Investigado pela PF, Salles pede demissão do Ministério do Meio Ambiente

Depois de dois anos e meio no cargo, o ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, deixou o comando da pasta. Ele não resistiu ao
desgaste provocado pelas suspeitas de envolvimento num esquema ilegal de
retirada e venda de madeira e acabou anunciando hoje o seu pedido de demissão.
Salles será substituído pelo atual Secretário da Amazônia e Serviços
Ambientais, Joaquim Álvaro Pereira Leite.

A situação do ministro se tornou insustentável por causa das
investigações e também pelo desgaste provocado pela substituição de mais um
delegado da Polícia Federal que participava de investigações a seu respeito.
Apesar da ligação política muito forte com o presidente Jair Bolsonaro, o
ministro reconheceu que o desgaste de sua permanência no cargo era irreversível
e a demissão foi consumada nessa tarde em anúncio no Palácio do Planalto.

“Para que isso (investigação) seja feita de forma mais
serena possível, apresentei minha exoneração”, disse Salles ao justificar o
pedido em entrevista no Palácio do Planalto.

O agravamento da crise fez com que Bolsonaro concordasse com
a demissão. Esta semana, chegou a fazer elogio público ao agora ex-ministro.

“Parabéns, Ricardo Salles. Não é fácil ocupar seu
ministério. Por vezes, a herança fica apenas uma penca de processos. A gente
lamenta como por vezes somos tratados por alguns poucos desse outro Poder, que
é muito importante para todos nós”, afirmou o presidente em solenidade.

A saída de Salles representa a queda de um dos raros
remanescentes dos chamados ministros ideológicos. Já tinham sido trocados por
Bolsonaro nomes como Abraham Weintraub e Ernesto Araújo, entre outros. Mas a
proximidade de Salles vinha garantindo sua permanência. Agora, com às
investigações, essa blindagem política ruiu.

Salles é alvo de inquérito, autorizado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), por
supostamente ter atrapalhado investigações sobre apreensão de madeira. Ele nega
ter cometido irregularidades.

O anúncio da troca no Ministério do Meio Ambiente também
ocorre no momento em que o governo é acusado de corrupção na compra de vacinas
para a covid-19. Em entrevista ao Estadão mais cedo, o deputado Luis Miranda
(DEM-DF), aliado do Palácio do Planalto, afirmou ter alertado o próprio
Bolsonaro de que havia “corrupção pesada” no Ministério da Saúde envolvendo a
compra da Covaxin.

Na ocasião, segundo o parlamentar, o presidente afirmou que
procuraria a Polícia Federal para investigar o caso. Apesar do aviso, o governo
seguiu com o negócio em que prevê pagar pelo imunizante indiano um preço 1.000% maior do que o anunciado
pela própria fabricante seis meses antes. (Marcelo de Moraes – Estadão).

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