Anielle Franco e Sônia Guajajara: novas ministras têm perfis de luta e história

As simbologias que
aquecem memórias e prenunciam um Brasil que se deseja construir pelo novo
governo federal permearam, na noite de ontem, no Palácio do Planalto, a
solenidade de posse de Sônia Guajajara (PSol-SP) e Anielle Franco aos ministério
dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial, respectivamente. O ato, prestigiado
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e por quase todas as ministras
mulheres também contou com a presença de diversas lideranças do movimento negro
e de povos indígenas, muitas vestidas em trajes tradicionais.

A cerimônia foi
marcada pela sonoridade da cultura de matriz africana e dos cantos indígenas. O
Hino Nacional foi entoado na língua tikuna e, depois, em português. Foram,
também, uma demonstração da coesão do governo após os atos terroristas do
último domingo. Apesar da presença do presidente, apenas as duas ministras
discursaram. A palavra era só delas.

“A cerimônia
de hoje guarda um simbolismo muito especial. Depois dos atentados sofridos por
esta Casa e pelo povo brasileiro, no último domingo, pisamos aqui em sinal de
resistência a toda e qualquer tentativa de atacar as instituições e a nossa
democracia. O fascismo, assim como o racismo, é um mal a ser combatido em nossa
sociedade”, disse Anielle Franco, sob muitos aplausos.

Sônia Guajajara
discursou antes, reforçando a luta pelos direitos dos povos que ela representa
e dos negros – marcados na alma pela escravidão e extermínio -, hoje unidos sob
a mesma bandeira de um Estado democrático. “É o mais legítimo símbolo dessa
resistência secular preta e indígena do nosso Brasil. Estamos aqui, hoje, nesse
ato de coragem, para mostrar que destruir essa estrutura do Palácio do
Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional não vai destruir
a nossa democracia”, disse a ministra.

“Aqui, Sônia
Guajajara e Anielle Franco convocam todas as mulheres do Brasil para dizermos
juntas: nunca mais vamos permitir um outro golpe no nosso país”, clamou
Sônia, para, em seguida, puxar um coro “Sem anistia!”, em referência
ao ex-presidente Jair Bolsonaro e aos envolvidos direta e indiretamente nos
atentados da extrema-direita em Brasília.

Uma das mais
aplaudidas na cerimônia foi a ex-presidente Dilma Rousseff, que estava no palco
com o presidente Lula; a primeira-dama, Janja Lula da Silva; o vice-presidente,
Geraldo Alckmin; e os ministros da Justiça Flávio Dino, e dos Direitos Humanos,
Sílvio de Almeida.

No evento, o
presidente Lula sancionou a lei que equipara injúria racial ao crime de
racismo. A lei, aprovada em dezembro pelo Congresso, aumenta a punição nos
casos de injúria.

“Neste dia
histórico em que o verdadeiro Brasil toma posse, a partir da caneta de nosso
presidente Lula e com o peso de uma luta de gerações pela criminalização do
racismo, damos mais um passo no caminho da promoção de reparação e
igualdade”, destacou a ministra da Igualdade Racial. 
(Henrique
Lessa/Kelly Hekally – Correio Brasiliense)

Foto:
Ricardo Stuckert/Lula)