Alçados ao
cargo de ministro pela presidente Dilma Rousseff (PT), líderes regionais de
partidos governistas usam o novo status para cumprir agendas focadas em aliados
e em suas bases eleitorais. Pelo menos quatro recém-nomeados têm adotado a
prática, como mostra levantamento feito pelo Estadão com base em agendas
divulgadas pelas pastas.
Um deles é o
ministro da Pesca, Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho, ambos do
PMDB do Pará. Desde que assumiu o posto, em 2 de janeiro, ele tornou públicas
84 reuniões de que participou na condição de ministro com pessoas de fora da
pasta. Ao todo, Helder esteve com 91 pessoas, sendo que 42 (46 do total) eram
políticos filiados ao PMDB ou ao aliado PT. A terceira sigla que mais aparece
na agenda é o PROS, também da base, com quatro filiados.
Presidente
em exercício do diretório do PMDB no Pará, Helder recebeu 21 representantes de
seu Estado em Brasília ? em segundo lugar aparece Santa Catarina, com seis
representantes. Entre os paraenses recebidos oficialmente estão dois dirigentes
do PMDB em cidades do interior, três vereadores também do interior, três
prefeitos, um ex-prefeito, uma deputada estadual, seis deputados federais e
dois senadores.
O paulista
Antonio Carlos Rodrigues, ministro dos Transportes desde 5 de janeiro por
indicação do PR, divulgou 120 reuniões com pessoas de fora da pasta. Recebeu,
ao todo, 146 pessoas ? incluindo 47 políticos do PR e 17 do PT. O levantamento
mostra que foram atendidos também 38 empresários com atividades relacionadas à
pasta ? menos que a quantidade de correligionários. O Estado mais representado
nas audiências com o ministro é São Paulo, sua área de atuação eleitoral ? ele
já foi vereador na capital e é suplente da senadora Marta Suplicy (PT-SP). Foram
28 paulistas recebidos, quase o dobro da Bahia, que ficou em segundo lugar, com
15 representantes.
A agenda do
gaúcho Eliseu Padilha, nomeado ministro da Aviação Civil por pressão do PMDB,
também é focada em aliados políticos e em sua região eleitoral. Nas 93 reuniões
que divulgou, ele recebeu 89 pessoas, sendo 29 políticos do PMDB e sete do PT.
Os empresários do ramo de aviação incluídos nos compromissos oficiais foram 11
e representantes de instituições do setor, oito.
Quando o
recorte é por Estado, o Rio Grande do Sul, base de atuação política do
ministro, também se destaca. Ao todo, 17 representantes do Estado tiveram
audiências com ele. Santa Catarina teve quatro representantes, e São Paulo e
Rio de Janeiro, quatro cada um.
Patrus
Ananias, um dos principais líderes do PT de Minas Gerais e ex-ministro do
governo Luiz Inácio Lula da Silva, é o titular do Desenvolvimento Agrário na
gestão Dilma Rousseff. Nas 58 reuniões que tornou públicas, ele recebeu pelo
menos 56 pessoas ou representantes de instituições interessadas no ministério.
Dos 21 políticos atendidos, ao menos 17 eram do PT ? há uma reunião com
deputados que não discrimina a sigla dos participantes. E a unidade federativa
mais representada na lista de compromissos de Patrus foi Minas, com nove
pessoas, incluindo o prefeito de Uberlândia, Gilmar Machado (PT), e três
deputados federais do PT mineiro.
Proximidade.
Políticos recebidos pelos ministros reconhecem que ser do mesmo partido
facilita conseguir a reunião. O ex-deputado Luciano Castro (PR-RR), que já teve
duas reuniões com Antonio Carlos Rodrigues em 2015, disse que no ministério
comandado por seu partido o [atendimento sempre é mais rápido], mas que isso
não significa resolução de problemas. [Poderia ter soluções para outros
partidos e não de alguns do PR], afirmou, sobre anos anteriores em que a pasta
dos Transportes também era comandada pela legenda.
O deputado
Danilo Forte (PMDB-CE) disse que já se encontrou com os ministros de seu
partido. |Nos ministérios do PMDB, até que a turma está sendo ouvida,
recebida.| Forte afirmou que as reuniões que pediu serviram como [cortesia]
para os colegas alçados ao primeiro escalão federal.
O deputado
Leonardo Monteiro (PT-MG), que teve reunião com Patrus, disse que o encontro
serviu para tratar de assuntos de comissões da Câmara ligadas à pasta e da
liberação de emendas suas que estão represadas.
Agenda secreta.
O levantamento da reportagem foi feito com informações tornadas públicas pelos
ministérios. É recorrente entre as autoridades, no entanto, divulgar agendas
dizendo que seus compromissos são |reuniões internas| ou |despachos internos|,
sem dizer o que fazem ou com quem se encontram. Caso emblemático entre os novos
ministros da presidente é o do titular dos Portos, Edinho Araújo (PMDB-SP).
Desde 2 de janeiro, ele divulgou 29 agendas no site da pasta. Em 22 desses
dias, consta apenas a informação de que houve |reuniões internas|. (AE)