Após série de derrotas no congresso, Dilma recorre a Lula

Na tentativa de reagir à crise política que enfrenta, com
sucessivas derrotas no Congresso, a presidente Dilma Rousseff decidiu recorrer
ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem se encontra nesta
quinta-feira, 12, em São Paulo. Além disso, o Palácio do Planalto intensificou
as negociações dos cargos de segundo escalão com os aliados.

O encontro de Dilma e Lula vinha sendo tratado sob sigilo
pelo governo. A presidente queria evitar a interpretação de que ela mais uma
vez pedia socorro ao padrinho político. Tanto que tentou transferir a agenda
com o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier,
que seria realizada nesta tarde, em Brasília, para a manhã de hoje, na capital
paulista. Assim, quando terminasse a reunião, Dilma sairia para o encontro com
Lula, sem que fosse necessário incluir o compromisso na agenda.

A presidente e Steinmeier vão se reunir para tratar da
visita de Estado de Angela Merkel ao Brasil em agosto. O ministro alemão,
porém, só chega ao País na sexta e o encontro foi transferido.

A presidente Dilma Rousseff embarca para São Paulo no início
da manhã e realiza exames de rotina no hospital Sírio-Libanês. Depois ela se
reúne com Lula. O encontro não está previsto em sua agenda oficial.

A relação entre Dilma e seu antecessor está estremecida
desde o ano passado, após ela se negar a acatar sugestões do ex-presidente.
Lula, por exemplo, defendia a substituição do então ministro da Fazenda, Guido
Mantega, troca feita por ela apenas neste ano, no segundo mandato. O
ex-presidente também defendia que a presidente da Petrobrás, Graça Foster,
fosse substituída há semanas. Mas a nomeação de Aldemir Bendine em seu lugar só
ocorreu na semana passada. A crise na economia acabou contaminando também a
política. A avaliação da presidente despencou.

Na quarta, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, um dos
petistas mais próximos a Lula, reuniu-se com o ministro Aloizio Mercadante
(Casa Civil) e depois com Jaques Wagner (Defesa). Marinho procurou minimizar o
momento do governo, afirmando que o País já superou ?crises muito piores?. [Esta
é fichinha.]

Cargos. O governo também definiu uma série de ações no
Congresso para tentar diminuir a crise. Uma primeira articulação ocorreu com o
PRB e mais oito partidos nanicos, que, juntos, somam 39 deputados. O bloco
ficou na órbita de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) durante a campanha para a
presidência da Câmara. Foram oferecidos a eles cargos no Ministério do Esporte,
comandado por George Hilton (PRB). A iniciativa irritou os presidentes das
legendas.

?(O governo) Ofereceu cargos do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica para o bloco. E agora o PRB está oferecendo para estes deputados
participarem do bloco com cargos no Ministério do Esporte?, disse Levy Fidelix,
presidente do PRTB. Até a conclusão desta edição, o PRB ainda não havia se
manifestado.

Responsáveis pela articulação política do governo se
reuniram na quarta com parlamentares de diversas legendas.

Também foram acertadas reuniões de ministros e até da
presidente com os partidos. A primeira deve ocorrer no dia 24 e terá como tema
a discussão das medidas provisórias que tratam de alterações em regras
trabalhistas, tema que tem enfrentado ampla rejeição na base, na oposição e até
mesmo no PT. A expectativa é de que Dilma participe deste encontro. Líderes da
base também terão reuniões semanais com ministros e, uma vez por mês, Dilma
também deve encontrá-los.

Lava Jato. O governo também decidiu partir para o ataque à
oposição sobre a Operação Lava Jato. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo,
disse que a oposição quer [encobrir o passado e criar um clima passional no
País] contra a presidente Dilma.

Em outra frente, o PT entregou nesta quarta uma
representação à Procuradoria-Geral da República para que a operação investigue
possíveis crimes cometidos durante o governo Fernando Henrique Cardoso. (AE)

(Foto: Uarlen Valério/AFP)