Com novos em crise, venda de carro usado cresce

Enquanto o mercado de carros zero-quilômetro vive uma grave
crise, com queda de mais de 16 nas vendas no primeiro trimestre, as
concessionárias de automóveis usados sobrevivem à recessão e fecharam março em
terreno positivo, com alta de 2,3 nas vendas em unidades nos primeiros três
meses do ano. Com o orçamento mais apertado, o consumidor está atento ao fator
preço – neste quesito, os usados levam vantagem. Enquanto o valor do veículo
novo subiu 7,2 nos últimos 12 meses, em média, os usados tiveram queda de
3,2 .

Entre os usados, os chamados seminovos, com até três anos,
lideram a preferência do consumidor. As vendas cresceram 26 . Os brasileiros
que querem dar um [upgrade] em seu veículo ficam atentos a este mercado.
Segundo Mauricio Emerich, dono da revenda R1 Motors, em São Paulo, o consumidor
hoje usa muito a internet ao comprar. E, ao comparar os preços de carros zero e
seminovos, consegue perceber que a diferença é grande. Segundo dados de
mercado, após um ano de uso, o preço de um veículo cai cerca de 20 .

Na R1 Motors, um Evoque, da Land Rover, blindado e com 8 mil
km rodados, sai por R$ 220 mil. Um modelo zero-quilômetro, com os mesmos
opcionais, fica em R$ 280 mil. Já um Fox 1.0, cujo preço de tabela é de R$ 44,6
mil, pode ser encontrado em sites por cerca de R$ 36 mil após um ano de uso.

O empresário gaúcho Renan Resende da Costa, 32 anos, achou
mais vantajoso comprar um usado. Ao descobrir que seria pai, no fim do ano
passado, começou a buscar um carro mais confortável para a família.[Se fosse
comprar um novo, teria de abrir mão e pegar um modelo inferior], diz Costa.

As pesquisas na internet trouxeram o empresário até São
Paulo, onde a diferença de preço chegava a R$ 12 mil em relação a Porto Alegre.
No início de março, veio para a capital paulista e comprou um Mercedes 2012,
diretamente do proprietário, por R$ 70 mil à vista. Para levar um zero, teria de
desembolsar mais R$ 60 mil. [Até pouco tempo era muito mais fácil comprar um carro
novo, mas a situação mudou.]

Com o aquecimento no mercado de segunda mão, a relação entre
número de carros usados vendidos para cada novo está em 3,7 neste ano, a mais
alta desde 2005, quando era de 4,1 usados para cada novo, segundo a Federação
Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Para o gerente de
desenvolvimento da consultoria Jato Dynamics, Pedro Mendes, a alta dos preços
dos carros novos está levando o consumidor para a opção dos usados.

De janeiro a março, mesmo com a forte queda do mercado de
carros zero, os preços subiram 4,42 , enquanto o preço dos usados ficou estável
(com alta de 0,03 ), segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Mendes explica que, além da alta do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) em janeiro, houve aumento de insumos. [Em contrapartida, o usado manteve
o preço e acabou ficando mais atrativo.]

Juros. Apesar dos preços mais baixos, quem vai financiar o
veículo precisa prestar atenção nos juros do financiamento do usado. Segundo o
Banco Central, enquanto os juros de montadoras estão abaixo de 14 ao ano, nas
empresas especializadas em carros usados podem chegar a 55 .

A Fenauto, que representa as revendedoras de usados, afirma
que o juro do setor varia de acordo com o perfil do cliente. [A taxa diminui
conforme o valor da entrada aumenta], diz Ilidio dos Santos, presidente da
entidade (AE).

FOTO: MARCELO CAMARGO / ABR