Uma decisão da Justiça obrigou o
banco Bradesco a recontratar um funcionário demitido há exatos 59 anos. Osmar
Ferreira, hoje com 80 anos de idade, conta aos ouvintes do Programa Levante a
Voz e leitores do site Conectado News, como tudo aconteceu, as dificuldades
enfrentadas e deixa também, uma importante lição: lutar sempre, desistir,
jamais!
“Quando veio o Golpe
Militar, após ter completado 21 anos, no dia 8 de abril de 1964, fui preso
trabalhando dentro da agência do Banco da Bahia, que ficava ali na Praça da
Bandeira, onde hoje funciona uma loja das Casas Bahia. Fui preso, e assim permaneci
até o dia 20 de abril, quando fui libertado condicionalmente para me apresentar
todos os dias às 6:00 da manhã e às 18 horas no primeiro Batalhão da Polícia
Militar. Quando retornei à agência para trabalhar, já estava sumariamente
demitido, emprego eu não arranjava em lugar nenhum, tive que ser caminhoneiro
como meu pai para sobreviver, foi um sofrimento muito grande, levei 10 anos sem
conseguir estudar, porque o SNI (Criado pela Lei Nº 4.341, de 13 de junho de
1964, em seu Artigo 1º tem-se: “É criado, como órgão da Presidência da
República, o Serviço Nacional de Informações (SNI), o qual, para os assuntos
atinentes à Segurança Nacional, operará também em proveito do Conselho de
Segurança Nacional”) não permitia que eu fizesse vestibular. Fiz vestibular em
julho de 1974, 10 anos depois da minha prisão e consegui concluir o curso de
direito pela Universidade Católica de Salvador, onde estudei e tive a honra de
ser aluno. Formado em Direito, já tinha um escritório com uma colega que tinha
se formado antes de mim, entrei de cabeça na Justiça do Trabalho, advoguei
muitos anos, fiz 40 anos de exercício profissional da advocacia, depois de
Direito do Trabalho, passei a fazer Direito Eleitoral, após ter feito um curso
de pós-graduação. Estou aqui hoje para voltar ao trabalho, depois de 59 anos,
porque a Justiça do Trabalho entendeu que o meu direito era a readmissão,
deveria receber, segundo a própria Justiça do Trabalho, R$ 5 milhões e 425 mil,
o banco perdeu o prazo de impugnar esse valor, mas entrou com a petição posteriormente
afirmando que o meu direito não era a indenização, e sim a readmissão, a
Justiça do Trabalho acolheu e mandou que eu fosse readmitido no prazo de 30
dias, e hoje vim a Feira para me apresentar ao banco e pedir a minha
readmissão, e isso foi feito com todo apoio do Sindicato dos Bancários de Feira
de Santana, sindicato de luta, que trabalha em prol da categoria e ajuda outras
categorias de trabalhadores.
CN – O Sr. acredita que a Justiça
foi lenta?
Osmar Ferreira – Existe um
processo na Justiça do Trabalho, de bancários do Banco do Nordeste que já dura
mais de 25 anos e que não sai, já morreram inúmeros colegas, inclusive um que
foi meu colega no Banco da Bahia aqui em Feira, não viram o resultado do
julgamento e ganharam tudo, mas, recurso, sobre recurso, ficam protelando. Eu
não diria que foi uma falha, mas uma vitória de pirro, é aquela vitória que
você gasta muito, perde tempo, tem um custo elevadíssimo e ganha a guerra, isso
aconteceu no passado antes de Cristo. A minha vitória de readmissão, é uma
vitória de pirro, na minha opinião. Valeu a pena lutar? Valeu, para que sirva
de exemplo a classe trabalhadora, que o lema que eu adotei aos 16 anos de idade
no Colégio Estadual de Feira, onde é hoje o CUCA (Centro Universitário de
Cultura e Arte) prevalece até hoje que é: lutar, sempre, desistir, jamais.
CN – O que o Sr. diz para os que
hoje desejam a volta da Ditadura Militar?
Osmar Ferreira – Gravei um vídeo
há 10 anos atrás para a Secretaria de Educação do Estado da Bahia, por ocasião
do 50º aniversário do Golpe Militar, e neste vídeo, disse e continuo repetindo
todos os dias, a toda hora, que ditadura, qualquer que seja, de direita ou de
esquerda, nunca mais, toda ditadura é ruim para o povo, todos nós sofremos,
quando a ditadura é de direita, o pessoal de esquerda, sofre na pele, quando a
ditadura é de esquerda, o pessoal da direita ou neutro também sofre na pele,
basta ver o exemplo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) com
Stalin, que matou mais de 17 milhões de russos sem razão nenhuma, hoje em dia
até os partidos comunistas reconhecem que ele foi um criminoso, um ditador.
Mundo a fora quantas ditaduras de direita, Pinochet no Chile e outros tantos,
na Argentina. No Brasil, quanta gente sofreu, morreu, foi perseguida aqui em
Feira de Santana, temos aí um exemplo, Sinval Galeão, um homem de bem, íntegro,
que merece todo nosso respeito, sofreu demais, Normando Leão, profissional
contábil em São Paulo, milhares de feirenses foram perseguidos durante a
ditadura militar. O que precisamos mostrar para a juventude é que o Brasil
continua sendo o país desigual de 100 anos atrás, temos que pregar igualdade
entre os homens, liberdade, democracia, não podemos abrir mão disso, temos que
lutar sempre, desistir jamais! (Hely Beltrão/Conectado News).
Foto: Dvulgação/Conectado News