Mais do que o baixo número de eleitores que aprovam o
governo Dilma Rousseff – dados divulgados esta semana pelo Datafolha apontam
que a avaliação ruim/péssima do governo subiu de 44 para 62 de fevereiro para
cá -, o dado mais grave do levantamento, segundo a socióloga Fátima Pacheco
Jordão, é a rapidez com que o quadro se deteriorou e a homogeneidade da insatisfação,
que chega regiões e setores da sociedade mais próximos à presidente.
A especialista em pesquisas de opinião ressalta que a [aguda
crise de opinião pública] não necessariamente reflete a situação do governo
diante das crises que enfrenta na política e na economia, mas a avaliação que a
população faz deste cenário. Segundo ela, a rapidez da mudança na opinião do
brasileiro pode ser explicada, entre outros fatores, pela piora da situação
econômica. [Nem sempre crises políticas e econômicas são sentidas pela
população, mas neste momento está afetando o bolso, de maneira diferente, de
todas as classes], avalia.
A saída possível para o governo em uma situação delicada
como a atual exige [respostas fortes]. A professora concorda que elas ainda não
foram apresentadas desde que os opositores do governo foram às ruas no último
domingo, mas vê as medidas adotadas até aqui como um começo.
Fátima Pacheco Jordão avalia como boa para o governo a
[abertura inédita] da presidente ao público e à imprensa, com entrevistas
coletivas e falas em que admite erros. O plano anticorrupção, criticado por
parlamentares, ainda não pode ser rejeitado na opinião da professora. [Tiraram
de gaveta planos anticorrupção que os analistas dizem que não são suficientes.
Mas é cedo para saber se não é suficiente], afirma.
Já de acordo com o professor da Fundação Getúlio Vargas
Marco Antônio Carvalho Teixeira, a pesquisa Datafolha mostra que a situação do
Congresso Nacional também é difícil. Com 9 de aprovação, o Congresso, apesar
de não ter sido alvo direto das manifestações de domingo, terá de dar respostas
à população e não poderá se dar ao luxo de travar projetos do Poder Executivo
sob pena de [morrer abraçado] com o governo, avalia o cientista político.
[As manifestações evidenciam o Executivo, mas o Legislativo
não está deixado de lado. O governo sai na frente com pacote anticorrupção e o
Congresso não vai poder travar ações do Planalto. Tenho a impressão de que
retórica não vai funcionar], avalia Teixeira.
Na visão do especialista, o governo terá de ser competente
na comunicação para mostrar à população que está fazendo sua parte e que
determinada medida não é aprovada por causa do Congresso. Caso consiga, coloca
mais pressão no Legislativo para aprovar as respostas à população.
A análise do cientista político é de que as medidas
anticorrupção anunciadas pelo governo Dilma Rousseff são uma resposta tardia,
mas ainda uma resposta. O Congresso, que tem os presidentes de suas duas Casas
citados na lista da Lava Jato, pode ser, na visão de Teixeira, o próximo alvo
da insatisfação popular. [Não acredito que o congresso vá travar a pauta. Senão
as manifestações de rua vão começar a cobrar o Congresso], avalia. (AE)
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