansão de 13 na movimentação de passageiros e se tornou o
segundo maior, nesse quesito, atrás apenas de Guarulhos.
De acordo
com fontes de mercado, outra empresa que teria colocado ativos a venda é a UTC
Engenharia, que estaria avaliando se desfazer de sua fatia na concessionária
que administra o aeroporto de Viracopos. Procurada, a companhia disse que não
comenta rumores.
No mercado
financeiro, também se vislumbra como potenciais ativos à venda por parte de
empresas investigadas na Lava Jato a concessão da a BR-153/GO, conquistada no
ano passado pela Galvão Engenharia, e algumas das concessões da Odebrecht
TransPort, que possui participação em sete administradoras de rodovias, em um
terminal portuário, e no aeroporto do Galeão (RJ), além de alguns ativos de
mobilidade urbana.
Procurada, a
Galvão preferiu não se pronunciar. Uma fonte próxima à empresa negou que o
grupo esteja buscando compradores para seus ativos e até mesmo que tenha sido
sondada por algum interessado. Lembrou, porém, que a companhia já negociava,
antes mesmo da Lava Jato, a venda de uma participação em seu negócio de
saneamento, a CAB Ambiental, para a GP Investiments, conversas que ainda
estariam em andamento.
Já a
Odebrecht respondeu que |não procede a informação de que a Operação Lava Jato
implicará a venda de ativos ou participação em empresas|. Em nota, a Odebrecht
TransPort reforçou seu compromisso na implantação e operação dos projetos de
infraestrutura sob sua responsabilidade.(AE)