À espera para se despedir da cantora Gal Costa, fãs de
diversas regiões do país prestavam as últimas homenagens, cantavam hits e
narravam sobre a relação afetiva criada com a artista por meio da música.
Aberto ao público, o velório ocorre a partir das 9h, no Hall
Monumental da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), na Zona Sul da
capital paulista.
Denise Matosinho foi a primeira a chegar. “Desde jovem sou
apaixonada por ela. Quando soube da morte, foi um choque. Chuva de prata me
marca. Fiz questão de vir ao velório. Não imaginava ser a primeira da fila”.
Pesquisador sobre Gal Costa, Renato Contente, foi o segundo
a chegar. “Fiquei desnorteado. Entrei em choque. Sou fã há 11 anos e fiz um
livro sobre ela na ditadura. Já entrevistei ela algumas vezes, encontrei como
fã, era parte da minha vida”.
Carlos Alberto Schitini, de 52 anos, pegou ônibus e metrô
bem cedo, para chegar duas horas antes do começo da cerimônia.
“Comecei na infância a gostar das músicas. O Brasil teve uma
grande perda. Ela vai ser uma rainha. Ela vai ser uma estrela. Vai deixar um
legado. Tenho todos os álbuns. Estava em casa quando soube. A gente está aqui
só de passagem cumprindo uma missão. Enquanto vivemos aqui, temos que ter união
e conservar amizades. Ela fez tudo isso. A Festa do interior é a música que me
marcou por ser alegre e que a gente gosta de dançar”.
Rosilda Silva Santos também encarou jornada no transporte
público para se despedir da artista. Ela conta que sonhava em ir ao show de Gal
ainda esse ano.
“O último show não tinha mais ingresso, aí pensei que
ia no próximo, mas não vai ter o próximo. Até agora é um pesadelo. Legado
deles. Acompanho desde de sempre. Desde os 10 anos. Moro em São Paulo e sou baiana.
Gosto de todos. Mas a música chuva de prata me deixa bem. Representa história
na vida da gente. Festa do interior também.”
Gal morreu aos 77 anos, em São Paulo, na quarta-feira (9).
Ela havia cancelado alguns shows, após passar por uma cirurgia para retirar um
nódulo na fossa nasal direita.
Maria da Graça Costa Penna Burgos nasceu em 26 de setembro
de 1945 em Salvador e foi a voz de clássicos da MPB como “Baby”, “Meu nome é Gal”, “Chuva de Prata”, “Meu bem, meu
mal”, “Pérola Negra” e “Barato total”.
Foram 57 anos de carreira, iniciada em 1965, quando a
cantora apresentou músicas inéditas de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ela ainda
era Maria da Graça quando lançou “Eu vim da Bahia”, samba de Gil
sobre a origem da cantora e do compositor.
Três anos depois, veio outro clássico: “Baby”, de
Caetano Veloso. A canção foi feita para Maria Bethânia, mas Gal a lançou em
disco e a projetou no álbum-manifesto da Tropicália. “Divino
maravilhoso” (de Gil e Caetano) foi outra da fase tropicalista.
Ao longo dos anos 60 e 70, ela seguiu misturando estilos.
Dedicou-se ao suingue de Jorge Ben Jor com “Que pena (Ela já não gosta
mais de mim)” e foi pelo rock com “Cinema Olympia”, mais uma de
Caetano. “Meu nome é Gal”, de Roberto e Erasmo Carlos, serviu como
carta de apresentação unindo Jovem Guarda e Tropicália.
Ao gravar “Pérola Negra”, em 1971, ajudou a
revelar o então jovem compositor Luiz Melodia (1951-2017). No mesmo ano, lançou “Vapor Barato”, mostrando a força dos versos de Jards Macalé e Waly
Salomão.
Ela seguiu gravando várias músicas de Gil e Caetano, mas foi
incluindo no repertório versos de outros compositores como Cazuza
(“Brasil”, 1998); Michael Sullivan e Paulo Massadas (“Um Dia de
Domingo”, de 1985); e Marília Mendonça (“Cuidando de Longe”,
2018).
Na longa carreira, Gal lançou mais de 40 álbuns entre discos
de estúdio e ao vivo. “Fa-tal”, “Índia” e “Profana” foram três dos principais.
Ela estava em turnê com o show “As várias pontas de uma
estrela”, no qual revisitava grandes sucessos dos anos 80 do cancioneiro
popular da MPB. “Açaí”, “Nada mais”, “Sorte” e “Lua de Mel” eram algumas das músicas do repertório.
Além de rodar o Brasil, Gal entrou na programação de vários
festivais e ainda tinha uma turnê na Europa prevista para novembro.
Ela deixa o filho Gabriel, de 17 anos, que inspirou o último
álbum de inéditas. “A Pele do Futuro”, de 2018, foi o 40º disco da
carreira. “Está vindo a geração que salvará o planeta”, disse ela ao
g1, quando lançou o álbum.
O último álbum lançado foi “Nenhuma Dor”, em 2021,
quando Gal regravou músicas como “Meu Bem, Meu Mal”, “Juventude
Transviada” e “Coração Vagabundo”, com cantores como Seu Jorge,
Tim Bernardes e Criolo. (Paola Patriarca, g1 SP).
Foto: Luiz Franco/g1