Nova composição da CRE terá como desafios crises no Itamaraty e no Mercosul

Em discurso
na última segunda-feira (9), o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da
CRE até janeiro passado, disse ter novas expectativas com a mudança no comando
do Itamaraty, assumido pelo embaixador Mauro Vieira.

? Como na
economia, as mudanças precisam vir dentro do espírito de que é necessário
mexer, sim, em time que está perdendo. Essa é a nossa modesta e humilde
esperança no momento com relação ao Itamaraty e à nossa política externa ?
afirmou o senador.

Ferraço
traçou um painel da situação das embaixadas brasileiras na África. Segundo o
senador, o déficit comercial do Brasil com 54 países africanos triplicou entre
2010 e 2013. De acordo com o Jornal da Globo, a embaixada brasileira em
Nairobi, capital do Quênia, teve as linhas telefônicas cortadas no último dia
22 de janeiro por falta de pagamento.

Mas a falta
de dinheiro não se restringe às representações do Brasil na África. Há
dificuldades em países como Japão, Portugal, Canadá e Estados Unidos.

A senadora
Ana Amélia (PP-RS), que gostaria de ser membro titular na próxima composição da
CRE, cobra uma solução para o problema desde meados do ano passado, até em
função das necessidades pelas quais estão passando os servidores de
representações diplomáticas.

? É uma
situação muito séria: pagamentos atrasados, compromissos pessoais assumidos e
esse contingenciamento numa área sensível como o Itamaraty. Porque não é aqui
no Brasil, é fora. Então fica mal também o Brasil ? disse a senadora.

Para Ana
Amélia, o governo, ao apoiar as medidas de corte no contingenciamento
orçamentário, deve estabelecer limites ? uma postura que deve ser cobrada do
governo pela CRE.

?- Nós
vamos, na comissão, nos encarregar de cobrar isso do próximo presidente, para
que se envolva na solução desses problemas ? prometeu a parlamentar pelo PP.

O senador
Cristovam Buarque (PDT-DF) vê a crise no Itamaraty como resultado de má gestão
por parte da presidente da República. Segundo ele, Dilma Rousseff diminuiu a
presença internacional do Brasil que Lula e Celso Amorim tinham conseguido
fortalecer.

? Falta de
recursos para as embaixadas; demora em substituir embaixadores; demora da
presidenta em receber embaixadores estrangeiros para a apresentação de
credenciais; falta de uma linha clara de relacionamento do Brasil com as
diversas nações do mundo, inclusive com aquelas que o Lula fez um esforço, que
foram as da África e da América Latina ? citou o senador como problemas da
atual política externa.

Cristovam
lamentou a situação, até por acreditar que as relações exteriores não exigem
tanto orçamento.

? Educação,
se você não colocar R$ 10 ou R$ 20 bilhões, você não dá salto. Nas relações
exteriores, se você colocar R$ 100 ou R$ 200 milhões, você dá um salto
considerável na presença do Brasil. E eu espero que nos próximos meses haja uma
mudança nisso ? afirmou.

Mercosul

Os três
senadores alertam ainda para a situação crítica do Mercosul. Segundo Ferraço, o
projeto de mercado comum do bloco está longe de ser atingido, representando,
hoje, menos de 9 do comércio brasileiro. Os senadores criticaram a postura
protecionista da Argentina e o acordo que o país vizinho fez recentemente com a
China para a entrada de produtos manufaturados.

? Com
efeito, os acordos assinados com a China terminaram por escancarar o mercado
argentino para as manufaturas chinesas, mais competitivas que as brasileiras ?
afirmou Ferraço em seu discurso na segunda-feira (9)

 

Segundo o
senador, o Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo e precisa
participar mais do comércio internacional, caso contrário, o Mercosul corre o
risco de acabar.

? O Mercosul,
que já chegou a representar aproximadamente 20 das nossas exportações, em
2014, viu esse número reduzir para 9 . Se nada for feito, estamos decretando
morte ao Mercosul ? alertou Ferraço, em aparte à senadora Ana Amélia na
terça-feira (10).

A parlamentar
pelo Rio Grande do Sul também lastimou a atitude da Argentina e a situação
atual do Mercosul. Para ela, o bloco ?estava na UTI?; agora, ?tiraram os
aparelhos e ele morreu de vez?.

? Essa morte
foi determinada, no meu modesto ponto de vista, por um acordo feito pelo
governo Cristina Kirchner com a China, acordo altamente lesivo ao comércio
Brasil?Argentina e dentro do bloco do Mercosul ? afirmou a senadora no discurso
de terça-feira (10).

Em
entrevista à Agência Senado, Cristovam Buarque disse duvidar do fim do
Mercosul, em face dos fundamentos políticos e econômicos para a sua existência.
Na opinião do senador, que já presidiu a CRE, o Mercosul entrou em crise por
causa da realidade econômica da Argentina e do 
Brasil e porque as presidentas dos dois países não possuem motivação ou
vocação para assuntos internacionais.

? Sem esses
dois países, o Mercosul fica insignificante ? avaliou o Senador.

De acordo
com Cristovam, que pretende continuar na CRE este ano, a comissão é um lugar
muito importante para se debater o futuro do Brasil, mas é preciso sempre ter
em conta a realidade global.

? Acabou o
tempo em que o futuro do país se decidia internamente. Agora, ele é resultado
de decisões planetárias ? advertiu.

O senador
deu como exemplo o movimento Parlamentares sem Fronteiras, criado por ele, em
parceria com o indiano Kailash Satyarthi, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de
2014. Segundo Cristovam, a primeira reunião do movimento será no dia 27 de
março, em Kathmandu, no Nepal, e o tema a ser discutido será Direitos das
Crianças. Cristovam deu o crédito dessa ideia ao trabalho desenvolvido na
Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

Agência Senado