Se por um lado as estimativas apontam para 66.280 novos
registros de câncer de mama no Brasil em 2021 (Inca), com mais de 18 mil
mortes, avanços no tratamento “incluindo a terapia-alvo” fazem o contraponto.
No entanto, apesar das novas terapias, drogas e também técnicas cirúrgicas, a
campanha Outubro Rosa mantém como consenso a importância do diagnóstico
precoce, aliado que pode elevar para mais de 95% as chances de cura. Vale
ressaltar que a pandemia pode ter retardado 42% dos diagnósticos, segundo a
Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
A partir dos 40 anos, todas as mulheres devem realizar a
mamografia anualmente e manter acompanhamento com mastologista. Essa idade pode
ser antecipada em pacientes com histórico pessoal ou familiar de câncer de
mama, como sinaliza o mastologista Ezio Novais, um dos coordenadores do Serviço
de Mastologia da Clínica AMO. “Além do suporte médico especializado, exames e
hábitos de vida saudáveis, incluindo alimentação, prática regular de exercícios
físicos, redução do uso de bebidas alcoólicas e combate ao fumo, contribuem
para a prevenção do câncer”, enumera.
Ezio Novais chama a atenção para a importância da manutenção
do acompanhamento médico, através das consultas de rotina, mesmo durante a
pandemia de Covid-19, que retardou diagnósticos. A quantidade mamografias realizadas
pelo SUS em 2020 foi de 1,1 milhão; enquanto em 2019 foi de 1,9 milhão. A queda
equivale a uma redução de 42% nos procedimentos feitos nas mulheres desta faixa
etária, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
Do total de casos estimados para o Brasil em 2021, a Bahia
deverá responder por 3.460 registros, sendo 1.180 em Salvador.
Terapia-alvo
Como explica a oncologista Vanessa Dybal, a terapia-alvo
está entre os grandes avanços contra a doença, pois é um tipo de tratamento no
qual as drogas atacam especificamente as células cancerígenas, reduzindo os
danos às células normais e causando menos efeitos colaterais. Os medicamentos
visam os genes, proteínas ou o tecido específico que contribui para o
desenvolvimento do tumor.
“A descoberta de alguns alvos revolucionou não só o
tratamento, como os resultados encontrados. No câncer de mama, assim como no de
próstata, a característica de dependência de hormônios das células trouxe desde
muito cedo a possibilidade do uso da mais antiga terapia-alvo: a
hormonioterapia, ou terapia de bloqueio hormonal”, explica Vanessa Dybal,
acrescentando que a possibilidade de bloquear a ação hormonal leva à inibição
do crescimento ou aparecimento do tumor, com menor efeito colateral que as
quimioterapias convencionais.
“Cerca de 60% dos tumores mamários são dependentes de
hormônios femininos e podemos utilizar o bloqueio destes como estratégia de
tratamento. Com o desenvolvimento da ciência, no entanto, outros alvos
celulares foram sendo descobertos além de mecanismos de resistência de doença
envolvendo genes alterados ou caminhos intracelulares modificados, expandindo a
lista de intervenções possíveis”, reforça.
“Cerca de 20% dos casos de câncer de mama têm, por exemplo,
a proteína HER2, que estimula o crescimento das células tumorais. Para esse
tipo de câncer, existem vários anticorpos que são utilizados no tratamento e
modificaram a história natural da doença: o que antes era uma das doenças mais
agressivas e de pior resposta às terapias disponíveis, hoje é a que encontramos
maior taxa de cura, graças às terapias empregadas”, comemora a médica.
“E, naquelas pessoas em que os tumores são dependentes dos
hormônios femininos para seu desenvolvimento e crescimento, o uso de novas
estratégias de bloqueio hormonal permitiram que pacientes, mesmo com doença
metastática, possam permanecer sem quimioterapia com taxas de resposta e
sucesso excelentes e com muito menos toxicidade”, ressalta.
A especialista explica, portanto, que a escolha do
tratamento ideal para cada pessoa leva em conta uma série de informações muito
particulares de cada paciente, como o subtipo da doença demonstrado na biópsia,
o grau em que o tumor foi diagnosticado (seu tamanho, se localizado ou já com
lesões que vão além do nódulo tumoral), a idade da paciente e até seu histórico
familiar. “O médico discute com a paciente as opções de tratamento, avaliando benefícios
x riscos de cada opção terapêutica de acordo com o caso, sempre buscando o
melhor benefício possível e uma menor toxicidade”, completa a oncologista da
AMO.
O tratamento contra o câncer de mama pode ser local
(diferentes tipos de cirurgia ou radioterapia) ou sistêmico, com o uso de
medicamentos por via oral ou administrados pela corrente sanguínea para atingir
as células cancerígenas em qualquer parte do corpo. Além da terapia-alvo, o
tratamento sistêmico pode incluir quimioterapia, hormonioterapia (um tipo de
terapia alvo) e imunoterapia. “Na definição da conduta, muitas vezes o sucesso
é obtido através da combinação de mais de uma destas modalidades”, sinaliza
Vanessa Dybal.
Campanha Outubro Rosa
A campanha Outubro Rosa da AMO deste ano tem como tema
central “No meu peito nasce prevenção, no meu peito nasce superação, no meu
peito nasce esperança”. O material educativo distribuído nas unidades e as
peças elaboradas para as redes sociais incluem orientações de especialistas e
depoimentos de pacientes, que estão em tratamento ou já venceram a luta contra
a doença.
As mais diversas histórias contadas em cada depoimento, que
relatam, desde o recebimento do diagnóstico até o início ou a conclusão do
tratamento, ajudam a desmistificar conceitos carregados de medo (como a frase “Quem procura acha”), cultivar o feminino, fortalecer condutas preventivas e
estimular uma rotina de prevenção com vistas ao diagnóstico precoce.
Para reforçar a importância da adesão da população, o
Outubro Rosa da AMO inclui também a plotagem das cabines do Litoral Norte com
as peças da campanha (fotos). (Ascom).
Foto: Divulgação/Ascom