Reajuste de combustíveis impacta inflação e BC deve revisar projeções, diz Campos Neto

O reajuste “grande” de
combustíveis anunciado nesta terça-feira pela Petrobras tem impacto sobre a
inflação e o Banco Central deve revisar suas projeções para o comportamento dos
preços a partir desse novo dado, disse nesta terça-feira o presidente do Banco
Central, Roberto Campos Neto.

Em evento promovido pela Frente
Parlamentar do Empreendedorismo, Campos Neto afirmou que o reajuste anunciado
para o diesel e a gasolina deve gerar uma elevação de 0,40 ponto percentual no
IPCA entre agosto e setembro.

Segundo ele, o reajuste da
gasolina tem impacto direto sobre o IPCA, enquanto o diesel afeta o índice
indiretamente.

“O impacto do diesel não é
direto, é indireto na cadeia, mas o impacto da gasolina é direto no IPCA.
Então, a gente provavelmente vai ter revisões (nas projeções de inflação) com o
reajuste de hoje”, afirmou.

A Petrobras anunciou um aumento
de 16,3% nos preços médios da gasolina e de 25,8% nos do diesel vendidos a
distribuidoras, a partir de quarta-feira.

Na apresentação, Campos Neto
ainda afirmou que o BC segue avaliando o comportamento da inflação de serviços,
que, segundo ele, começou a cair.

Ele voltou a dizer que a
descrença do mercado no cumprimento de metas fiscais pelo governo tem impacto
sobre a política monetária.

“Isso tem uma implicação
muito grande para a ancoragem da política monetária. Geralmente, quando você
tem o mercado não acreditando no que o governo vai fazer no fiscal, você tem
uma implicação para o equilíbrio da inflação e faz com que, na verdade, o seu
processo de queda de juro seja mais difícil e menos estável ao longo do
tempo”, disse.

Ao defender um processo de queda
nos juros com credibilidade, ele disse que no passado o BC promoveu reduções na
Selic que baixaram as taxas curtas de juros, mas acabaram provocando alta nas
taxas longas.

Campos Neto ainda reafirmou a
defesa de mudanças nas atuais regras de cartões de crédito, justificando que
esse produto está com uma função ?maior do que deveria ter? no mercado
brasileiro ao representar 40% do consumo, tendo taxas de inadimplência que
chegam a 52%.

O presidente do BC disse que não
fazer nada nessa área ?pode ser muito ruim?, mas ponderou que não pode adiantar
o que será proposto porque as medidas ainda estão em discussão.

Na última semana, ele afirmou que
as discussões sobre o assunto estavam se encaminhando para uma extinção da
modalidade de crédito rotativo, além da criação de uma tarifa para desestimular
parcelamentos sem juros no cartão de crédito.

ARGENTINA

Campos Neto ainda afirmou que a
Argentina vive hoje um momento complexo com inflação fora de controle,
argumentando que “as pessoas perderam a confiança na moeda”.

Para ele, o candidato que acabou
se saindo melhor nas primárias presidenciais da Argentina atende ao apelo da
população de cuidar da inflação. Na segunda-feira, o candidato ultraliberal
Javier Milei foi o mais votado nas primárias com suas propostas de dolarizar a
economia e eliminar o banco central do país.

Na avaliação de Campos Neto,
porém, dolarizar a economia argentina pode ser difícil diante do baixo nível
das reservas internacionais daquele país.

“É bastante difícil o ponto
inicial da dolarização porque basicamente eu vou emitir uma moeda e vou dizer
?confie que essa moeda tem o mesmo valor que o dólar?. (…) Para fazer isso e
você acreditar em mim, eu tenho que ter dólar de reserva, ou não consigo fazer
esse processo”, afirmou.

O presidente do BC afirmou ainda
que a situação de descontrole fiscal na Argentina, junto com a percepção de
falta de autonomia do banco central argentino, gerou uma inflação em espiral no
país. Para ele, o Brasil tem muito a aprender com a situação do país vizinho. Bernardo
Caram – Reuters.

Foto: © Thomson Reuters