Bolsonaro diz à PF que Moro usou indicação ao STF para negociar comando da polícia

A Polícia Federal interrogou o presidente Jair Bolsonaro na
noite desta quarta-feira (3) sobre a acusação de interferência política na
corporação.

Nesta semana vencia o prazo de 30 dias estipulado pelo
ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF (Supremo Tribunal
Federal), para que fosse colhido o depoimento.

Bolsonaro é suspeito de interferir na cúpula da corporação
para proteger parentes e aliados, suspeita levantada pelo ex-ministro da
Justiça Sergio Moro.

No depoimento, Bolsonaro negou interferência na PF e afirmou
que trocou seu comando por questão de diálogo. Ainda disse que Moro teria
concordado com a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da PF desde que
ocorresse após sua indicação para ministro do Supremo Tribunal Federal.

Segundo o ex-ministro da Justiça, o chefe do Executivo
pressionou pela mudança em agosto de 2019 e em janeiro, março e abril do ano
passado.

O presidente nega interferência na PF, mas tentou forçar a
substituição do chefe da corporação no Rio de Janeiro, base eleitoral do
presidente e de dois dos seus filhos -o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ)
e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

No pedido de abertura de inquérito, de abril do ano passado,
o procurador-geral da República, Augusto Aras, citou oito crimes que podem ter
sido cometidos: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia
administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada,
prevaricação, denunciação caluniosa e crime contra a honra.

Em relação aos três últimos tipos penais listados por Aras,
o alvo da apuração é o próprio Moro.

O ex-ministro e ex-juiz da Lava Jato reafirmou as acusações
feitas ao pedir demissão do Executivo e detalhou sua relação com Bolsonaro.
Sobre a suposta intromissão no trabalho da polícia, Moro revelou que, por
mensagem, o presidente cobrou a substituição na Superintendência da PF no Rio
de Janeiro.

“Moro você tem 27 superintendências [estaduais], eu
quero apenas uma, a do Rio”, disse Bolsonaro pelo WhatsApp, segundo
transcrição do depoimento de Moro à PF.

Além disso, o ex-ministro ressaltou que o chefe do Executivo
teria reclamado e demonstrado a intenção de trocar a chefia da corporação em
Pernambuco.

O formato do depoimento que Bolsonaro deveria prestar à PF
seria alvo de julgamento do STF no mês passado, mas o chefe do Executivo, após
resistir por mais de um ano, manifestou interesse em fazê-lo presencialmente.
(Marcelo Rocha ? Folha).

Foto: Divulgação